A presidente do Chile, Michelle Bachelet, condenou nesta terça-feira os saques e violência registrados nas áreas mais afetadas pelo terremoto do último sábado (27) e afirmou que os criminosos “receberão todo o rigor da lei”. O tremor de magnitude 8,8, um dos piores do Chile e do mundo, deixou ao menos 723 mortos, mais de 500 feridos e 19 desaparecidos, segundo último balanço do governo.

Bachelet se reuniu nesta manhã com os comandantes das Forças Armadas para coordenar o envio de ajuda às zonas mais afetadas pelo terremoto, no centro-sul do país.

“Nosso objetivo é levar ajuda às pessoas e enfrentar a emergência nas zonas devastadas, quem não entender isso, vai receber todo o rigor que a lei contempla para estas ações delinquentes que não estamos dispostos a tolerar”, disse a presidente, citada pela imprensa chilena, em referência aos saques e atos de vandalismo.

A presidente pediu ainda a compreensão dos chilenos, já que “nunca antes na história do Chile” houve um terremoto tão devastador.

“O que nos preocupa é levar segurança e tranquilidade à população. Entendemos perfeitamente as angústias e as necessidades das pessoas, mas sabemos perfeitamente que há ações delinquentes de pequenos grupos que estão provocando enormes danos materiais. Isso não vamos aceitar”, disse.

Bachelet citou especificamente o incêndio criminoso de uma loja de departamentos e de um supermercado em Concepción, epicentro da tragédia. Uma pessoa envolta pelas chamas foi resgatada pelos bombeiros no interior da loja, situada em uma zona comercial do centro da cidade.

“Não é tolerável que os bombeiros, que hoje estão cumprindo tarefas importantes de resgate em Concepción, tenham tido que destinar recursos a apagar um incêndio em uma loja, ainda mais usar um, recurso tão valioso como a água”, disse Bachelet, em tom duro.

 A presidente explicou ainda que o estado de catástrofe permite alocar todos os efetivos das Forças Armadas nas regiões de Maule e Biobío para reforçar o controle da ordem pública, segurança e trabalhar na entrega de ajuda humanitária.

Ao todo, segundo o jornal “El Mercurio”, existem 11.850 militares do Exército e outros 2.131 da Armada nas regiões mais afetadas pelo terremoto. Eles contam ainda com 50 aeronaves que transportam ajuda.

“Provavelmente as pessoas sempre sentirão que poderiam ter feitos as coisas de maneira melhor, mas a verdade é que, dada a extensão [do terremoto], sempre vai ser insuficiente”, disse Bachelet, lembrando que o conservador presidente eleito, Sebastián Piñera, terá um grande desafio a frente.

Piñera pediu nesta segunda-feira que Bachelet acabe com os saques e atos de pilhagem na região afetada pelo terremoto e que chamou de inaceitáveis.

 “Restabelecer a ordem pública é uma necessidade urgente. Para isso, é preciso utilizar todos os meios à nossa disposição”, declarou Piñera, que assume a Presidência no dia 11 de março com a tarefa de coordenar a reconstrução das áreas afetadas.

Violência

Esporádicos a princípio, os saques se intensificaram e ficaram mais violentos nas últimas horas, apesar do toque de recolher e do reforço do patrulhamento pelas tropas chilenas nas regiões mais atingidas pelo terremoto.

A violência aumenta os temores da população, já angustiada com a falta de alimentos e a situação de abandono em várias localidades.

Em Concepción, 500 km ao sul da capital e epicentro da tragédia, a situação era crítica: ainda não foi implementado um canal de distribuição de alimentos e, apesar da forte presença militar nas ruas, os saques prosseguiam.

No domingo, um homem morreu baleado por um grupo que tentava assaltar sua casa na periferia de Concepción, em meio ao toque de recolher.

A polícia identificou o homem como Romeo Alexis González Martínez, 22, morador de Chiguayante, na periferia da cidade de Concepción, informa o jornal chileno ‘La Tercera’.

A violência também foi registradas em outras cidades, como na localidade costeira de Dichato, onde moradores denunciaram saques cometidos por pessoas vindas de outras regiões.

O governo chegou a estender o toque de recolher para outras três cidades: Talca, Cauquenes e Constitución.