Na manhã deste sábado (05), moradores da rua Oriental, esquina com a General Dutra, se assustaram ao acordar e se deparar com um prato de barro, que continha uma galinha morta, e ao lado havia uma garrafa de cachaça e uma vela bem no meio da rua. Esse tipo de situação é conhecido como “Despacho” na umbanda, que é a realização de oferendas depositadas em lugares como uma encruzilhada (cruzamento de estradas, ruas ou caminhos, como foi o caso), além de cruzeiro das almas, matas, rios, descampados, mares.
“Esse tipo de atividade era comum antigamente, mas isso há uns dez anos. Hoje em dia, não vemos mais esse tipo de atividade e hoje, ao acordar, ver uma cena destas, de um animal morto, na porta da minha casa é uma coisa chocante. Tenho crianças em casa e estou poupando que elas vejam a cena, porém, ninguém quer chegar no local e retirar os objetos, pois temem que algo aconteça, é lamentável”, disse ao Diário uma dona de casa, moradora da rua Oriental, que preferiu não se identificar. Outra pessoa que passava pelo local afirmou que a ação foi feita por moradores da localidade e que por isso não querem falar no assunto.
De acordo com o presidente da Acorema (Associação Corumbaense das Religiões de Matrizes Africanas do Pantanal e Região), babalorixá Zazelakum, Clemilson Pereira Medina, essa prática de realizar oferendas na área urbana não é comum, pois a Prefeitura Municipal de Corumbá já definiu que os trabalhos de umbanda sejam feitos em um local afastado da cidade, em cachoeiras.
“Fiquei surpreso ao saber que esse tipo de atividade umbandista ainda está sendo realizado na cidade, pois a ACOREMA está trabalhando ativamente para combater esta ação, já que temos o local apropriado para este tipo de trabalho. Há muito tempo não vemos essa prática ser realizada na área urbana e nem deve ser. Os Centros de Umbanda tradicionais da cidade estão filiados à instituição e sabem dessa regra. Acreditamos que isso seja um ato de religiosos novos na área e que desconhecem nossos preceitos”, apontou o babalorixá Zazelakum Medina.
Clemilson apontou que a ação pode até terminar em multa por desrespeito à população ou processo, pois se forem identificados os autores da ação, eles podem ser processados por estar colocando em risco a vida de pessoas como crianças, que podem se cortar com vidros de garrafas, as velas podem propagar fogo ou os animais deixados, podem ser pegos como alimento, gerando algum problema mais sério.
“Pedimos encarecidamente que os adeptos da umbanda, ao realizarem esse tipo de atividade, façam em locais próprios e que evitem deixar as oferendas para trás. Orientamos que ao serem realizados os trabalhos, os religiosos enterrem o animal, retirem as garrafas, os tecidos, tudo o que vai levar mais tempo para a natureza agregar”, orientou Medina.
Limpeza na Bocaina
No dia 07 de agosto deste ano, uma ação de limpeza na região da Bocaina foi realizada pela ACOREMA. A região era usada há tempos pelos adeptos destas religiões para rituais que acabam deixando “rastros” que se acumulam e significam um problema para a comunidade e o meio ambiente. No local, garrafas de vidro, potes de cerâmica, tecidos e animais mortos, acabam ficando expostos à margem da estrada. A cena chamava atenção e acabou gerando uma série de denúncias ao CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) e à Secretaria de Meio Ambiente.
O local foi limpo pelos representantes da instituição e desde a época, o presidente já chamava a atenção para que os procedimentos de oferendas fossem realizados fora da área urbana.
“A prática de liberdade para o culto religioso foi aceita, só que isso hoje, na nossa realidade, enquanto na Somália e na Etiópia, as pessoas passam fome, é doído para o religioso estar deixando animais, frutas, bebidas expostos. O meu apelo é para que os religiosos, independente de sua prática, tenham consciência de não deixar mais esses materiais ali. Se é um animal, que ele enterre porque ele se decompõe. Outra questão que vale enfatizar é que se as oferendas forem colocadas na área urbana, podem constranger evangélicos, católicos, pessoas de outras crenças que não são obrigados a se deparar com aquilo ali, que aos olhos deles, agridem, logo, pedimos a conscientização de todos”, concluiu.