Obra contém palavras de baixo calão como “puta, biscatinha” e outras mais fortes e foi recomendado pela escola para alunos de 10 anos de idade; caso foi parar no MEC e escola trata do assunto em reunião com pais hoje à noite

A escolha do livro “Dia 4”, do campo-grandense Vithor Torres, como obra para ser debatida este ano pelos estudantes do 6º ano, na faixa dos dez anos de idade, do colégio cenecista Oliva Ensino, de Campo Grande, em nada agradou uma parente de aluno, a publicitária Angela Goveia, que chamou de “lixo literário” o livro que em determinados trechos recorre a expressões de baixo calão.

Ângela disse ter reclamado da opção pedagógica à escola e também ao MEC (Ministério da Educação) por e-mail. O comando da Oliva Enciso, escola particular construída no centro de Campo Grande, em resposta à publicitária, disse que gostaria de debater o assunto com ela e que nesta terça-feira à noite a questão será tratada numa reunião.

Note alguns trechos contestados pela publicitária que aparece no livro de Vithor Torres, de 16 anos de idade, o escritor que disse ter produzido uma autobiografia ao narrar na obra a viagem que fez de ônibus com a mãe de Campo Grande para São Paulo:

“Não que eu as conhecesse, mas até o mais idiota dos seres consegue reconhecer uma prostituta. No caso eram duas. Como sabia que eram putas? Muito simples. Uma profissional do sexo se veste apenas de duas formas: extravagantes ou quase sem roupa” – pág.22

“Era ou puta semi-aposentada ou cafetina.” – pág.22

“Não era um bebê e sim dois. Eles gritavam, riam e gemiam em coro. Minha vontade era de pegar os dois e dar uma bela duma bica.” – pág.23

“Para meu desespero, deu atenção para a puta ao seu lado, a mais velha” – pág.23

“Enquanto passavam pelo meu banco, as putas já estavam fora do ônibus” – pág.25

“Que sobrinho aquela biscate tem, tia?” – pág. 27

“Não vou gastar para ligá pra essa biscatinha” – pág. 27

“Cê fala isso de novo que eu te dou uma porrada” – pág. 27

“Para diminuir os efeitos da viagem sobre sua coluna fodida” – pág.31

“Eu, muito preconceituoso e assustado como sou, já o imaginei sacando uma arma logo após se virar e, depois do tiro – na cabeça – de pistola comum e velha, ele diria….”- pág.33

“Tirou a da bunda” – pág. 34

“Fora do ônibus a puta mais velha foi chamar…..Enquanto isso, a puta que vestia um vestido com estampa…..”-pág. 39

“Além das putas, mais alguém desceu” – pág. 39

“Aquela merda de cancela não abria” – pág. 43

“Eu paguei essa porra”-pág. 43

“Ela falou da opção sexual do Kassab (prefeito de São Paulo), disse que ele era gay”-pág. 64

“Apesar de sempre estar drogada. Ela não precisa de pó ou ácido, o que ela curte é oxigênio. Ela inspira e fica doidona.” – pág. 68

“Caraaaaaaaaalho! – Exclamava ao ler a carta” – pág. 83

“Olha só….-Nenê vai se fuder!” – pág. 75

“Como vocês podem perceber, a linguagem poética do livro é bem profunda, nossas crianças precisam mesmo disso? Por favor, quem leu este livro antes de indicar às crianças?”, disse a publicitária em protesto encaminhado à direção da escola.

Segue a interpretação de Ângela, acerca do conteúdo literário: ”… a meu ver demonstra caráter racista, preconceituoso, com palavras de baixo calão e de pouco (pra não dizer nenhum) teor educativo/cultural. Isso fere os princípios éticos básicos de qualquer instituição de ensino, principalmente ao se tratar de uma escola dirigida dentro do entendimento cristão de igualdade, fraternidade e inclusão social”.

Já a direção da escola disse a publicitária, segundo ela, que o objetivo da inclusão do livro no debate literário entre os alunos do 6º ano é um meio de “demonstrar a riqueza de se trabalhar com um livro cujo autor está ao nosso alcance, além de perceber como se dá a relação entre autor-texto-leitor”. E o projeto, segundo a escola “teve como base os PCNs [Parâmetros Curriculares Nacionais].

Não satisfeita com o convite da direção que a convocou para debater o assunto “pessoalmente”, Ângela mandou um outro comunicado à escola: “se vocês querem demonstrar a riqueza de se trabalhar com um livro cujo autor está ao nosso alcance, apresente os livros de Manoel de Barros. Pois não consigo ver nenhum proveito em um “livro”, vou repetir, com palavras esdrúxulas, preconceituoso, racista, e totalmente egocêntrico por parte do autor. Você ainda quer defender isso? Você acha certo nossas crianças lerem: caraaaaaaalho, puta, cafetina, biscate, biscatinha?”.

A direção da escola marcou uma entrevista com a reportagem do Midiamax para as 8h desta quarta-feira, a fim de tratar do assunto.

(Matéria editada às 15h50 para acréscimo de informações)