Alguns parlamentares admitem até cabular sessões em busca de votos no interior; concorrência para cadeiras da Assembleia é de 11,6 candidatos por vaga

Cálculos feitos pelos deputados estaduais já com base no coeficiente eleitoral e no número de candidatos das coligações apontam que retornar à Assembleia Legislativa no ano que vem dependerá de, no mínimo, 20 mil votos nestas eleições. Preocupados com a concorrência, alguns parlamentares admitem até cabular sessões em busca de votos no interior do Estado. Neste ano, 268 nomes disputam as 24 cadeiras da Assembleia Legislativa, o que significa uma concorrência de 11,6 candidatos por vaga.

Informalmente, os deputados já estabeleceram, por exemplo, que as votações importantes se concentrarão nas terças e quartas-feiras. De modo, que o parlamentar que precisar se deslocar na quinta-feira para o interior não perderá a apreciação de matérias relevantes. A ideia é usar a última sessão da semana para os debates em plenário.

Deputado de primeiro mandato, o líder do governo na Assembleia, Youssif Domingos (PMDB) está inserido em uma coligação composta por PMDB, PSDB, PR e DEM. O grupo tem 14 candidatos à reeleição. O parlamentar avalia que com menos de 25 mil votos não retorna à Casa. Na eleição de 2006, ele se elegeu com 27.118 votos.

Youssif cuja maior base eleitoral se concentra em Campo Grande não acredita que precisará faltar sessões. “Não vejo necessidade, dá para conciliar perfeitamente”, disse.

Em situação diferente está o deputado Marquinhos Trad (PMDB). Ele acredita que precisará se ausentar para buscar votos no interior do Estado. O parlamenta não menciona quantos precisa alcançar para retornar a Casa, mas cita que na eleição passada, sua primeira para deputado estadual, obteve 35.777 votos.

“Tenho simpatizantes em Dourados, Dois Irmãos do Buriti, Três Lagoas e Corumbá e precisarei me deslocar até lá”, conta o parlamentar que busca um segundo mandato.

Paulo Duarte diz que está em busca de ao menos 22 mil votos. O partido dele, o PT, disputa vagas na Assembleia em uma coligação com o PP. Além de Duarte, o PT tem outros três deputados que buscam a reeleição, Pedro Kemp, Pedro Teruel e Amarildo Cruz.

Duarte teve 42 mil votos nas eleições passadas quando conquistou seu primeiro mandato, mas avalia que o quadro atual é mais difícil. Ele cita que a chapa composta por PP e PT tem nomes fortes como ex-prefeitos e vereadores da Capital. Além disso, há a concorrência com o grupo adversário que está no poder.

Sobre as faltas na sessão, Duarte não pretende faltar, mas afirma que já houve questionamento entre os parlamentares sobre a possibilidade de um esforço concentrado como ocorre no Congresso. Lá, os congressistas concentraram a votação de matérias em sessões de uma mesma semana e dois “se liberam” nas semanas seguintes para fazer campanha.

“Não vejo qualquer necessidade. Acho que não atrapalha em nada”, diz Duarte que conquistou a maior parte dos votos que teve em 2006 em Corumbá e Campo Grande.

Do mesmo partido que Duarte, Pedro Kemp faz uma conta um pouco superior da quantidade de votos. “Acho que serão necessários entre 27 mil e 30 mil votos”. Ele, que busca seu quarto mandato, teve 21 mil votos nas eleições de 2006.

O petista que conquistou a metade dos votos em Campo Grande e a outra metade na região Sul não vê necessidade de esforço concentrado para liberar os deputados para as sessões. “Tem que cumprir o regimento que determina três sessões por semana. Dá para conciliar com a campanha. Nas eleições anteriores deu”, salienta.

Em busca do quinto mandato, o deputado democrata Zé Teixeira está inserido na coligação que reúne PMDB, DEM, PSDB e PR. Ele acredita que precisará obter entre 35 mil e 50 mil votos. Nas eleições de 2006, ele obteve 29 mil votos.

O parlamentar avalia que inserido em uma coligação sua reeleição será facilitada. “Se o DEM estivesse sozinho, eu não teria chances com menos de 40 mil votos”, cita o deputado. Zé Teixeira admite que talvez tenha que faltar sessões em busca de votos no interior do Estado. “Tenho base consolidada em 53 municípios. Preciso me deslocar para dar satisfação a estas pessoas”, argumenta.

Numa coligação os votos de todos os candidatos dos partidos coligados são somados como se fosse um só partido. Quanto mais votos a coligação obtiver mais deputados ele elege.

Único representante do pequeno PRTB na Assembleia, o deputado Ivan de Almeida acredita que precisará de ao menos 20 mil votos para se eleger. O partido integra coligação com os também pequenos, PTdoB, PPS, PRB e PHS. Na eleição anterior quando conquistou seu primeiro mandato como parlamentar, Ivan obteve 12 mil votos.

Apesar de saber que neste ano precisará ampliar seu eleitorado não vê necessidade de faltas às sessões ou de esforço concentrado. “A Capital fica no centro do Estado. O deslocament o é relativamente rápido para o interior. No Congresso é diferente porque os parlamentares precisam se deslocar para os estados”, disse.

Já o deputado Amarildo Cruz, do PT, pensa diferente de Ivan de Almeida. Ele cita que há municípios distantes 400 quilômetros da Capital, portanto, há sim demora no deslocamente e conseqüente dificuldade de conciliar sessões e campanha. Amarildo conquistou seu primeiro mandado em 2006 obtendo 18 mil votos, mas acredita que nestas eleições precisará de 23 mil.

“Não vejo problemas no esforço concentrado. Concordo com ele. Desde não haja prejuízos para os trabalhos da Casa. Poderíamos, por exemplo, realizar sessões de segunda a sexta e liberar os deputados na semana seguinte”, sugere.

Mas, coforme parlamentares, tal possibilidade dependeria de alteração no Regimento Interno que hoje não contempla a existência de esforço concentrado. “Até mudarmos o Regimento já acabou a campanha”, calcula o deputado Pedro Teruel (PT) que em busca do quarto mandato ele admite faltas para fazer campanha.

Pelo Regimento Interno, o limite de faltas sem justificativa possível para um deputado estadual é de um terço do número de sessões plenárias. Por ano, a Casa de Leis realiza pouco mais de 100 sessões. Se extrapolar o limite, ele pode perder o mandato. Comparecimento à campanha eleitoral não serve como justificativa.

Custos

Nestas eleições, os deputados estaduais que buscam a reeleição declararam ao TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral) de Mato Grosso do Sul que o teto de gastos deve ficar entre R$ 1,5 milhão e R$ 2,5 milhões.

No mês passado, um levantamento divulgado pela coluna da jornalista Mônica Bergamo do jornal Folha de São Paulo aponta que o voto para deputado estadual em Mato Grosso do Sul seria o 3º mais caro do País que sairia por R$ 13,8 por eleitor. No topo do ranking estaria Roraima onde o custo é de R$ 28 por eleitor, em seguida vem Distrito Federal com R$ 14. Em São Paulo e no Rio, o voto “custa” cerca de R$ 4.

Os valores, conforme a colunista, constam de tabela feita a partir de dados oficiais do TSE. A planilha circula entre alguns dos maiores grupos empresariais do Brasil, com sede em SP, para ajudá-los a dar dinheiro para candidatos nas eleições, informa a coluna. A tabela teria sido elaborada tendo como base o custo médio das campanhas de 2006, recalculado para valores de 2010 e dividido pelo número de eleitores.