A Polícia Civil mineira informou nesta sexta-feira, 2, que roupas femininas ou vestígios delas encontradas no sítio do goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes, estão sendo reconhecidas por testemunhas como pertencentes a Eliza Samudio.

Durante a perícia realizada no início da semana no imóvel localizado no condomínio Turmalina, em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte, foram recolhidas também fraldas e uma passagem aérea. Bruno é o principal suspeito no inquérito que apura o desaparecimento da jovem de 25 anos, com quem teria um filho de 4 meses, fruto de uma relação extraconjugal. O goleiro nega envolvimento no caso.

Oficialmente, a polícia informa que as evidências de que a jovem esteve no local foram colhidas na perícia e com base no depoimento de uma testemunha – que supostamente trabalha em residência vizinha ao sítio – que afirmou ter visto Eliza na área da piscina do sítio junto com Bruno e outros dois amigos.

Os responsáveis pelo inquérito trabalham com a hipótese de que a jovem tenha sido assassinada, mas ainda buscam provas do suposto crime. A denúncia dizia que ela teria sido espancada e suas roupas queimadas. O delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigação, disse que Bruno poderá ser convocado em breve para prestar depoimento. “Este momento está próximo.”

A assessoria de imprensa da Polícia Civil não confirmou a informação de que o administrador do sítio do goleiro do Flamengo tenha admitido a presença de Eliza na propriedade do jogador. Elenilson Vitor da Silva prestou depoimento que avançou pela madrugada de ontem.

No dia anterior ele havia registrado queixa de um furto no sítio. No primeiro depoimento que concedeu, Elenilson, a exemplo de outros empregados ou pessoas próximas a Bruno, afirmou que não tinha visto Eliza no local.

Após cerca de cinco horas de interrogatório, o administrador deixou o Departamento de Investigações com o rosto coberto, sem dar declarações. A delegada Alessandra Wilke considerou que o novo depoimento acrescentou elementos importantes ao inquérito, mas evita dar detalhes.

Conforme depoimentos, o goleiro esteve em seu sítio do dia 6 ao dia 10 do mês passado. Bruno alega que não vê Eliza há cerca de dois meses. A jovem cobrava dele na Justiça o reconhecimento da paternidade do filho.

Ligações. Os delegados responsáveis pelo inquérito tentam preservar as investigações, mantendo informações sob sigilo. As ligações feitas por Eliza no período investigado, entre os dias 04 e 10 de junho, estão sendo mapeadas e confrontadas com depoimentos prestados pelos suspeitos e testemunhas. A Justiça mantém sob segredo informações sobre o pedido de quebra de sigilo telefônico em relação a Bruno e outros suspeitos.

Entre os investigados está um suposto traficante de Ribeirão das Neves, também na região metropolitana da capital mineira. Conforme versão de uma testemunha, ele teria recebido R$ 70 mil para desaparecer com o corpo da jovem.

O Instituto de Criminalística já confirmou a presença de sangue na caminhonete Range Rover do goleiro. O próximo passo é saber se o sangue é mesmo humano. Neste caso, um exame de DNA poderá confirmar se seriam da ex-amante de Bruno.

Outro carro do jogador, um veículo New Beetle, que estava no Rio de Janeiro, também deverá ser periciado. O veículo teria sido utilizado por Luiz Henrique Ferreira Romão, mais conhecido como Macarrão, espécie de braço-direito do goleiro e um dos principais suspeitos. Macarrão foi apontado pelo próprio Bruno como o responsável por levar o levar o bebê para o sítio – no dia 07 de junho, segundo depoimentos coletados.

A polícia tem evidências que depois de o sumiço de Eliza vir à tona, Macarrão teria ordenado que a criança fosse escondida. O bebê foi localizado por policiais em uma casa no bairro Liberdade, em Contagem. Na ocasião, a mulher do goleiro, Dayane Souza, de 23 anos, foi presa em flagrante por subtração de incapaz. Ela responde em liberdade.

Premeditação. “As maiores evidências partem das contradições apresentadas pelo próprio suspeito”, avaliou hoje o advogado Jader Marques, que representa o arquiteto Luiz Carlos Samudio, pai de Eliza.

Segundo ele, a investigação sobre o sumiço da jovem não deve descartar a hipótese de crime premeditado. “Um dos caminhos que pode ser levantado é esse (de crime premeditado). Como já era uma situação esperada por ele (Bruno) e planejada, o fato de não encontrar o cadáver pode ser parte do plano em geral”, afirmou

Denúncias. Marques, que possui escritório em Porto Alegre, deverá embarcar no domingo para a capital mineira. Ele pretende tomar ciência dos depoimentos colhidos até o momento. Cerca de 22 pessoas já foram ouvidas.

O pai de Eliza, por meio do advogado, oferece uma recompensa de R$ 5 mil a quem apresentar informações que contribuam com a investigação. O próprio Marques, porém, não tem certeza da eficácia da medida. “A gente tem de tentar movimentar a turma aí. Dizem que tem gente aí capaz de dar essa ajuda e não está querendo se meter.”

Desde a divulgação do caso na mídia, pelo menos 42 ligações consideradas relevantes foram recebidas pelo serviço disque-denúncia (telefone 181) da polícia mineira.