Presos na operação Jaguar eram investigados há pelo menos um ano; ‘renomado’ caçador de onça no Brasil, que colaborava com o Ibama, integrava a organização de predadores
A quadrilha capturada ontem pela Polícia Federal durante a operação Jaguar cobrava dos turistas caçadores ao menos R$ 1,5 mil, algo em torno de R$ 2,6 mil, por cada onça abatida em fazendas situadas na região pantaneira de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e ainda no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. A soma fixada por animal morto não incluía o transporte, que às vezes exigia deslocamentos feitos por avião.
A investigação PF que motivou a operação Jaguar e que contou com a participação dos servidores do Ibama e das policiais dos três estados, imposta nos estados, teve início há pelo menos um ano no município de Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia.
Na investida policial, foram detidos seis turistas que se preparavam para um safári em uma propriedade particular, em Sinop (MT), entre os quais quatro argentino, um paraguaio e um policial militar de Mato Grosso. Da quadrilha, foram presas quatro pessoas: Eliseu Augusto Sicoli, líder da quadrilha, e Marco Antônio Moraes de Melo, que era um dos guias dos caçadores, foram presos junto com o grupo de turistas em Sinop, as outras duas prisões de membros da quadrilha ocorreram em Miranda.
Ainda faltam três membros serem presos, dentre eles o de Tonho da Onça, pai de Marco Melo, e um especialista em caça de felinos. Segundo a PF, ele prestava serviços a uma programa do Ibama conhecido como Pró-Carnívoro, setor do órgão criado justamente para preservar as onças.
Assim Tonho é citado no comunicado da PF que narra detalhes da operação Jaguar: “O Caçador de Onça” [Tonho], que em algumas ocasiões auxiliou o Ibama, se diz “regenerado da fama de maior caçador de onças do Brasil, convertido agora a trabalhar pela preservação da espécie”. Tonho auxiliava os turistas na caça às onças.
Já Eliseu Augusto Sicoli, líder da quadrilha, tinha tinha a missão em Cascavel (PR) de atrair os turistas, negociar os valores por telefone e segui-los até as fazendas onde viviam as espécies.
Em depoimento à PF, o dentista disse que somente no ano passado, participou de safáris que resultaram na matança de 29 onças das espécies pintada e parda.
Ação da quadrilha
De acordo com a PF, os turistas atraídos pela caça predatória ingressavam no Pantanal por meio de aviões e equipamento com modernas e sofisticadas armas.
Ainda segundo a PF, a quadrilha fazia registros fotográficos dos abates e destruía as carcaças. No ataque às onças, os caçadores recorriam aos fazendeiros que emprestavam seus cães acostumados a farejar os animais.
Da fazenda, o bicho era levado para Curitiba, onde mora um membro da quadrilha, especialista em taxidermia, função que empalha os animais.
A PF não descarta a possibilidade de o grupo ter participado de safáris na África, introduzindo no Brasil, peles e partes de animais caçados naquele continente, inclusive no tráfico de marfim, cuja comercialização é proibida internacionalmente.
Pena
Os membros da quadrilha serão indiciados por Lei de Crimes Ambientais e por porte de arma de fogos, cujas penas somadas pode resultar em sete anos de prisão.