Formado no Rio de Janeiro, com residência de cirurgia-geral no Hospital Souza Aguiar (RJ), e vivência médica no Hospital Monte Sinai, em Nova York, nos EUA, o coordenador do Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) em Campo Grande, Dr. Mauro Ribeiro, tem uma vida toda dedicada à área de urgência e emergência médica.

Plantonista no pronto socorro da Santa Casa e do Prontomed, Ribeiro também representa o Mato Grosso do Sul no Conselho Federal de Medicina e coordena toda a parte de urgência e emergência. Como ele mesmo diz, “minha atividade, basicamente, é toda ligada a urgência e emergência e o Samu é o serviço pré-hospitalar de urgência e emergência”.

O que é o Samu?

O Samu é um programa maravilhoso, idealizado pelo Governo Federal, de implantação pelas prefeituras municipais. Não digo isso, por ser o coordenador do Samu, muito menos por ser médico do Samu. É que a importância do Samu é inquestionável, em qualquer lugar do mundo que você tenha atendimento pré-hospitalar de urgência e emergência.

O Samu é um serviço de atendimento pré-hospitalar de urgência que visa socorrer as pessoas de seus agravos da saúde levando o mais rápido possível atendimento médico àquele paciente necessitado. O que a gente faz? A gente atende o paciente dentro de suas necessidades e dali a gente faz o transporte para a unidade de saúde que ele necessitar.

Antigamente, o Corpo de Bombeiros fazia o atendimento, que faz um atendimento excelente. Mas, o Samu trouxe algo a mais. O Corpo de Bombeiros, eles são bombeiros que tem treinamento para imobilização e transporte. O Samu são pessoas da saúde, técnicos, motoristas-socorristas, enfermeiros e os médicos. Com exceção do motorista que não é da saúde, todos são, mas ele é treinado para isso.

Quais são os serviços prestados pelo Samu?

O serviço prestado pelo Samu é chegar o mais rápido possível àquele que paciente que está com agravo de saúde e prestar o melhor atendimento possível. Todo tipo de agravo, desde trauma até doenças clínicas como infarto, embolia, derrame.

Nesses dois anos que o senhor está a frente do Samu como tem sido a atuação deste serviço?

A atuação do Samu em Campo Grande tem sido muito boa, inclusive antes de eu assumir a coordenação. Antes era o médico José Eduardo Cury, que foi o grande implantador desse programa do Samu em Campo Grande. O Samu tem um pessoal excepcional. O pessoal que trabalha no Samu, tecnicamente, é excepcional. Os problemas que o Samu tem, geralmente, são coisas que não dizem respeito ao Samu. Por exemplo: superlotação dos hospitais. O Samu não tem atuação em relação à superlotação dos hospitais, mas a superlotação dos hospitais prejudica demais o atendimento do Samu. Às vezes, nos chegamos com o paciente no hospital e não tem lugar para colocar o paciente, aí nossa ambulância fica retida no hospital. Às vezes o paciente está na maca do Samu, e a ambulância fica parada porque não tem maca no hospital.

Esse problema de ambulância ficar parada por falta de maca nos hospitais acontece frequentente?

Praticamente todos os dias. Só que tem uma coisa: isso não é privilégio de Campo Grande. Isso acontece em todo o Brasil. Em todo o país está tendo esse problema de superlotação de emergência. Onde tem superlotação em emergência e tem Samu, o Samu irá pagar um preço por isso.

Podemos afirmar que a superlotação se deve por causa dos acidentes de trânsito?

O acidente de trânsito hoje no Brasil é uma epidemia, que sem a menor dúvida está matando a nossa população jovem, da faixa dos 19 aos 35 anos. Esta já é a maior causa de mortalidade, desta faixa, para pacientes do sexo masculino. É uma epidemia. Se você ficar comigo aqui na Santa Casa, você vai ver a quantidade de gente que chega aqui.

O maior número de atendimentos no Samu é de pacientes que sofreram acidentes no trânsito?

Quando você individualiza o tipo de atendimento é.

Quantas pessoas compõem a equipe do Samu? E como é formada essa equipe?

