Ângelo Arruda rebate sindicato imobiliário e diz que Plano Diretor e Lei do Uso do Solo têm que ser respeitados

O arquiteto e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Ângelo Arruda, defendeu hoje durante audiência pública na Câmara Municipal a paralisação de todas as obras em andamento na cidade. Segundo ele, a tragédia que aconteceu no último sábado (27) sinaliza que o Plano Diretor e a Lei do Uso do Solo precisam ser revistos, respeitados para que a cidade cresça ordenadamente.

“A cidade tem que parar por 6 meses, não pode tramitar nada neste período. O prefeito tem que convocar o setor técnico e contratar pessoas e solucionar o problema”, diz Arruda.

Ele rebateu o presidente do Secovi (Sindicato da Habitação), Marcos Augusto Neto, que culpou a Prefeitura de Campo Grande pelas conseqüências de um problema, segundo ele, diretamente ligado às obras públicas malfeitas.

“Ele [presidente do Secovi] disse que os empreendimentos na margem do Prosa são pontuais e não são os problemas. Ora é preciso rediscutir à luz de outra situação porque ele defende uma entidade que representa todo o setor imobiliário”, rebate o professor de Arquitetura da UFMS.

Arruda elenca três causas da erosão no leito do córrego Prosa. Primeiro, a construção desenfreada de prédios na margem do manancial, na região do shopping Campo Grande. Segundo, a falta de fiscalização dos imóveis que têm que deixar 12,5% da área sem construção, ou seja, no chão batido para a absorção da água pelo solo. Por último, o excesso de pavimentação sem drenagem suficiente para o escoamento da água.

Sobre a canalização dos córregos, como saída apontada pelo Secovi, Arruda rebate e diz que a obra é cara demais e a água embaixo do asfalto pode explodir e tornar o solo fofo e ainda mais frágil.

“Seria necessário para a canalização no mínimo U$ 1 bilhão para canalizar o Prosa e o Segredo, ou seja, mais 4 administrações. A conta ficaria cara demais para a população”, explica.

Falta fiscalização

Segundo a moradora do Residencial Europa, na Rua Ruy Barbosa, perto da Avenida Fernando Corrêa, por onde passa o córrego Prosa, Ruth Arruda, não há na área construída espaço reservado para o escoamento da chuva. “No meu prédio não tem os 12,5% de área para permeabilização”, reclama.

Já a moradora, que há 30 anos reside no trecho de continuação da Avenida Ricardo Brandão, na Fernando Corrêa, ao lado da churrascaria Gaúcho Gastão, a dentista Marilene Palhares, a Promotoria do Meio Ambiente tem que agir rapidamente.

Ela disse em audiência pública que ficou estarrecida quando comparou o montante anunciado na placa [obra de R$ 45 milhões] com o serviço feito no córrego Prosa. “Colocaram saquinhos de terra na parede do córrego e utilizaram mão de obra barata. A cada época de chuva, a terra descia e tudo desmoronava. Dizer que temos que mudar a Lei do Uso do Solo é suficiente? Essa enchente aconteceu perto do maior parque urbano da América Latina. Temos que rever e solicitar ao Ministério Público onde foram empregados esses R$ 45 milhões”, disse a moradora do Itanhangá Parque.

Marilene Palhares acredita que a enchente no córrego Vendas e também no Prosa resulta da falta de tubulação suficiente. Ela responsabiliza o poder público pela falta de escoamento da chuva e defende como medida urgencial a abertura de novas tubulações no trajeto do córrego Prosa.

“Antigamente a gente ouvia falar de enchente só na região do Guanandi. Em 1994 me lembro de um guarda que foi arrastado pela enchente e morto.Será que é a mudança climática a causa disso tudo? “, completa.