O presidente afastado do Banco Central da Argentina, Martín Redrado, renunciou nesta sexta-feira ao cargo, em meio a uma crise institucional que o opôs ao governo da presidente Cristina Kirchner.

“Há instantes renunciei à presidência do Banco Central”, afirmou Redrado nesta noite, em uma entrevista coletiva convocada pouco antes.

A decisão foi anunciada horas depois que uma comissão do Congresso anunciou que se pronunciaria na próxima terça-feira sobre a remoção de Redrado da presidência do BC, decretada pela presidente depois que ele se negou a transferir US$ 6,569 bilhões das reservas do país para formar um fundo destinado a pagar parte da dívida argentina em 2010.

A demissão, em 7 de janeiro, causou uma crise no país, depois que a Justiça a reverteu, alegando que o BC é autônomo. Outra decisão judicial colocou a decisão nas mãos no Congresso e deixou Redrado afastado, enquanto o banco é conduzido formalmente por seu vice-presidente, Miguel Pesce.

No domingo, a polícia impediu Redrado de entrar em seu gabinete, e a Justiça mantém bloqueada a transferência de reservas ao governo pelo BC, à espera da manifestação do Congresso.

O governo argentino prevê apresentar nas próximas semanas um plano para normalizar a dívida do país em mora, no valor de US$ 20 bilhões. Nesta quinta-feira, governo tinha voltado a defender a criação do Fundo do Bicentenário e negou que os recursos possam ser utilizados para cobrir os déficits das Províncias, como alegava a oposição.

“Está claríssimo que a única utilização desses fundos é o cancelamento dos vencimentos [da dívida] de 2010”, assegurou na quinta-feira o ministro da Economia Amado Boudou, em declarações feitas a rádios locais.

Apesar disso, alguns analistas consideram que o governo poderá apelar para esse fundo para financiar altos níveis de gastos públicos.

O governo argumenta que é preferível usar reservas do Banco Central (48 bilhões no total) do que se endividar a taxas superiores a 14% nos mercados financeiros internacionais, devido ao fato de a Argentina ainda não ter saído totalmente do calote declarado em 2001.