Trabalhando há três anos no setor de chefia da secretaria da Universidade Federal de Mato Grosso do sul, a servidora Waleska Mendoza, lotada no Campus do Pantanal, em Corumbá, decidiu recorrer ao Ministério Público, contra a Universidade Federal, por intolerância religiosa.

A servidora disse que desde que o diretor do Campus, Wilson Melo assumiu o cargo, ela vem sendo “perseguida” por ele. “No início, o atual diretor do Campus sempre me chamava em seu gabinete para pedir que eu retirasse as passagens bíblicas que colocava em documentos aos quais eu assinava pela universidade, alegando que ele poderia ser prejudicado por isso. Sempre aleguei que não havia nada de ilegal, porque na placa de inauguração da Biblioteca Central, o ex-reitor da Universidade Federal, Manoel Catarino Paes Peró, inseriu uma passagem bíblica, como agradecimento ao senhor”, afirmou Waleska em entrevista ao Diário.

Na denúncia encaminhada ao Ministério Público Federal, a funcionária relata que por inserir textos bíblicos em seus documentos, passou a ser constantemente pressionada pelo diretor. “No dia 21 de maio, o diretor  chamou-me em seu gabinete para perguntar se retiraria o texto bíblico de uma comunicação interna encaminhada para a Reitoria da UFMS, pois segundo ele, levaria uma ‘catracada’ da reitora da UFMS. Respondi que o manteria, e ele me disse então que já tinha uma pessoa para assumir o cargo a partir de 1º de junho e que faria um documento escrito, alegando este ser o motivo da minha substituição”, diz um trecho da denúncia.

“Realmente fui destituída de meu cargo no dia 1º de junho. Não consigo enxergar nenhuma ilegalidade, até porque as cédulas de dinheiro que circulam por todo o país têm os dizeres ‘Deus seja Louvado’, logo, é apenas um ato de gratidão a Deus. Sou Adventista do Sétimo Dia, mas em momento algum coloquei o nome da Igreja em algum documento. Colocava apenas passagens bíblicas, o que não é justificativa para meu afastamento do cargo”, frisou.

Além da representação no Ministério Público, Waleska afirma que irá recorrer a todos os órgãos possíveis para ter seus direitos garantidos. “Vou ao Ministério do Trabalho e à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pois quero lutar pelo direito do cidadão, pela liberdade de expressão e pela liberdade religiosa. Busco apenas respeito. Não admito ser destituída de um cargo porque usava as palavras de Deus no local onde trabalho.”

Outro lado

Ao Diário, o diretor do Campus do Pantanal, Wilson Melo, negou qualquer tipo de perseguição à funcionária. “Não há perseguição religiosa, não há autoritarismo, não há desrespeito à religião dela e à nenhuma outra religião. A Universidade é laica (independente de credo); o Estado é laico, não há nenhuma restrição a quem quer que seja de professar a sua fé, tem liberdade total de exercer.”

Porém, o diretor alega que normas da instituição devem ser cumpridas. “A universidade tem normas internas de que em documentos oficiais, timbrados, não devem constar citações bíblicas, não só da religião dela, mas de qualquer religião. Ela (a funcionária) foi informada oficialmente sobre essas normas. É de conhecimento da assessoria jurídica da Universidade, e nas duas vezes que ela foi informada da não citação bíblica, ela disse que preferia colocar o cargo à disposição a despeito de não publicar as citações bíblicas da religião dela. Eu aceitei o cargo à disposição e nomeei outra servidora no lugar dela, que atualmente foi designada para trabalhar na biblioteca como técnica administrativa. A respeito, com sua fé, seus credos religiosos, agora documento oficial é documento oficial”, concluiu Wilson Melo.