A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, disse nesta sexta-feira (06) que vai insistir na comparação entre os legados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) durante a campanha eleitoral. Ela rebateu a fala de seu adversário, José Serra (PSDB), segundo quem não se pode fazer campanha “olhando pelo retrovisor”. Para Dilma, trata-se de uma tentativa de não discutir projetos representados por cada uma das candidaturas.

– Eu acho extremamente confortável e estranho [não falar do passado], porque a pessoa alega experiência. Ele foi ministro por duas vezes, inclusive poderoso ministro da área econômica [de Fernando Henrique]. Eu não vejo o que tem de retrovisor o fato de a gente discutir os diferentes projetos que ocorreram neste país. Não é questão de me vangloriar, mas eu tenho o que apresentar.

Dilma lembrou ainda que o DEM, que está na coligação de partidos que apoia Serra, entrou na Justiça para pedir a inconstitucionalidade do ProUni (programa que concede bolsas de estudo em instituições privadas de educação superior) e que, até pouco tempo chamava o Bolsa Família de Bolsa Esmola.

– Nós somos diferentes e isso não é uma questão pessoal. Nós achamos que só se cresce distribuindo renda.

Dilma, que participou ontem do primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República na TV Bandeirantes, disse não ter considerado que as discussões ficaram polarizadas entre ela e Serra.

– Não me senti atacada, não. Ele [Serra] representa um projeto que governou o Brasil no governo FHC e eu represento o projeto que governa o Brasil desde 2003. São projetos distintos e isso está posto como meu patrimônio e minha herança. E o governo Fernando Henrique tem a herança e o patrimônio dele.

Dilma assinou hoje um termo de compromisso do projeto Presidente Amigo da Criança, na sede da Fundação Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos), na capital paulista. O documento representa um compromisso de apresentar projetos que reduzam os índices de mortalidade infantil e materna, melhorem a qualidade do ensino público e protejam as crianças de todas as formas de abuso.

Em entrevista após o evento, Dilma deixou claro que não abrirá mão de citar o nome do presidente Lula ao longo da campanha. Ontem, durante o debate, ela preferiu usar o termo “nosso governo” e praticamente não falou no nome de Lula.

– Ontem eu falei ‘nosso governo’, posto que não sou presidente da República, mas não vi mudança nenhuma. Não pensem que vou abrir mão disso. Vou continuar falando do presidente Lula e do nosso governo. Posso falar ‘presidente Lula’ um dia, ‘nosso governo’, do qual eu tive a honra de participar, no outro dia. Posso falar de vários jeitos, mas não pensem que eu vou abrir mão disso.

Embora tenha gaguejado diversas vezes durante o debate e ultrapassado o tempo disponível para suas respostas, a candidata disse não ter ficado nervosa e justificou apenas não estar acostumada com a estrutura formal desse tipo de discussão.

– Vem a orquestra, toca a orquestra, você fica ali, com aquela formalidade que aqui [em entrevistas a jornalistas] não tem. Mas não é tão diferente daqui. O peso da responsabilidade está nas minhas costas todos os dias. Eu sempre digo que é mais difícil responder entrevistas da imprensa do que os debates. Muito mais difícil. Tive bons treinadores e com isso faço um elogio indireto aos senhores e às senhoras [jornalistas].