Ao apresentar as novas estratégias de combate à dengue para este ano, as autoridades de saúde de Campo Grande relataram, durante entrevista coletiva na Secretaria de Saúde, um quadro preocupante em relação à doença. O mosquito transmissor, Aedes Aegypti, tornou-se mais resistente a baixas temperaturas, fato que explica o aparecimento da doença em pleno inverno.

Conforme as autoridades, antes o mosquito não sobrevivia a temperaturas abaixo de 19º C. Agora, ele vive a 14ºC. Estudos já comprovaram tal adaptação do vetor a novas estações do ano.

No inverno, a expectativa é de que o chamado Lira (Levantamento de Índice Rápido de Infestação do Aedes Aegypti) seja baixo, mas, em Campo Grande, os índices estão acima do esperado devido à resistência do mosquito.

O secretário de Saúde, Leandro Mazina, e sua equipe anunciaram sete bairros onde a situação é considerada crítica, todos na área nobre. São eles: Cruzeiro, Bela Vista, Vila Carvalho, Itanhangá Park, Vila Glória, São Bento e Monte Líbano. Nestes locais, foram constatados 1,5 foco da dengue a cada 100 imóveis, quando índice de infestação considerado sob controle pelo Ministério da Saúde é de 1 foco a cada 100 imóveis.

Conforme a Diretora de Assistência em Saúde, Ana Paula Lima Resende, as pessoas de maior poder aquisitivo dificultam o acesso dos agentes às residências. “Eles acham que estão imunes”, diz.

O novo Código Sanitário aprovado no ano passado prevê multa de R$ 100 a R$ 15 mil para o proprietário que deixar água parada. Quem for flagrado nesta situação será alvo de auto de infração. A pessoa terá prazo de 15 dias para a defesa.

Neste ano, uma novidade que ajudará no combate à dengue é a implantação da CJC (Coordenadoria de Julgamentos e Consultas) que está em fase de estruturação.

A CJC vai julgar os casos de favorecimento à proliferação do mosquito da dengue que podem acabar em multas aplicadas conforme a gravidade do caso. Contudo, a prefeitura não quer mais deixar o combate à dengue apenas no âmbito administrativo e poderá acionar a Decat (Delegacia Especializada de representação a Crimes Ambientais e Proteção ao Turista), transformando o combate à dengue em um caso de polícia.

Além disso, a CJC poderá acionar a Justiça no caso moradores ou empresários impedirem a entrada dos agentes de combate à doença no recinto.

Conforme o secretário de saúde, o foco desta campanha será a mobilização social contra a doença. Assim foram traçadas as seguintes estratégias: descentralização/territorialização das ações da dengue na atenção básica; bloqueio de transmissão de casos; capacitação da Remus (Rede Municipal de Saúde) e intensificação das ações de vigilância sanitária e ambiental.

Uma das ações destacadas pelas autoridades em saúde é a integração dos agentes de saúde epidemiológicos e agentes comunitários. Daqui pra frente, eles vão interagir e trocar informações com mais frequência.

Números preocupantes

As autoridades da área de saúde da Capital demonstraram preocupação com o número de casos da doença registrados neste ano em relação ao ano passado.

O número de notificações explodiu. Durante os 12 meses de 2009 foram notificados 5.179 casos, confirmando 2.036. Entre janeiro e julho de 2010, foram notificados 38.822 casos e confirmados 11.903.

O número de mortes também disparou. Foram duas no ano passado inteiro. E neste ano, até agora, já foram confirmadas 22.