Em Dourados, cotidiano dos índios traduz a situação de miséria e falta de atenção; Lucila de Souza vai ao hospital ‘acompanhada’ do companheiro

A situação de miséria e “quase-genocídio” a que são submetidos os mais de quinze mil indígenas da Reserva de Dourados onde estão confinadas três etnias em apenas 3500 hectares não está restrita apenas aos casos de desnutrição de crianças, desemprego, drogas e desemprego.

O tratamento dado aos índios e, principalmente, aos idosos chamou a atenção do empresário Cícero Camargo Peres que ao passar em frente ao Hospital da Vida reparou que uma índia permaneceu deitada na grama por mais de seis horas a esperando para retornar a aldeia.

Cícero está de passagem por Dourados e nem sabia que no município existem índios. Ele ficou indignado com a situação da índia Lucila de Souza que estava acompanhada de Clementino Morales que se identificou como “companheiro” da mulher que foi recebeu atendimento médico por volta do meio dia.

Lucila permaneceu até as 18h30 quando um veículo da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) apareceu para levá-la de volta à aldeia.

Durante este período Lucila que sofreu uma fratura no braço suportou o intenso calor tendo o gramado como cama e a calçada do Hospital da Vida como travesseiro. Em nenhum momento Clementino que não soube precisar a idade de sua esposa, saiu de perto de Lucila.

Clementino contou que sua companheira saiu da aldeia com destino a uma agência bancária no centro da cidade para receber seu benefício mensal concedido pelo INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).

Ao chegar à Reserva Indígena a mulher foi agredida e roubada. Toda ensangüentada e com fortes dores Lucila foi levada para o Hospital Porta da Esperança da Missão Evangélica Caiuás.

Do Hospital da Missão, Lucila e seu marido foram levados por uma caminhonete da FUNASA para o Hospital da Vida foi teve o braço enfaixado e recebeu os medicamentos.

Depois de liberada Lucila que não tinha dinheiro e nem outros recursos para voltar a sua casa que fica a mais de dez quilômetros do Hospital teve que esperar na calçada.

Outro empresário que pediu para não ser identificado sentiu compaixão pela situação da índia Lucila e providenciou lanches e refrigerantes para o casal que estava desde o início da manhã sem ser alimentado.

Depois de ajudar o casal, o empresário telefonou para a Funasa pedindo para que o veículo voltasse para buscá-los. Lucila e Clementino falavam pouco e demonstravam cansaço ante a resignação pela condição subumana a que foram relegados. Clementino criticou a violência na aldeia e a falta de respeito com relação ao sofrimento de sua mulher.