A empreiteira CGR Engenharia Ltda, citada na Operação Uragano como empresa de fachada para uma suposta sociedade entre André Puccinelli e o empreiteiro, tem seis termos aditivos em contrato de R$ 60 milhões com o Governo de Mato Grosso do Sul.

A CGR Engenharia Ltda, empreiteira apontada durante investigações da Polícia Federal como suposta empresa de fachada para uma sociedade entre o governador André Puccinelli e o deputado federal Edson Giroto, ganhou mais prazo do Governo Estadual de Mato Grosso do Sul com o sexto termo aditivo em um contrato milionário de 2009.

Em escutas telefônicas autorizadas, a Polícia Federal gravou uma conversa entre o ex-secretário de comunicação de Dourados, Eleandro Passaia e o ex-Procurador-Geral do segundo maior município de MS, Alziro Moreno.

Na escuta, a empresa, oficialmente de Carlos Gilberto Recalde, foi apontada como se fosse, na verdade, do governador André Puccinelli e do deputado federal Edson Giroto. Recalde, que chegou a ser preso pela Polícia Federal durante a Operação Uragano, negou as informações.

Desde 2006, no entanto, a empreiteira figura entre as doadoras de campanha do governador André Puccinelli. Na primeira eleição do peemedebista para o Governo de Mato Grosso do Sul, a CGR ajudou a campanha com R$ 150 mil.

“Dele e do Giroto”

Na conversa que implica o governador André Puccinelli na Operação Uragano, Passaia questiona se a CGR Engenharia seria realmente do governador André Puccinelli. Alziro responde afirmando que sim. Segundo o que ele declarou na gravação, o governador supostamente teria parte na empresa junto com o ex-secretário de obras do Estado e atual deputado federal, Edson Giroto (PMDB).

A transcrição da conversa entre Passaia, Moreno e Zé Humberto está no trecho entre as páginas 46 e 48 do volume V do inquérito policial da Polícia Federal 96-2010:

Passaia: Hum! É verdade que a CGR é do André?

Alziro: André.

Passaia: Do governador?

Zé Humberto: Dele e do Giroto.

Passaia: Giroto? E aquele Gilberto, o que que é? Testa de ferro?

Alziro: Não. É sócio.

Zé Humberto: É sócio. É sócio majoritário. Gilberto tá podre de rico. Começou com essa loja aí, a… há trinta e tantos anos atrás.

Passaia: E, caramba.

Zé Humberto: Aqui tudo é do Giroto…

Quando o escândalo da Operação Uragano estourou, no ano passado, o governador André Puccinelli se limitou a garantir à imprensa que todo o patrimônio dele está nas declarações do imposto de renda que entrega anualmente à Secretaria da Receita Federal.

Segundo informações divulgadas pela Polícia Federal, o inquérito da Operação Uragano teve desdobramentos que foram encaminhados para as instâncias cabíveis em função do foro privilegiado de envolvidos.

Aditivos milionários

Com a última alteração, publicada na quarta-feira (16), o Secretário de Obras Wilson Cabral Tavares, oficializou a prorrogação do prazo de vigência do Contrato (038/2009-PJUR) por mais 58 dias.

O valor inicial da contratação, que era de 54.420.451,88 (cinquenta e quatro milhões, quatrocentos e vinte mil, quatrocentos e cinquenta e um reais e oitenta e oito centavos) em 2009, sofreu várias alterações desde então.

O contrato que recebeu mais prazo na semana passada é um dos muitos que a CGR mantém com diversos órgãos estaduais sul-mato-grossenses. Foi assinado em fevereiro de 2009 entre Carlos Gilberto Recalde o Edson Giroto, então secretário de obras de André Puccinelli. O prazo inicial para o conjunto de obras licitadas era de 600 dias.

Porém, poucos meses depois, em julho do mesmo ano, Giroto publicou uma ‘Apostila’ ao contrato com a CGR, reajustando o valor em 10,67 %. Na época, o então secretário de Obras usou um índice publicado pelo DNIT e garantiu mais R$ 5,8 milhões para a empreiteira pelas mesmas obras licitadas cinco meses antes, segundo o extrato publicado no Diário Oficial.

O valor total da contratação passou para R$ 60.226.581,79 (sessenta milhões, duzentos e vinte e seis mil, quinhentos e oitenta e um reais e setenta e nove centavos). Mas as alterações não pararam por ai.

Em outubro de 2010, Wilson Cabral Tavares, que substituiu Giroto na Agesul e como secretário de Obras de MS, publicou o segundo termo aditivo ‘prorrogando’ o prazo de validade por mais 180 dias.

No extrato publicado não há detalhes para justificar ou explicar a manobra burocrática.

Um mês depois, novo aditamento e mais dinheiro para a CGR pela mesma obra. Em 30 de novembro de 2010, Carlos Recalde e Wilson Tavares assinaram o III Termo Aditivo, acrescentando mais R$ 382.016,89 (trezentos e oitenta e dois mil, dezesseis reais e oitenta e nove centavos).

Em abril de 2011, mais um Aditivo, o quarto, foi publicado com prorrogação de prazo. E, na sequência, apenas dois meses depois, nova alteração na vigência com o V Termo Aditivo.

O Governo do Estado de MS, por intermédio da assessoria de imprensa, afirma que todos os aditamentos no contrato foram feitos dentro dos limites legais. Por telefone, não foi possível falar com o deputado federal Edson Giroto. Já a diretoria da CGR, procurada pela reportagem para comentar as informações, ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto.