Pela legislação vigente, uma vez confirmado candidato nas convenções, o comunicador deve deixar o posto sob pena de ser punido com a perda de registro na Justiça Eleitoral

O último dia para a realização das convenções partidárias foi ontem [30 de junho] e também data final para políticos que pretendem concorrer nas eleições de outubro deixarem programas de rádio e televisão. Pela legislação vigente, uma vez confirmado candidato nas convenções, o comunicador deve deixar o posto sob pena de ser punido com a perda de registro na Justiça Eleitoral. Já as emissoras que desrespeitarem a lei podem ser multadas.

Nomes conhecidos deixaram suas funções de apresentador e comentarista para disputar as eleições deste ano. A obrigatoriedade de se desvincular dos veículos de comunicação é assunto polêmico no meio político. Tanto que parlamentares ouvidos pelo Midiamax reclamaram da regra.

Um dos mais populares políticos-apresentadores de MS, o deputado estadual Maurício Picarelli (PMDB) deixou seu programa ‘Picarelli com Você’ na TV MS, afiliada da Record e também um programa de rádio na FM Cidade 97 para se dedicar à campanha. Ele que cumpre mandato como deputado estadual desde 1987 busca a reeleição.

Picarelli que é jornalista reclama de ter que passar três longe de sua atividade profissional e alega prejuízos. “Trata-se do meu trabalho. São três meses sem receber salário, perdendo dinheiro e patrocinadores”, diz o deputado que diz que continuará contando apenas com seu salário como deputado estadual que é de cerca de R$ 12 mil.

Enquanto está fora da TV quem comanda o programa é a esposa dele, a vereadora por Campo Grande Magali Picarelli (PMDB).

Legisladores entendem que comunicadores de rádio e TV levam vantagem sobre os demais candidatos se permanecerem na mídia. Mas, Picarelli discorda e vê injustiça na regra. Picarelli cita que em nenhuma outra categoria profissional se exige que o trabalhador deixe sua função, portanto, o trabalho dos comunicadores deveria ser respeitado.

Radialista há 34 anos, o deputado federal Marçal Filho (PMDB) pensa da mesma forma que Maurício Picarelli. Na sexta-feira passada, ele despediu-se dos ouvintes programa na Rádio 94 FM, em Dourados. “Sou radialista há mais de 30 anos e iguais a mim existem inúmeros profissionais de rádio e TV por todo o Brasil que tiram o sustento da família, através da profissão”, argumenta.

Na opinião de Marçal Filho, a Lei deveria diferenciar o profissional radialista que entrou para a política, daqueles políticos que compram espaços em rádios e emissoras de TV para promoverem seu nome e imagem.

Campeão de votos nas eleições municipais de 2008, o vereador por Campo Grande, Alcides Bernal (PP) quer concorrer a uma vaga na Assembleia Legislativa. Por isso, despediu-se ontem, data da convenção de seu partido, de seus programas de rádio (Refazenda FM Cidade) e de televisão (Balanço Geral na MS Record).

Bernal classifica tal regra como injusta. “Eu acho que esta norma é, no mínimo, questionável do ponto de vista constitucional. Todo profissional tem de trabalhar para manter sua família”, avalia o parlamentar.

Para o vereador, a lei deveria apenas proibir que o apresentador usasse os programas para fazer campanha ou promoção pessoal e não afastá-lo de seu trabalho. “Lamentavelmente, há um tratamento desigual em relação às outras profissões. O médico continua clinicando e atendendo seus pacientes. Outro exemplo são os pastores evangélicos que continuam pastoreando, reunindo grandes grupos de pessoas nas igrejas e isso não é proibido”, cita.

Bernal também discorda do argumento usado por legisladores segundo o qual quem está na mídia tem vantagens eleitorais. “A exposição em veículos de comunicação não é garantia de que você será eleito. Acho que hoje, a população sabe discernir as coisas, tanto que tivemos casos de apresentadores conhecidos que não conseguiram votos suficientes para se eleger”, exemplifica.

O único a discordar dos demais candidatos apresentadores é o deputado estadual Marquinhos Trad (PMDB) que deixou seu programa “Marquinhos Trad” na TV Guanandi para tentar a reeleição. Diferente dos outros, Marquinhos que é advogado por formação não depende do programa de TV para sobreviver já que tem outra fonte de renda.

“Eu acho que a proibição é justa. Porque você passa a ter uma visibilidade que os outros candidatos não têm. Gera uma concorrência desigual”, cita. Para ele, se quiser evitar problemas no orçamento doméstico, o candidato tem de se preparar com antecedência.