Foto exibe o alicerce de uma construção na aldeia, cujos moradores já comparam com uma favela; no detalhe, a única casa em pé, que fica em frente à placa usada para “inauguração” de 50 unidades habitacionais.

A Aldeia Bororó é a região mais pobre da Reserva Indígena de Dourados onde moram mais de 13 mil índios das etnias Guarani, Terena e Caiuá. A Aldeia Jaguapiru, que também faz parte da reserva de 3.500 hectares, já foi contemplada com casas.

Por falta de casas, os moradores da Aldeia Bororo improvisam como podem suas habitações. Com restos de madeira, latas e lonas plásticas, as famílias improvisam seus barracos transformando o local em uma enorme favela.

É o caso de Lourdes Brites Garcia, de 37 anos de idade. Ela mora com o marido e seus sete filhos num barraco de nove metros quadrados. “Estou esperando a minha casa”, disse a índia que reclama ter sofrido muito com as chuvas e o frio dos últimos tempos.

Ao lado do barraco de Lourdes, o índio Severino Rodrigues, de 70 anos, construiu sua casa. “Já fiz cadastros para receber uma casa pelo menos quatro vezes”, relembra o idoso que mora sozinho e vive com um benefício da Previdência Social.

O vice-capitão Ricardo Isnardi disse que a Aldeia Bororó está se transformando numa verdadeira favela, assim como acontece nas grandes cidades. “Apesar dos alicerces dessas casinhas, isso aqui está virando uma favela, porque nada foi terminado nem entregue pra gente além dos reloginhos de parede da Agehab”, relata.

Alice Paulo completou 41 anos de idade no último dia cinco. O sonho de Alice era festejar a data na casa nova. Com um relógio de parede com os símbolos da Agehab que diz ter “ganhado de quem veio entregar as casas” na mão, a indígena ainda não sabe o que fazer com ele já que nem parede tem para pendurá-lo.

Com seus oito filhos, Alice mora num barraco de lona, onde todos os dias contempla a obra inacabada. No alicerce, a única coisa feita na casa, a índia senta-se com suas amigas para tomar tereré. Alice também assinou um “Termo de Recebimento” quando recebeu o relógio de parede, mas nada da casa. “Nem sei para quem reclamar”, lastima.

“Eles vieram e não disseram nada”, disse a índia que não escancara um sorriso por causa da fissura leporina nos lábios, mas ri quando manipula o relógio que não marca as horas. As pilhas foram entregues enfraquecidas.

Alice mostra um amontoado de tijolos de oito furos deixados pela empreiteira que nunca mais apareceu para terminar a obra da casa. O alicerce do que seria a casa de Alice serve apenas as brincadeiras das crianças enquanto o relógio que ainda não tem uma parede transformou-se num brinquedo.

O vice-capitão Ricardo Isnardi lamenta o descaso e espera que o Governo do Estado conclua as casas. “Nós estamos agora nos preparando para fazer uma denúncia… acho que no Ministério Público”, planeja.

A secretária estadual de Habitação, Mirna Torres, procurada pelo Midiamax, disse através da assessoria que somente a subsecretaria de Comunicação do Governo do Estado estaria autorizada a falar sobre as casas construídas na Aldeia Bororó. O subsecretário de Comunicação, Guilherme Filho, disse por telefone que depois de tomar conhecimento sobre o caso daria oficialmente a posição do Governo. Até o momento de publicação, não houve manifestação oficial sobre o assunto.