Confira: Conversa no MSN entre guarda e federal que matou PM anuncia tragédia

A operação realizada por dois policiais militares de Dourados na tarde do Dia das Mães supostamente engendrada para combater o narcotráfico resultou numa tragédia com a morte do PM Sandro Álvares Morel e lembra parte do enredo da peça teatral “A Comédia dos Erros” do inglês Willian Shakespeare. Com lances cinematográficos e em alguns momentos […]

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A operação realizada por dois policiais militares de Dourados na tarde do Dia das Mães supostamente engendrada para combater o narcotráfico resultou numa tragédia com a morte do PM Sandro Álvares Morel e lembra parte do enredo da peça teatral “A Comédia dos Erros” do inglês Willian Shakespeare.

Com lances cinematográficos e em alguns momentos com inspiração em romances policiais no estilo Agatha Cristhie, o conteúdo da conversa através do MSN a guarda municipal Zilda Aparecida Rodrigues Ramires e o policial federal Leonardo de Lima Pacheco com alto teor rocambolesco comprova que a exemplo da comédia shakespeariana os enganos e os engodos estão presentes do começo ao fim.

Zilda personagem principal desta tragicomédia acabou se transformando no pivô do enfrentamento entre os PMs e o policial federal. Quem levou a pior foi Sandro que perdeu a vida e deixou estragos irreparáveis na jovem família e consternação em toda a corporação.

O soldado José Pereira de Souza como ator coadjuvante não conduziu a operação, restando para si apenas um tiro que lhe feriu. Para o policial federal sobrou a execração pública, problemas familiares e um longo processo pela frente e até a possibilidade de ter que enfrentar um conselho de sentença.

Para entender a sucessão de mal entendidos é necessário que se conheça o teor da última conversa de MSN entre Zilda e Leonardo. Os dois deveriam estar navegando nas não tão plácidas páginas da internet em busca de divertimento ou simples prazer físico quando se encontraram num chat onde pode se escolher o tema da conversa.

Zilda com o codinome Cláudia se apresenta e pela frente encontra Leo Prequetel. Assim começam a falar amiúde sobre as agruras da solidão. A identificação mútua foi instantânea. Depois de quase quinze dias de chat Claudia e Prequetel migraram para o MSN onde tiveram a única e última conversa. Passo seguinte foi a tragédia.

Neste folhetim cibernético o que mais importa são as conversas do último domingo que começaram na internet logo depois do almoço por volta das 13h. Cláudia teclando como “Eu” conversa com Leo Prequetel e o clima erógeno esquentou talvez incentivado com a imagem de uma bela mulher que existia no lugar onde deveria estar a fotografia de Zilda.

Leo mostrava sua face de Leonardo Pacheco através de uma webcam. Leonardo abriu seu coração e falou de sua família e até chegou a mostrar para “Eu” foto da esposa e do filho. Leonardo era Leonardo no MSN, enquanto que Zilda era “eu”.

A conversa do domingo foi esquentando, esquentando e por insistência de Zilda que não aceitava “sair” com um desconhecido queria saber qual a profissão de Leo. Em tom jocoso Leonardo, conforme o advogado de defesa, Felipe Azuma, disse que seria traficante.

A partir deste momento “Eu” demonstrou muito interesse na atividade de Leo. Foi ai que começou a ter mil idéias a mente fértil da guarda municipal que se travestiu num misto de investigadora e policial e foi quando possivelmente acendeu a “luz vermelha” já que passara a levar a sério a declaração de Leo de que seria traficante.

Ao pensar que lidava com um traficante de “verdade” Zilda acionou a Polícia Militar e os erros da comédia começaram a ser desvelados. Para pegar o suposto traficante Zilda enredou um encontro sexual fazendo a conversa dar a entender que “Eu” era garota de programa e iria receber como pagamento pelos serviços sexuais uma porção de maconha correspondente ao valor de R$ 80,00.

No depoimento dado a polícia Zilda afirma textualmente “que no início entendeu que o pagamento da prática sexual seria em droga, mas posteriormente teve a certeza de que o pagamento seria em dinheiro e não em drogas”.

Por volta das 14h do domingo Zilda acionou a PM que lhe forneceu o número do celular de Sandro Morel. Meia hora depois Morel e José Pereira chegaram à casa de Zilda. Os policiais tiveram acesso à conversa no MSN. Morel gravou a integra do bate-papo num pendrive. Foi neste momento que Zilda “acertou” um encontro com o policial federal no Apartamento 31.

O instinto policialesco de Zilda falou mais alto e levando a sério o enredo ditado por Leonardo armou o encontro para o recebimento da droga como forma de pagamento do “programa sexual”, que seria uma prova, caso Leo fosse um traficante “das pesadas”.

Antes de marcar o encontro Zilda deu corda suficiente para o Federal se enforcar. Pelo teor das conversas no MSN Leo queria apenas sexo e acabou entrando “na onda” de Zilda/Cláudia/Eu.
Zilda convenceu Leo e o encontro foi marcado. O combinado é que Zilda, ao chegar ao “apê”, faria uma ligação ao celular do Federal para que o portão do condomínio fosse aberto.

Zilda subiu. Morel também. Sem mandado de prisão, o apartamento foi invadido por policial militar que fez uma abordagem abrupta. O resultado já é conhecido.

Leonardo se defendeu e mandou “bala”. Zilda correu e com o prédio alarmado chamou o outro PM. Com a tragédia consumada restou apenas dar explicações.

Leonardo chegou até a se esquivar do assédio investigativo de Zilda e negar que tinha combinado em pagar o “programa” com drogas. Numa parte da conversa Leo tira sua imagem da webcam e diz que o pagamento seria em dinheiro sem, em nenhum momento, desconfiar que a “cama-de-gato” já estava armada.

Zilda na condição de Guarda Municipal não tem prerrogativa legal para agir como agiu. Como cidadã, tem todo o direito de acionar a Polícia Militar para fazer uma denúncia contra traficantes. A ação dos PMs também não condiz com os protocolos da segurança pública e a bazófia acabou sendo feita.

Ao contrário dos contos literários, o episódio do Dia das Mães no Apartamento 31 não dá para ser recontado ou reescrito. Serve de lição para as atuais e futuras gerações de policiais.

A Peça

“A Comédia dos Erros” é a mais curta das peças de Shakespeare sendo considerada pelos pesquisadores como a sua primeira peça.

A história gira em torno da confusão causada por dois pares de gêmeos idênticos, dois dos quais com o nome Antífolo e os outros dois com o nome Dromio. Os correspondem aos enganos provocados pelas pessoas que conversam alternadamente com cada um dos gêmeos.

Conforme especialistas em literatura inglesa “A Comédia dos Erros” introduz diversas considerações sobre a condição feminina e sobre a condição servil. Passa por credores e devedores e a honra de cada um ao mesmo tempo em que se discute o papel do ciúme no casamento sempre com a participação de uma autoridade política que procura conciliar justiça e compaixão.

Em Shakespeare houve um final feliz. Na tragicomédia douradense vai acontecer o que? É só esperar os próximos capítulos deste folhetim romanesco.

Para ler a íntegra da conversa no MSN, que integra o processo, clique no link abaixo:

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