Roberto Carlos, 36, ri de quase tudo. Mas não de deboche, ri porque desfruta da vida. Sorri quando conta que logo será pai pela oitava vez e brinca com o fato de ter que pagar pensão alimentícia a seis filhos.

Ri de ter passado 20 dias trancado numa concentração em Itu. Sorri quando fala de Corinthians, Palmeiras, Libertadores, Mano Menezes e Lula.
Não se altera para falar de Galvão Bueno, desafeto declarado. Mas se irrita ao ser questionado sobre o episódio da meia. A que ele ajeitava, fora da área, quando Henry fez o gol que tirou o Brasil da Copa-06.

Hoje o Corinthians recebe o Palmeiras no Pacaembu, e Roberto Carlos será o astro -enfrenta pela primeira vez o clube onde se projetou, de 1993 a 95. Na quarta, ele conversou com a Folha no Parque São Jorge.

FOLHA – Como vai ser jogar pelo Corinthians e contra o Palmeiras?

ROBERTO CARLOS – É um clássico. É a mesma coisa que jogar contra o São Paulo ou o Santos. Tive muitos clássicos na vida e este é mais um. Joguei há muito tempo lá, encaro como normal. Como nós queremos ser campeões, temos que ganhar dos times grandes. Não é só ganhar do Mirassol ou do Monte Azul.

FOLHA – Teme alguma reação da torcida palmeirense?

ROBERTO CARLOS – Não creio. Porque no futebol eu crio amigos, não crio inimigos. Quando eu ia jogar contra o Barcelona pelo Real Madrid, aquela rivalidade toda, a torcida do Barcelona sempre me respeitou. Aqui não pode ser diferente.

FOLHA – Já se sente totalmente em casa no Corinthians?

ROBERTO CARLOS – Muito. Em relação a companheiros, comissão técnica, torcida, tudo está melhor do que eu esperava. Os jogos estão sendo emocionantes, por causa da torcida.

FOLHA – Depois de 15 anos fora, como é morar de novo no Brasil?

ROBERTO CARLOS – Está bem melhor, né? Mas ainda vai melhorar muito. Sou muito fã do Lula, sempre disse isso. Agora eu voltei, reativei o título de eleitor, vou votar aqui, fazer tudo isso.

FOLHA – Como tem sido a convivência com o Mano Menezes?

ROBERTO CARLOS – Trabalhar de perto com ele é ótimo. Pessoa muito correta, grandíssimo treinador. Fala na cara o que pensa, pede opiniões sobre o que deve fazer. Estou tendo um paizão. Peço muito conselho.

FOLHA – Já tomou bronca?

ROBERTO CARLOS – Ainda não. Mas na hora que eu fizer a primeira… E vou aceitar na maior tranquilidade, porque ele é mais velho, mais experiente…

FOLHA – Como foi ficar 20 dias em Itu? Ronaldo reclamou muito.

ROBERTO CARLOS – É complicado. Muito tempo fora do ambiente familiar, dos amigos, só no telefone, a internet cai toda hora. Mas eu procurei ser jogador, tenho que passar por isso mesmo.

FOLHA – Ronaldo se queixou da música sertaneja…

ROBERTO CARLOS – Ele reclama de tudo [risos]. A gente dividia o som. No quarto e na musculação. Um dia era sertanejo, no outro ele vinha com música eletrônica. Revezávamos.

FOLHA – Você parece mais preocupado em marcar. É pedido do Mano?

ROBERTO CARLOS – Eu estou chegando agora. Não quero dar a impressão de “o melhor jogador do time”.

FOLHA – Você pensa nas críticas que pode receber?

ROBERTO CARLOS – Claro. Não adianta eu querer arrebentar agora no começo. Porque posso me arrebentar fisicamente. Vou degrau a degrau. Podem achar que estou atacando pouco, mas pelo meu lado ali não entra. Prefiro que me critiquem no ataque a levar bola nas costas e sofrer gol. Estou me resguardando, sim.

FOLHA – Até quando?

ROBERTO CARLOS – Vou me soltando pouco a pouco. Eu não quero dar oportunidade para ninguém me criticar.

FOLHA – Crítica ainda incomoda?

ROBERTO CARLOS – Hoje já não.

FOLHA – Não mesmo?

ROBERTO CARLOS – Crítica injusta, sim, incomoda. Eu vejo na TV, leio algumas coisas, e acho engraçado. É como eu entrar no teu trabalho e falar que é errado, que tuas perguntas não são boas. Incomoda quando as pessoas criticam a mim, ao Ronaldo, ao Gaúcho, e elogiam Petkovic, estrangeiros.

FOLHA – Por quê?

ROBERTO CARLOS – Porque não valorizam o que temos aqui, o jogador brasileiro. Nós, eu, Cafu, Ronaldo, jogadores que fizemos história na seleção, não entendemos isso.

FOLHA – Vocês conversam?

ROBERTO CARLOS – Muito. A gente faz muita crítica a jornalista. Você liga a televisão e tem um senhor de 80 anos falando sobre futebol moderno.

FOLHA – E o Galvão Bueno?

ROBERTO CARLOS – Não tenho problema nenhum. Só acho que ele não foi correto comigo.

FOLHA – Iria ao programa dele?

ROBERTO CARLOS – No dia que ele não estiver, eu vou. Quando estiver o Cléber Machado ou outro. Ele queria falar comigo na F-1, em Mônaco, e eu não quis. Não conheço o Galvão, não quero criticá-lo. Só acho que foi o inventor de uma história que não existiu.

FOLHA – Está superada a história da meia? É motivo de piada para você?

ROBERTO CARLOS – [Irritado] Piada? Minha mãe é que faz piada pra caramba com isso.

FOLHA – Mas você não parou de se importar com as críticas?

ROBERTO CARLOS – Não é que eu parei de me importar. Mas tento levar com normalidade, com tranquilidade. Você fica velho e começa a ver tudo o que passou, todas as dificuldades, tudo que as pessoas não sabem. Aí a crítica tem menos importância.