Vítima (detalhe) foi arrastada por 15 km, até morrer; testemunhas dizem ter alertado réu (microfone) até pelo celular

O domador de cavalos Fagner Gonçalves, 26, reafirmou em seu julgamento que acontece nesta manhã, em Campo Grande, a versão de que não viu que o caminhão que dirigia um ano e oito meses atrás arrastava uma pessoa. Em junho de 2008, ele tinha ido a um rodeio e ao sair de lá atropelou e arrastou por uma distância de 15 quilômetros o soldado do Exército Leonardo Sales da Silva, 19, que morreu.

Denunciado pelo Ministério Público Estadual por homicídio doloso (com intenção) triplamente qualificado, Gonçalves ficou preso por um ano e três meses e, por determinação judicial, há sete meses ele responde ao processo em liberdade.

Questionado pelo promotor de Justiça Douglas Cavalheiro, que atua na acusação, o domador de cavalos se atrapalhou nas respostas logo no início do julgamento.

Fagner Gonçalves disse que tinha ido assistir a um rodeio que acontecia no Parque Lageado e de lá saiu por volta da 1 hora da madrugada. Logo que entrou no veículo, um caminhão F.4000, segundo o domador de cavalos, ele teria se envolvido numa confusão. Ele disse que um grupo de rapazes quis impedi-lo de manobrar o veículo.

Gonçalves, após ter discutido com um rapaz que vestia camisa vermelha, disse ter dado marcha à ré no caminhão F.4000 e saído do local. Ocorre que no arranque, o veículo atropelou o soldado do Exército, que ficou preso a um dos eixos do veículo.

Dali, o domador dirigiu o carro até o Jardim Itamaracá, uma distância de 15 km. No trajeto, outras pessoas, de carros, tentaram alcançar o caminhão para avisar o domador de cavalos que o soldado era arrastado. Em vão. Um irmão de Fagner, que o seguia chegou a acioná-lo pelo telefone celular.

O promotor perguntou ao domador porque ele não parou o carro assim que ficou sabendo que arrastava o rapaz. No processo consta que mesmo sabendo do acidente por meio da ligação do irmão, Gonçalves dirigiu o caminhão por 5 km e, lá, no Jardim Itamaracá, parou, tirou a vítima debaixo do caminhão e seguiu. Logo adiante, o domador de cavalos abandonou o carro e fugiu. Depois disso, ele se entregou.

No questionamento do promotor, o domador de cavalos disse apenas que não parava o caminhão por achar que as pessoas que o seguiam de carro não queriam alertá-los e, sim, repreendê-los pela confusão na saída do rodeio.

No caminhão que arrastava o militar, havia um casal amigo do domador. Ainda segundo o processo que incrimina o domador, é citado que um rapaz sobe na carroceria do caminhão, que estava em movimento, bate na cabine como tentativa de avisar o motorista que o veículo arrastava uma pessoa. Ainda assim, o domador de cavalos não teria parado o caminhão.

Sete júris homens participam do julgamento de Fagner Gonçalves, que acontece no auditório Francisco Giordano Neto. Parentes da vítima e do réu assistem à audiência que não tem hora para acabar.