Pessoas que sofrem de enxaqueca têm o dobro do risco de sofrer um infarto, revela um estudo da Yeshiva University, nos Estados Unidos, que acaba de ser publicado na “Neurology”.

Segundo o artigo, esses pacientes também têm mais chance de sofrer derrames e de desenvolver outros fatores de risco cardiovascular. O achado vale para a enxaqueca com e sem aura (alterações visuais). Estudos anteriores já haviam relacionado a aura ao aumento do risco de derrames.

De acordo com os autores, o trabalho sugere que a enxaqueca não é uma condição isolada e que, ao tratar um paciente, os outros fatores de risco devem ser levados em conta.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores compararam dados de 6.102 pacientes com enxaqueca crônica e de 5.243 pessoas que não sofriam da doença.

Todos os participantes completaram questionários sobre saúde em geral, frequência, severidade e sintomas das dores de cabeça e dados sobre eventos cardiovasculares.
As pessoas que sofriam de enxaqueca tinham duas vezes mais chance de infarto -os portadores do tipo com aura tinham três vezes mais chance.

Aqueles que sofriam com a dor de cabeça crônica também tinham 50% mais risco de ter diabetes, hipertensão e altos níveis de colesterol no sangue.
Segundo os autores, haveria um mecanismo comum associando a dor de cabeça e o infarto. Eles especulam que essas pessoas têm lesões no endotélio (camada interna dos vasos sanguíneos), que aumentariam o risco cardiovascular.

“Os motivos para o aumento do risco ainda não estão esclarecidos”, ressalva o neurologista Deusvenir de Souza Carvalho, da Universidade Federal de São Paulo. Mas sabe-se que na enxaqueca há alterações neuroquímicas e vasculares e que as plaquetas do sangue se comportam de forma diferente nas crises, o que poderia prejudicar o fluxo sanguíneo.
Por isso, os especialistas acreditam que o bom controle das crises de enxaqueca pode reduzir o risco cardiovascular.

“Quem tem enxaqueca muitas vezes tem outros fatores de risco associados, como estresse, má qualidade de sono e fatores hormonais”, acrescenta o neurologista Mario Peres, do hospital Albert Einstein.
Hoje há vários medicamentos usados para prevenir as crises e boas opções para aliviar a dor. Mas o controle da doença envolve mudanças nos hábitos de vida, que incluem boa qualidade de sono e alimentação, evitar gatilhos e controlar o estresse. “Entre 70% e 80% dos pacientes conseguem controlar a doença com remédios e estilo de vida”, diz Carvalho.