O crescimento expressivo das importações em 2010, fruto do forte ritmo de expansão da economia brasileira e do dólar barato, contribuiu para a deterioração de 43,2% no superávit da balança comercial no primeiro semestre deste ano.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o saldo comercial positivo (exportações menos importações) somou US$ 7,88 bilhões nos seis primeiros meses deste ano, contra US$ 13,9 bilhões em igual período de 2009.

De acordo com dados do governo federal, o superávit comercial registrado no primeiro semestre deste ano é o mais baixo para este período desde 2002 – quando o superávit totalizou US$ 2,58 bilhões. Ou seja, é o menor saldo, para os seis primeiros meses de um ano, de ambos os mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“As importações, que caíram em 2009 por conta da crise financeira, vêm crescendo em um ritmo muito forte e devem bater recorde neste ano [somando US$ 190 bilhões] por conta do crescimento econômico e do real forte. Enquanto isso, as exportações ainda não se recuperaram totalmente, principalmente por conta das incertezas no cenário externo”, avaliou o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

Exportações e importações

No primeiro semestre, as exportações brasileiras somaram US$ 89,18 bilhões, com média diária de US$ 725 milhões, enquanto que as compras do exterior totalizaram US$ 81,3 bilhões, com média de US$ 661 milhões por dia útil. Na comparação com o mesmo período do ano passado, as exportações cresceram 26,5%, e as importações avançaram 43,9%.

O que é?

A balança é um dos componentes das contas externas brasileiras. Devido também ao fraco resultado das transações comerciais, a conta corrente, formada pela balança comercial, pelos serviços e pelas rendas, deve registrar em 2010, segundo o BC, um déficit de US$ 49 bilhões – o maior da história.

Com isso, o Brasil vai passar a depender de aplicações financeiras (entrada de recursos no país para bolsas de valores e renda fixa) para cobrir o rombo das contas externas, uma vez que os investimentos estrangeiros diretos (destinados à produção) devem somar US$ 38 bilhões neste ano, de acordo com estimativa da autoridade monetária.

Aplicações financeiras são consideradas capital mais “volátil” (pois podem deixar rapidamente o país em caso de turbulências) pelos economistas. Entretanto, especialistas lembram que o Brasil possui mais de US$ 250 bilhões em reservas internacionais em caixa – fator que confere mais tranquilidade para as contas externas brasileiras.

Mês a mês

Apesar da forte queda de 43,2% no superávit comercial no primeiro semestre deste ano, o saldo vem se recuperando gradualmente.

Em janeiro, foi registrado um déficit (com importações mairoes do que as vendas externas) de US$ 175 milhões. Em fevereiro e março, respectivamente, o superávit somou US$ 391 milhões e US$ 668 milhões. Em abril, com o início das vendas da safra brasileira, o saldo positivo subiu para US$ 1,28 bilhão, avançando para US$ 3,44 bilhões em maio.

No mês passado, o superávit da balança totalizou US$ 2,27 bilhões. Mesmo registrando superávit, o saldo positivo registrou queda frente ao mesmo mês de 2009, quando foi registrado um superávit de US$ 4,6 bilhões. Nesta comparação, o recuo foi de 50,5%.

Previsões para 2010 e 2011

Os economistas de instituições financeiras acreditam que, com o forte crescimento da economia e com o dólar barato, a balança comercial deve ter um superávit de US$ 15,3 bilhões neste ano. Para a CNI, o saldo positivo será menor ainda: de US$ 10 bilhões.

No ano passado, o superávit comercial revisado somou US$ 25,34 bilhões, com um crescimento de 1,5% sobre o superávit registrado em 2008 (+US$ 24,95 bilhões). Para 2011, porém, a estimativa dos economistas dos bancos é de um superávit comercial menor ainda, de US$ 7 bihões.