‘Mataram o meu guri!’, lamenta pai de vítima de ‘guerra urbana’

Foi essa a expressão usada por Ramon Flores, pai de Júlio César dos Santos Flores, 13, morto a pancadas após ‘guerra urbana’ nos Altos da Avenida Afonso Pena

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Foi essa a expressão usada por Ramon Flores, pai de Júlio César dos Santos Flores, 13, morto a pancadas após ‘guerra urbana’ nos Altos da Avenida Afonso Pena

Mataram o meu guri!. Foi essa a expressão usada por Ramon Catarino Flores, 43, pai de Júlio César dos Santos Flores, 13, morto a pancadas, cujo corpo foi encontrado jogado em córrego perto do Parque do Sóter ontem no começo da tarde.

Júlio Flores estava no 7º ano.

A delegada do 3º DP (Distrito Policial), responsável pela investigação do caso, Marli Kaiper disse que ainda é cedo para identificar os suspeitos de terem assassinado o garoto.

A família afirma que o filho não era membro de gangue e costumava passear todos os domingos nos Altos da Afonso Pena, ponto de lazer para jovens de Campo Grande. Foi lá que o grupo de amigos, formado por cinco jovens, foi agredido por 20 garotos, que a família chama de ‘playboys’. “Os meninos passeavam quando foram atacados, não tem nada a ver falar que é gangue. Eles não eram de briga”, diz a tia, Mariza Pinheiro.

“Acusaram meu guri de roubo”, diz o pai em lágrimas nesta tarde, no velório, na casa da família de dez filhos, no Jardim Columbia. Júlio era o quarto filho do casal. Eloísa Elena, a mãe, não teve condições de dar entrevista.

A família da vítima e amigos pedem Justiça e temem que esse crime fique impune pelo fato dos suspeitos serem de classe média alta – seriam 15 jovens em vários carros.

Um menino que viu o garoto de 13 anos apanhar antes de ser morto teria, segundo os familiares da vítima, pedido socorro a policiais militares, mas não obteve ajuda. “Os PMs não acreditaram e perguntaram para ele quem eles estariam querendo roubar?”, lamenta o pai.

Bastante nervoso, o irmão, ajudante de serviços gerais, André Augusto dos Santos, demonstrou muita revolta e pede Justiça. Ele estava com Júlio na Afonso Pena. Hoje, André enviou aos amigos a mensagem pelo celular: “disse-lhe Jesus: eu sou a ressurreição, a vida. Quem crê em mim ainda que morra, viverá em nossos corações”.

Júlio foi sepultado às 16 horas no cemitério do Cruzeiro.

O caso

Às 21h30 do último domingo (31 de janeiro), nos Altos da Avenida Afonso Pena, dois grupos de jovens se encontraram e o local, conhecido por ser ponto de lazer se transformou em palco de uma guerra urbana.

Cinco jovens de periferia, que estavam a pé, foram cercados por quinze jovens dispersos em vários automóveis. Eles teriam descido dos veículos armados com tacos de beisebol e correntes.

Júlio César dos Santos Flores, 13, morador do Jardim Colúmbia levou chutes e foi alvo de pancadaria ao lado de outros quatro colegas entre eles, o irmão de 19 anos, o ajudante de serviços gerais, André Augusto dos Santos, que relatou o que teria acontecido na noite de domingo. A chegada da Polícia Militar teria dispersado os jovens.

Ontem, segunda-feira (1 de fevereiro) por volta das 14 horas o corpo do adolescente Júlio foi encontrado pelo próprio irmão, no trecho do córrego Sóter, na Avenida Nery Martins, no Portal Itayara.

André dos Santos decidiu investigar o sumiço do irmão, na região do Parque do Sóter. Ele encontrou sapato e depois, o corpo.

Após a briga, o grupo foi disperso. André foi para a casa dele, no Conjunto Arnaldo Estevão de Figueiredo. O irmão de 13 anos seguiu com alguns amigos para a região do Jardim Colúmbia.

Ontem, por volta do meio-dia, André tentou falar com o irmão através do telefone da mãe, Eloísa Elena dos Santos Flores. Ela disse que o filho de 13 anos não tinha ainda aparecido em casa.

Foi quando André resolveu procurar pelo irmão, descobriu que um amigo de Júlio foi levado para Santa Casa, vítima de golpes de taco de beisebol. Com a ajuda de amigos, o irmão mais velho foi até o córrego Sóter e lá encontrou o corpo do irmão. Ele suspeita de que os ‘playboys’ tenham seguido e matado o adolescente.

“Por que fizeram isso com o meu irmão? Eu que reagi, não ele. Eu quero Justiça e que a polícia investigue. Meu irmão não era de briga, não fazia nada disso. Foram eles [playboys]. Por que meu irmão?”, disse chorando na margem do córrego, a poucos metros da equipe da funerária que fazia o recolhimento do corpo. Os peritos fazem o levantamento no local.

Denúncia

O boletim de ocorrência foi registrado pelos policiais plantonistas da Depac (Delegacia Especializada de Pronto Atendimento Comunitário). Segundo Marli Kaiper, ainda hoje ela deve ter acesso aos depoimentos prestados e dar início às investigações. “Vamos instaurar o inquérito, saber a oitiva dos fatos. Não tem como falar ainda sobre suspeitos já que há uma série de pessoas envolvidas”, explica.

Quem tiver alguma informação que leve ao responsável pelo crime pode telefonar para 3326 3096, pede a delegada Marli Kaiper.

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