O que você faria com R$ 198 bilhões? Pois esse é o valor que tem ajudado os brasileiros a concretizar o sonho da casa própria. O problema é que ele pode não ser suficiente para acompanhar o ritmo acelerado nos pedidos de financiamento devido à renda em alta dos brasileiros e à geração de empregos recorde.

De todo o dinheiro historicamente aplicado no financiamento imobiliário, 92% têm como origem a poupança e o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). A primeira, principal financiadora, responde por R$ 111,5 bilhões emprestados até o primeiro semestre de 2010. O FGTS, por sua vez, acumula uma carteira de R$ 71 bilhões, segundo um levantamento feito pela ONG FGTS Fácil, a pedido do R7.

O problema é que dois fatores passaram a influenciar negativamente as fontes de financiamento. A primeira é que o valor médio do empréstimo tem se elevado desde 2006, chegando a R$ 123 mil em 2009. Há quatro anos, o valor médio financiado era de R$ 70,6 mil.

O segundo fator é que a população passou a buscar mais crédito para compensar o investimento maior no imóvel. Desde 2001, o valor dos empréstimos com recursos da poupança cresceu 390%, de acordo com dados do Banco Central. 
Com um quadro desses, especialistas alertam que o crédito para aquisição, construção, amortização ou redução de prestações da casa própria ficara mais caro até 2014. O motivo para isso é que as projeções indicam que o atual nível de financiamento vai aumentar consideravelmente nos próximos anos.

Hoje, o estoque de recursos disponíveis na poupança para esse tipo de crédito é de R$ 269 bilhões. A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) estima que esse saldo consiga absorver a demanda até 2012. Em 2013, a projeção é que os financiamentos exijam R$ 400 bilhões e mais R$ 100 bilhões quando chegarmos a 2014.

O diretor da ABMH (Associação Brasileira de Mutuários da Habitação), Richard Mamede, acredita que novas fontes de financiamento terão de ser buscadas para compensar a procura por dinheiro para habitação.

– Instrumentos alternativos de captação, como a securitização e a emissão de títulos de base imobiliária, já estão sendo trabalhados por alguns bancos. A própria Caixa Econômica já manifestou interesse em lançar Certificados de Recebíveis Imobiliários. Em termos simples, isso significa que eles vendem alguns papéis do banco e, em troca, utilizam o dinheiro para financiar imóveis. É uma operação até certo ponto lucrativa.

Outra saída, apontada pela ONG FGTS Fácil, é a utilização de mais recursos do fundo do trabalhador. Pela lei, o governo tem de direcionar até 60% de tudo o que é arrecadado com o FGTS para a área de habitação. Hoje, essa relação está em 41%.

O estoque total de recursos do FGTS, gerenciado pela Caixa, está em R$ 271 bilhões. Desse montante, mais de R$ 98 bilhões foram investidos em habitação, saneamento e infraestrutura. No entanto, o dinheiro efetivamente utilizado em financiamentos para aquisição, construção, amortização ou redução de prestações da casa própria atingiu a marca de R$ 71 bilhões.

Para chegar ao teto de 60% exigido na lei, o governo poderia investir mais R$ 44 bilhões apenas na área de habitação. A justificativa da Caixa é que não há projetos para utilizar todo o dinheiro disponível. De certa forma, é uma desculpa razoável. No passado, não faltaram projetos fraudulentos que colocaram em risco o Sistema Financeiro de Habitação.

Enquanto isso, na quinta-feira (12), a Caixa anunciou que pretende fazer ainda no segundo semestre de 2010 a securitização de parte de sua carteira de crédito. Isso pode levar o banco a conseguir até R$ 1 bilhão. Não chega a solucionar o problema que se mostra à frente, mas pode ser o primeiro passo para não colocar o futuro da casa própria em risco.