Aproximadamente 220 pessoas. Dos profissionais que trabalham diretamente no atendimento são: os médicos, os médicos intervencionistas – que são os médicos das ambulâncias, tem os médicos reguladores – que ficam na central de regulação, tem os tarms – que são as pessoas que atendem o telefone e fazem o primeiro contato com o solicitante, tem os rádio-operadores – que são as pessoas que ficam no contato do médico e do tarms para acionar a ambulância, o  motorista e tem o pessoal do administrativo – que trabalha na retaguarda.

O atendente é treinado para atender as urgências médicas?

Ninguém entra no Samu sem capacitação. Não tem como entrar no Samu sem capacitação. Todos os profissionais são altamente capacitados.

Você afirmaria que o Samu tem apenas profissionais de elite?

Não tenho a menor humildade em afirmar isso. Na verdade, dizer isso é um reconhecimento aos profissionais do Samu. Os profissionais do Samu permanentemente são capacitados. Todos eles, inclusive os médicos. Todos os anos têm curso de capacitação. Em atendimento pré-hospitalar não tenho a menor dúvida em dizer que o Samu é a elite da saúde.

Como a população em geral pode ajudar o trabalho do Samu?

O maior problema que temos no Samu, e que a população pode ajudar, é o numero de trotes de ligações. No Brasil inteiro é assim. Um número grande de trotes e isso prejudica muito o nosso trabalho. Aproximadamente 30% das chamadas são trotes. Porque apesar de termos um protocolo de perguntas que a gente faz para filtrar isso, ainda tem como ser sugestivo de trotes. E em um grande número de vezes nós mandamos ambulância, e isso prejudica o atendimento.

Há muitas reclamações em relação ao tempo de espera no SUS e também ao tempo que as pessoas esperam para a chegada das ambulâncias. Dentre os problemas que leva a isso, quais você citaria?

Fico feliz em você perguntar isso. É o seguinte, às vezes, a população não entende que o Samu é diferente do Corpo de Bombeiros, eles mandam a unidade de resgate. Não existe regulação no Corpo de Bombeiros. O Samu trabalha com o sistema de regulação. Porque se você não trabalhar com esse sistema, não tem ambulância suficiente para atender a todas as chamadas. A regulação é o seguinte, nós temos os médicos reguladores. Então toda vez que entra uma chamada no Samu ela passa por um médico que vai fazer uma série de perguntas, dentro de protocolos estabelecidos pelo ministério da saúde, para o solicitante verificar qual a gravidade daquela pessoa que está acionando o Samu. Uma vez que ele classifica o risco daquela ocorrência ele vai determinar o que vai ser feito. Se ele simplesmente vai dar uma orientação, ou se vai orientar para a pessoa ir para o hospital por meios próprios ou se vai enviar uma ambulância. O médico regulador classifica e hierarquiza o tipo de agravo à saúde que aquele paciente tem. Se for uma paciente muito grave, ele manda a ambulância avançada. Se for um paciente de gravidade média ele manda a ambulância sem médico, a ambulância básica, ou ele pode orientar simplesmente para a pessoa ser encaminhada por meios próprios ou pode ainda fazer uma orientação médica. O paciente que liga pode ter uma dor de cabeça, mas naquele momento, aquilo é a causa mais grave do mundo. É daí que vem o conflito, ele não entende o que é regulação.

Campo Grande tem número suficiente de ambulâncias do Samu para atender a população?

Campo Grande tem número suficiente, a gente trabalha com nove unidades básicas e três avançadas. Pelas portarias do Ministério da Saúde nós teríamos que ter sete básicas e duas avançadas, então está acima do recomendado. Nosso número de meios reguladores também está acima do que preconiza as portarias dos ministérios. No ano que vem, provavelmente, vamos aumentar esse quantitativo o que vai nos permitir ficar tranquilo em relação ao número de ambulâncias. O Samu trabalha com tempo-resposta. O que é tempo-resposta? É o tempo contado a partir do momento que a pessoa ligou até a chegada da ambulância. Hoje não conseguimos avaliar esse tempo-resposta porque temos um monte de ambulâncias paradas por falta de maca, de vaga, que compromete nosso tempo-resposta.