Índio de 26 anos disse ter sido torturado em delegacia de Bonito para confessar um crime que não teria praticado; durante a agressão, ele tentou se matar com facada no pescoço

O indígena da nação terena, S.R.M, 26 anos, tentou suicídio na sala do delegado da cidade de Bonito, no dia 12 de agosto. O rapaz denuncia que enquanto sofria uma sessão de tortura avistou uma faca em cima de uma prateleira, tomou posse e cortou o próprio pescoço na presença de três agentes e do delegado. Ele foi socorrido e encaminhado para o hospital municipal pelos próprios policiais.

Segundo relato do indígena, a história começou quando ele tentou registrar um boletim de ocorrência contra a sua ex-amásia E.S.M, de 19 anos, com quem tem um filho de quatro meses. S.RM. afirma que procurou a delegacia da cidade porque havia discutido com a jovem, pois a mesma insistentemente tentava reatar o relacionamento, o que foi negado por ele, inclusive em outras vezes.

O indígena relata que foi até a casa da ex-companheira fazer uma visita para o filho e na residência estavam também a ex-sogra e um tio de E.SM, embriagados. Depois de uma discussão a ex-companheira disse que “ele ia se ver com ela. Que ela ia acabar com a vida dele” e também iria acusá-lo de ter violentado sexualmente uma garotinha 2,8 anos fruto de relacionamento da moça com outro homem.

Desesperado, o indígena afirma que procurou a delegacia por volta das 21h relatando o caso, mas a unidade estava fechada. Ele aguardou por aproximadamente 30 minutos quando chegou um agente e disse que não resolvia este tipo de problema, que era para o mesmo procurar o Conselho Tutelar. Na unidade que tem por obrigação proteger crianças e adolescentes, o rapaz foi orientado novamente a voltar na delegacia.

No dia seguinte S.R.M procurou a delegacia novamente insistindo para registrar o boletim contra a ex, pois temia que a mesma concretizasse a ameaça de denunciá-lo caluniosamente sobre violência sexual contra menor. Neste momento, segundo o indígena, ele foi dominado por agentes e levado até um quarto isolado nas dependências da delegacia, onde foi agredido com chutes e socos, por aproximadamente 30 minutos.

Depois da sessão de tortura, o indígena sustenta que foi levado até a sala do delegado Roberto Gurgel de Oliveira Filho, onde novas agressões começaram. Ainda de acordo com o rapaz, o delegado teria dito que era melhor ele confessar o crime logo, pois em caso contrário o colocaria na cela com outros para ser violentado sexualmente. “Eu não aguentava mais apanhar e depois desta ameaça, foi quando vi a faca e bem de pressa peguei e passei no meu pescoço. Eu queria me matar mesmo porque pelo jeito ninguém ia acreditar em mim, mesmo que morresse de tanto apanhar”, diz.

A faca, segundo S.R.M era do tipo pexeira e estava em uma prateleira com outra menor de serra. “Acho que as facas deviam estar ali porque foram apreendidas com alguém. Ia ser a solução pra mim naquele momento”, desabafa.

S.RM. ficou internado por 24h no hospital municipal sob escolta de policiais militares. Depois disto, ele afirma que foi liberado e o caso “ficou por isto mesmo”. Com a ajuda de conhecidos de seu patrão, o rapaz veio até Campo Grande e fez denúncia ao Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza (CDDH). “Eu nem sabia a quem recorrer. Não sou de bebedeira, trabalho de ajudante e moro sozinho. Agora, tenho até medo de voltar pra cidade”, lamenta sem revelar aonde vai ficar nos próximos dias até o desenrolar da história.