Manoel de Barros falta, mas prefeito entrega escultura do poeta
O prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PMDB), entregou nesta manhã escultura em homenagem ao poeta Manoel de Barros construída ao lado do paço municipal. O homenageado não compareceu. “Ele já está doentinho. Tem mais de 90 anos. Não deu para ele vir”, explicou o prefeito logo na chegada. O neto do poeta, Felipe de […]
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O prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PMDB), entregou nesta manhã escultura em homenagem ao poeta Manoel de Barros construída ao lado do paço municipal. O homenageado não compareceu. “Ele já está doentinho. Tem mais de 90 anos. Não deu para ele vir”, explicou o prefeito logo na chegada. O neto do poeta, Felipe de Barros, representou o avô.
A entrega da estátua faz parte dos festejos do aniversário de 111 anos da Capital. O espaço é localizado na esquina das ruas 25 de Dezembro com Barão do Rio Branco, no próprio Paço Municipal.
Nelsinho explicou que a obra não teve custos para a prefeitura. A escultura foi confeccionada pelo artista plástico Levi Batista, 49 anos, a pedido do prefeito. Ele que esteve na inauguração contou que levou cerca de um mês para fazer a estátua.
A estátua é feita de concreto armado com estrutura de ferro. A obra é pintada com tinta especial. O artista explica que o trabalho tem longa durabilidade e de tempos em tempos, precisará apenas de um verniz para ficar com a aparência renovada.
Levi conta que fez o trabalho voluntariamente. “A prefeitura me ajudou com a matéria prima”, disse. O artista também é responsável por todas as demais esculturas no espaço batizado como Praça Pantaneira.
Também conhecido como Praça do Poeta, o local foi inaugurado em 2007 com estátuas de animais originais do Pantanal.
Levi que é artista auto-didata fez primeiro uma onça pintada, um tuiuiú com um peixe no bico, 3 araras, 2 tucanos, uma sucuri e duas capivaras ao redor de um pequeno lago. Hoje, foram inauguradas estátuas de novos animais, 3 trilhas de concreto imitando madeira, espaço de convivência com novos bancos de concreto e mesinhas de centro.
No banco em que o poeta está sentado há espaço para os visitantes se acomodarem para tirar foto, por exemplo. A estátua que representa o poeta foi construída em tamanhos originais. O livro que está nas mãos do poeta traz uma mensagem ambiental. “Praça Pantaneira. Preserve o Pantanal. Manoel de Barros”, está escrito.
Antes de inauguração da estátua, o prefeito e equipe fizeram outra homenagem ao poeta. Foi entregue a biblioteca infanto-juvenil “Manoel de Barros”, no Capsi (Centro de Atenção Psicossocial Infantil), localizado na travessa Ana Vani, nº 44, Jardim dos Estados. A biblioteca vai contar com um acervo de mil e quinhentos livros doados pela comunidade e pela Academia Sul-matogrossense de Letras.
Além do prefeito também compareceram à solenidade no paço municipal, secretários da Capital e o ex-governador de Mato Grosso do Sul, Wilson Barbosa Martins.
Nascido em Cuiabá em 1916, Manoel Wenceslau Leite de Barros é o poeta vivo brasileiro mais aclamado nos meios literários. Recebeu vários prêmios, entre eles, dois Jabutis. Ele tem mais de 30 obras publicadas.
Recentemente, a atriz Cássia Kiss recitou o poema “O menino que carregava água na peneira”, de Manoel de Barros, no fim do programa especial de 25 anos do ‘Criança Esperança’, promovido pela Rede Globo em parceria com a Unesco.
Confira o poema na íntegra:
“O Menino que Carregava Água na Peneira”
Tenho um livro sobre águas e meninos
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
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