Em debate com o escritor britânico Salman Rushdie sobre o livro “O Príncipe”,  na quinta-feira (5), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou o uso do paternalismo na política e disse esperar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se torne um ex-mandatário que se mantenha em silêncio.

FHC e Rushdie conversaram em inglês por meia hora, no centro de Paraty, palco da Flip (Feira Literária Internacional) em ato de promoção de nova edição do livro de Nicolau Maquiavel (1469-1527) lançada pelo selo Penguin Companhia.

O ex-presidente, autor do prefácio da nova edição, procurou contextualizar o livro, lembrando que foi escrito à época de formação dos Estados nacionais, citando que, para Maquiavel, a política se explicava pelas ambições, forças e fraquezas humanas.

O ex-presidente comentou, em tom irônico, que o objetivo de quem estava no poder era manter-se no poder.

– Hoje há eleições, isto não é mais possível. Mas há quem queira ficar.

Rushdie definiu como “republicana” a tradição nos Estados Unidos de ex-presidentes manterem-se em silêncio. Fernando Henrique, sorrindo, interrompeu e comentou o que espera de Lula quando sair do poder:

– Sou um ex-presidente que não fala. O Lula também acha que ex-presidente não deve falar. Estou esperando…

Bem-humorado, o ex-presidente lembrou que Maquiavel era um servidor público, defensor da República de Florença e afirmou que não há como o compararem com o escritor italiano e fez piada sobre o apelido dado por amigos de “príncipe da sociologia brasileira”:

– Eu fui um príncipe; ele, não.

FHC novamente negou que tenha dito uma frase que a Folha de S.Paulo publicou como sua, após reunião com empresários e reclamou:

– Nunca disse ‘esqueçam o que eu escrevi’, mas isso é repetido até hoje. Fui obrigado até a escrever um livro com o título ‘Lembrando o que Escrevi.’

O ex-presidente ainda reclamou que em política tenta-se julgar não os atos de um governante, mas suas supostas intenções.

O ex-presidente criticou, em uma declaração indireta em Lula, governantes que exploram a imagem de “pai dos pobres”.

– Não é democrático.