Resgatar a paisagem urbana se tornou objetivo das grandes cidades em todo o mundo. A necessidade de regulamentar a comunicação visual para controlar a poluição urbana sem exageros é desafio que outras capitais brasileiras já enfrentaram e agora, com a votação do “Projeto da Cidade Limpa”, Campo Grande enfrenta.

O caso mais famoso no Brasil, que inclusive inspirou o executivo campo-grandense, foi a da lei paulistana que desde 2007, estabeleceu regras para o uso de dispositivos de comunicação visual no centro de São Paulo.

Na época, a revista de arquitetura AU discutiu com especialistas o papel do design urbano e da preocupação com a cidade e ligação entre urbanismo e publicidade. AU conversou com publicitários, empresários, arquitetos e urbanistas para saber se as regras constituíam combate à poluição visual ou apenas exagero da legislação.

Reproduzimos abaixo as opiniões de profissionais que são referência nacional e até mundial na temática:

Exagero da legislação ou abuso exagerado do espaço urbano. Eis a questão! Ao longo dos anos foi se firmando o conceito equivocado de que o uso e o abuso do espaço público como suporte de mensagens comerciais é um “direito” de pequena parcela da iniciativa privada que se dedica a esse fim. Nada mais irreal e injusto. Quem tem o direito à fruição de um espaço público de qualidade é o morador urbano, alvo e vítima dessa perversa poluição visual que lhe consome suas poucas horas livres com a visualização compulsória e indesejada de todo o tipo de mensagens. Chegou a hora da cidade e do cidadão. Precisamos compreender esse momento histórico e construirmos a cidade da qual nos orgulharemos pela qualidade de sua paisagem urbana e de seus espaços públicos.

José Eduardo Tibiriçá,
arquiteto, vice-presidente da AsBEA

Sou totalmente a favor de regulamentações, desde que sejam cumpridas. E sou contra proibições radicais. A publicidade faz parte da estética de grandes centros urbanos, como Nova York, em que peças de comunicação, caso dos billboards da Nike e da Apple, passam a ser também elementos da cultura pop. Regulamentar é fundamental para o não-caos, mas com bom senso. É natural que centros urbanos como São Paulo tenham uma comunicação privilegiada. Em Berlim, cidade com arquitetura de grandes nomes como Renzo Piano, existe uma comunicação publicitária sem o caos. Espero que a lei em São Paulo seja transitória, e que funcione como uma limpeza para, a partir daí, pensar uma regulamentação mais coerente. Caso contrário, corre-se o risco de transformá-la em uma espécie de cidade fantasma e artificial.

Washington Olivetto,
publicitário, sócio da agência W/Brasil

A questão não é eliminar a publicidade, mas discutir o projeto urbano. É estabelecer critérios, ter um padrão de design para a publicidade que harmonize com os interesses da cidade, como deve também acontecer com o mobiliário urbano. O que existe hoje é uma competição entre agências que sempre inventam uma nova esquisitice para chamar mais atenção do que o vizinho. Porque quem decide isso hoje são as agências de publicidade e alguns padrões urbanos mudam como se pudessem ser uma decisão pessoal de cada prefeito. O design urbano é patrimônio da cidade, não é gambiarra. São Paulo não pode ser tratada como terra de ninguém, como uma lata de lixo. Isso é o não-progresso, é a não-administração pública.

Nestor Goulart Reis,
professor da FAUUSP

A questão da poluição visual em São Paulo tomou contornos dramáticos. A sobreposição de placas, cartazes e outdoors passou do limite do bom senso. Com o descontrole, a mídia exterior, na verdade, dá um tiro no próprio pé, já que o excesso de peças reduz a eficácia da comunicação. Por outro lado, a lei é exagerada. Há exemplos de boa convivência com essa mídia em cidades no Brasil e no mundo. Afinal, ela pode ter uma função orientadora e informativa importante. O equilíbrio é sempre uma boa opção. Até porque o setor gera riquezas e produz empregos. Por fim, o critério não está sendo o mesmo para outras situações ilegais e poluidoras como os camelôs – e a prefeitura nada tem feito de efetivo sobre isso.


Efraim Kapulski,

presidente da Associação Brasileira de Marketing Direto (Abemd)

Concordo que a decisão combata a poluição visual, mas, por outro lado, impede a divulgação de produtos e serviços que mantêm a economia ativa. É preciso avaliar o que isso gera para a economia e, até mesmo, de perda de arrecadação para o município com a queda que algumas empresas podem ter. Para os anúncios imobiliários, a medida gera uma desaceleração. Acredito que exista um lado de atrativo turístico em algumas publicidades, como em Tóquio, Nova York e Las Vegas. Sem isso, São Paulo pode se tornar uma cidade mais cinzenta e sem vida. Claro que é preciso ter cuidado, já que existe exploração indiscriminada do espaço público. Mas acredito que os vereadores radicalizaram. Não acho produtiva a proibição pura e simples.

José Augusto Viana Neto,
presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP)

Fonte e Fotos: Revistaau.com.br