O corte de R$ 50 bilhões de gastos do Orçamento Geral da União de 2011 é o início de um ciclo virtuoso de convergência das expectativas dos agentes econômicos sobre o futuro da economia brasileira. A opinião é de um dos formuladores da política econômica do governo Dilma Rousseff.

A redução de gastos produz efeitos múltiplos imediatos. O mais relevante, no curto prazo, é potencializar os efeitos contracionistas da política monetária do Banco Central destinados a combater a inflação, que ameaça fugir da meta. Com o corte, recursos que seriam aplicados no custeio da máquina pública vão fazer parte da poupança interna e aumentar o superávit primário, que, juntamente com a poupança externa (ingresso de recursos estrangeiros), vão financiar os investimentos do país.

A maior preocupação das autoridades da área econômica, neste momento, não é o financiamento do investimento, e sim o equilíbrio fiscal e o combate à inflação. Isso ajuda na percepção de risco menor, por parte dos agentes fiadores, em relação à economia brasileira, e estes passam a emprestar a taxas de juros mais baixas.

Ainda assim, a presidenta Dilma Rousseff determinou à equipe econômica que adote todas as providências para elevar os investimentos do país, hoje equivalentes a 19% do Produto Interno Bruto (PIB), para o patamar de 24,1% até 2014.

Com tal patamar de investimento, o Brasil manteria crescimento médio anual equivalente a 5,9% no período, o que contribuiria para ampliar a atual política de distribuição de renda com redução da pobreza e ampliação da classe média.
Mesmo sendo a política de distribuição de renda benéfica, na medida que aumenta o poder de compra das famílias mais pobres e as inclui no consumo, não garante a sustentabilidade desse consumo no longo prazo.

Essa política é o início do processo, no sentido de que a renda está sendo deslocada de uma parcela da população para outra, ou seja, se o segmento que recebe a renda não for incentivado a se capacitar, não haverá agregação de valor ao processo produtivo, deixando de servir de estimulo aos investimentos privados.

O ingresso de recursos externos, embora possa criar problemas de competitividade para alguns setores da economia, por valorizar excessivamente a moeda brasileira, é bem-vindo. O país tem hoje uma posição confortável em termos de balanço de pagamentos. A economia do país pode crescer com controle da inflação, tendo um déficit na conta-corrente equivalente a 2,5% do PIB de forma permanente. Mesmo que, em algum momento, esse déficit seja um pouco maior, é uma poupança indispensável para ajudar a financiar o investimento do país.

A disponibilidade de recursos no sistema bancário é importante, mas o custo do crédito é um fator fundamental na hora da tomada de decisão do investidor. Caso a inflação caia, as taxas de juros voltam a uma trajetória de queda, estimulando os tomadores de crédito de longo a prazo a investir na produção. O investidor sempre estará olhando o comportamento das taxas de juros de longo prazo.

Quando um projeto de investimento é lançado, são feitos cálculos da margem de lucro tendo em vista os custos financeiros. Quanto maiores as taxas de juros, mais elevados devem ser os lucros gerados pelo projeto. Assim um cenário de juros elevados não estimula o empresário a investir.