Artistas prometem vigília na noite desta terça-feira na Praça Antônio João em Dourados

Em apoio e solidariedade ao grupo de teatro Thestai artistas, militantes das redes sociais e estudantes prometem fazer vigília na praça Antônio João, em Dourados nesta terça-feira (01). O grupo teria sido abordado por ronda da Guarda Municipal enquanto ensaiava no último dia 24 de outubro.Um dos integrantes do grupo, João Rocha, publicou em sua página […]

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Em apoio e solidariedade ao grupo de teatro Thestai artistas, militantes das redes sociais e estudantes prometem fazer vigília na praça Antônio João, em Dourados nesta terça-feira (01). O grupo teria sido abordado por ronda da Guarda Municipal enquanto ensaiava no último dia 24 de outubro.Um dos integrantes do grupo, João Rocha, publicou em sua página site da rede social Facebook, texto contando como se deu a abordagem da GM. 

Segundo postou João Rocha, membro do grupo teatral, eles ensaiavam o espetáculo “Querô” na praça durante a madrugada há mais dois anos e teria sido abordado naquela segunda-feira (24) por uma ronda da GM. Segundo a publicação de João Rocha, os guardas teriam se aproximado já com as armas em punho e proibido de continuar o ensaio: “Pode fazer isso em qualquer lugar, mas, ali não. Não no dia do meu serviço”, teria dito um dos Guardas em tom irônico. “Sofremos uma censura do nosso trabalho. Em uma atitude de repressão a guarda Municipal de Dourados (…) com armas nas mãos e sem a mínina educação nos proibiram de continuar o ensaio”, disse João na rede social.

João Rocha lembra que a Praça tem um significado especial para o os artistas do município: A praça “tem marca histórica no novo movimento teatral de Dourados, o ‘Movimento de Organização de Classe Artística de Dourados’, pois a primeira reunião foi na praça, exatamente pelo fato de que aquela nova praça nos inspirava liberdade pra transformar a cultura de nossa cidade”.

O texto ensaiado pelo grupo é do ator teatral e autor de diversas peças de teatro, Plínio Marcos. As peças escritas principalmente no período da Ditadura Militar no Brasil têm como temática principal os espetáculos circenses. João Rocha lembra que Plínio foi por diversas vezes censurado e que pela abordagem da guarda se sentiu da mesma maneira.

“Gostaria de lembrar que fazer teatro em Dourados não ‘dá para comer’ pela falta de reconhecimento e incentivo por parte do pode público, que nos obriga trabalhar o dia todo e o único horário que nos podemos ensaiar é na madrugada, quero dizer, podíamos” disse Rocha em seu perfil no Facebook.

O artista continua: “Fomos proibidos de ensaiar na Praça Antônio João. A classe artística não pode deixar isso acontecer”. Chamando vários amigos da rede social, que se prontificaram a lutar ao lado do grupo, João Rocha avisa: “Temos um ensaio marcado na terça-feira na Praça Antonio João e vamos ensaiar”. Até a manhã desta terça 116 pessoas ‘confirmaram’ presença na vigília através do Facebook.

Segundo informações, os guardas responsáveis pelas abordagens ao grupo de teatro falaram que chamaram a atenção dos jovens, pois escutaram palavras de baixo calão sendo faladas aos gritos ‘a mais ou menos’ 100 metros de onde estavam. De acordo o Subcomandante da Guarda Municipal de Dourados, José Rubens Barbosa, os guardas chamaram a atenção do grupo “por estarem em frente a Igreja Matriz e pelo horário que estavam naquele local”.

“Os policiais nos relataram que quando interceptaram os jovens não sabiam que eles estavam ensaiando para uma peça teatral, e pediram que eles parassem com a gritaria, foi quando um deles tentou retrucar dizendo que ensaiavam ali desde o ano passado e até então ninguém os tinha abordado”, declarou o Subcomandante.

Querô

O grupo de estudo e teatro Theastai é formado por estudantes de Artes Cênicas da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e ensaiava na Praça Antônio João o espetáculo “Querô – uma Reportagem Maldita”, de Plínio Marcos. O romance escrito e publicado em 1976, um dos textos mais polêmicos do autor da década na 70.

João Rocha é responsável pela adaptação da história de um menino que luta pela sobrevivência nas ruas. A primeira apresentação de “Querô” aconteceu em dezembro do ano passado, durante o 29º Festival Sul-Mato-Grossense de Teatro realizado em São Gabriel do Oeste. “Querô” também foi representado nos dias 10 e 11 setembro durante o II Festival Internacional de Teatro de Dourados (FIT), aclamado pelo público e pela crítica na cidade.

Plínio Marcos imprimiu sua marca de contestação social em inúmeras peças teatrais como: “Dois Perdidos numa Noite Suja” (1966); “Navalha na Carne” (1967);, ” “O Abajur Lilás” (1969); “Madame Blavatski” (1985), dentre outras. Plínio foi também, ator, diretor e jornalista. Plínio, que entrou para o mundo do circo aos 16 anos, começou a escrever suas peças provocado pela amiga, escritora e jornalista Pagu, conhecida militante comunista, foi a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas.

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