“Sou oficial penitenciário, tenho 43 anos, moro com meu esposo e sou mãe de três filhos com 21, 18 e 14 anos. Chego ao serviço às 7h40 e saio entre 14 e 16h. Ah, esqueci de falar que também estou fazendo pós-graduação de gerenciamento de crise”, conta Célia Lino da Costa, oficial penitenciário do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi”, localizado na Capital.

Célia Lino é chefe de disciplina do estabelecimento penal e representa a história de milhares de mulheres que consegue desempenhar o papel de esposa, mãe, dona de casa e ainda executar com eficiência a profissão. Ela conta está há 16 anos no sistema penitenciário e que o trabalho é imprevisível. “Nosso serviço é de orientar as internas quando chegam e saem, enfim o que rege a lei de execução penal. É um serviço desgastante, mas vale a pena porque aqui ajudamos as pessoas a retornarem para a sociedade recuperadas”, ressaltou.

A chefe de disciplina lembra das diversas vezes em que encontrou uma ex interna já trabalhando e que a reconheceu. “Elas falam ‘dona, eu já estou trabalhando’. Isso é gratificante”, avalia a servidora que tem pelo menos mais quatro anos para se aposentar.

Ela conta que administrar a vida de profissional e de dona de casa tem total apoio do marido e dos filhos. “Administro com tranqüilidade porque a mulher é inteligente, detalhista e tem o sexto sentido. O preconceito está acabando”, garante.

A experiência de ser mãe e profissional é também compartilhada pela colega de trabalho Kamila Cristina Sanches, de 28 anos. Ela é agente penitenciária há cinco anos e tem uma filha de 10 anos. “Ocupo o cargo de oficial penitenciário na escala de plantão sem contar com os extraordinários. Faço pelo menos oito plantões por mês com entrada às oito horas da manhã para sair só no outro dia”, informou.

O serviço do dia a dia é o contato com as internas que chegam e saem da unidade, no banho de sol, na liberação para alimentação e nos diversos atendimentos. “Gosto muito de trabalhar aqui e, assim como a Célia, o que tiro de lição é quando encontro uma ex-interna que está trabalhando. As internas também vêm procurar a gente para conversar e acabamos sendo também conselheiras. É um grande trabalho de ressocialização”, afirma.

Kamila Cristina faz questão de dizer que as mulheres têm conquistado seu espaço mesmo em meio a tantas tarefas: de mãe, esposa e dona de casa. “A mulher é guerreira, inteligente e sabe conquistar seu espaço”, concluiu.

Para a diretora do Estabelecimento Penal Feminino, Dalma Fernandes de Oliveira, de 50 anos, mãe de duas filhas e avó de dois netos, a cada dia a mulher está se qualificando e garantindo desta forma um espaço no mercado de trabalho. “A mulher tem interesse em aprender mais e lutar pelo que quer. Aqui dá para contar quem ainda não tem pós-graduação”, comentou.

A rotina de Dalma se divide entre cuidados com a família e a preocupação com as internas do estabelecimento penal. “Chego às 7h30, e quando está tranqüilo, saio às 17h30. Visito todos os setores da unidade, como a cozinha, a fábrica de costura e antes de ir embora tenho um contato com as internas, com a segurança para saber se está tudo tranqüilo. É assim todos os dias com um trabalho em equipe”, afirma.

A unidade penal abriga 344 internas com idade entre 18 e 35 anos. Além das agentes, oficiais e a gestora de Segurança e Custódia, é importante destacar as profissionais de psicologia, serviço social e apoio operacional, que também ajudam a construir com dignidade o dia-a-dia do presídio.

O estabelecimento penal feminino de Campo Grande é um dos 44 administrados pela Agepen. Hoje, a profissional penitenciária está presente em todas elas, representando cerca de 40% do quadro de servidores da intituição.