Produtores de soja enfrentam “La Nina” no Centro-Oeste

A demora no estabelecimento regular das chuvas está atrasando o plantio da safra de soja 2010/2011 na região Centro-Oeste, o que pode significar uma colheita menor e também a demora para o produto da nova safra chegar ao mercado. Além disso, o atraso do plantio da soja poderá provocar consequências para a segunda safra de […]

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A demora no estabelecimento regular das chuvas está atrasando o plantio da safra de soja 2010/2011 na região Centro-Oeste, o que pode significar uma colheita menor e também a demora para o produto da nova safra chegar ao mercado. Além disso, o atraso do plantio da soja poderá provocar consequências para a segunda safra de milho, com a redução da área plantada com essa cultura.

De acordo com os engenheiros agrônomos Sebastião Pedro da Silva Neto e Fernando Antonio Macena da Silva, pesquisadores da Embrapa Cerrados (Planaltina – DF), a demora na regularização das chuvas este ano é reflexo do fenômeno “La Nina”, que se caracteriza pelo resfriamento das águas na região do Pacífico Equatorial e favorece a ocorrência de chuvas acima da média no Norte e Nordeste e déficit pluviométrico no Sul do Brasil.

“O plantio de soja está com 20 pontos percentuais de atraso no Estado de Mato Grosso, que é o maior produtor de soja do Brasil”, destaca Silva Neto. Segundo ele, até o fim de outubro o plantio havia atingido 31,1% da área total de 6,24 milhões/ha previstos para a safra 2010/2011, enquanto no mesmo período do ano passado havia atingido 51,1% do total de 6,20 milhões/ha. Os dados são do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Macena explica que o plantio de soja precoce no Centro-Oeste já está prejudicado, o que fará com que a nova safra de soja proveniente do Brasil demore mais a entrar no mercado mundial. “Com isso os consumidores asiáticos, principalmente a China, ficarão mais dependentes da safra norte-americana que está sendo colhida”, destaca o pesquisador.

Cuidados – Para não perder a melhor data de plantio, os agricultores se arriscam a plantar mesmo que o solo ainda não tenha recebido a quantidade suficiente de chuva, afirma Silva Neto. Por isso, segundo ele, é preciso adotar cuidados adicionais. “Para enfrentar a escassez hídrica em algumas regiões, é recomendável o tratamento de sementes com fungicidas, o que permite o melhor estabelecimento da população de plantas.”

Além disso, ressalta Macena, podem-se alternar épocas de plantio com cultivares de diferentes grupos de maturidade. Ele recomenda que o produtor inicie o plantio com sojas precoces, continue com cultivares de ciclo médio e gradativamente até terminar com sojas de ciclo tardio. “Isso evita que toda a lavoura entre no período de floração na mesma época e fique vulnerável a longos períodos de estiagem em fases críticas da cultura.”

As cultivares de soja da Embrapa mais comercializadas pela rede de licenciados e parceiros da Embrapa Transferência de Tecnologia (Brasília – DF) em Mato Grosso foram a BRSMT Pintado e a BRS Jiripoca (convencionais); e a BRS Valiosa RR e BRS Favorita RR (transgênicas). As duas últimas também foram as preferidas pelos produtores de Goiás. Em Mato Grosso do Sul, a preferência ficou com as convencionais BRS 239 e BRS 285 e com as transgênicas BRS 245RR, BRS 246RR, BRS 291RR e BRS 292RR. Para o próximo ano, a expectativa é com o lançamento das cultivares BRS 318RR, BRS 319RR e BRS 320, que serão ofertadas a partir da safra 2011/2012.

Mercado – Para Silva Neto e Macena, os produtores do Centro-Oeste devem planejar suas vendas de modo a aproveitar as altas de preços em função das incertezas climáticas provocadas por “La Niña”. Uma estratégia interessante pode ser a realização de vendas antecipadas, aproveitando os picos de preço que deverão ocorrer ao longo da safra 2010/2011 e deixando uma parte da soja para vender após a colheita. Isso porque, se as incertezas climáticas se confirmarem, os preços podem subir ainda mais no primeiro semestre de 2011.

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