A escolha do candidato à vice na chapa de José Serra (PSDB) na disputa pela Presidência parece ter sido traumática para DEM e PSDB. Um dia depois da indicação do deputado federal Indio da Costa (DEM-RJ) para a vaga, políticos continuavam suavizando as rusgas entre as legendas. Alguns preferiam nem tocar no assunto. Outros colocaram panos quentes e exaltaram o perfil “discreto” do candidato.

Foi o caso do próprio José Serra. Após participar de debate na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), quinta-feira pela manhã em Brasília, o candidato afirmou que não responderia a perguntas a respeito do seu companheiro de chapa e candidato a vice. E assim o fez.

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), vice-presidente da sigla e um dos que mais brigou para que o DEM indicasse um postulante ao cargo, defende que o vice deve ter “um perfil mais discreto”. O importante, segundo ele, é acabar com “constrangimento que foi criado”.

Quinta-feira, circulava uma curiosa expressão para definir o rápido crescimento político de Indio. Ele teria dado o “golpe do baú do tempo”. Isso porque o prazo para escolha do vice foi se esgotando, e os nomes mais fortes da legenda não toparam a empreitada.

Ronaldo Caiado assumiu que a sigla estava sem melhores opções:

– Quem nós poderíamos indicar? – indagou.

E se…

Um vice-presidente sempre conta com a possibilidade de um dia assumir o posto de chefe da Nação. Mas, apesar disso, muita gente prefere nem ventilar essa possibilidade.

Quando questionado sobre a chance de, caso Serra seja eleito, algum dia, Indio ter de se tornar presidente, o deputado tucano Arnaldo Madeira (SP) afirma que o momento é de “pensar na campanha”.

Muitos interpretam como “falta de responsabilidade” a escolha do parlamentar.

O colunista do JB Mauro Santayana trouxe a questão ao debate quinta-feira: “O candidato à Vice-Presidência terá que ser uma pessoa preparada para, em caso de vacância, ocupar o cargo com a mesma respeitabilidade e competência do titular”.

Além disso, tucanos cariocas já ameaçam retirar o apoio a chapa justamente por conta de Indio. O motivo foi o envolvimento do nome dele na CPI da Merenda, na Câmara Municipal do Rio.

Outros avaliam que grande vencedor foi Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente do DEM. Ao invés de disputar votos com Indio para a Câmara Federal, Maia teria conseguido despachar a concorrência.

O cientista político Davi Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), acredita que, na verdade, o objetivo seria buscar alguém que não apagasse a imagem de Serra:

– Mas, ele (Indio) não tem ficha tão limpa assim.