Comunidade da alameda Vulcano recebeu o certificado definindo-os como “Remanescentes de Quilombo”. O título foi dado pelo Ministério da Cultura

A comunidade quilombola da alameda Vulcano recebeu o certificado definindo-os como “Remanescentes de Quilombo”. O título foi dado pelo Ministério da Cultura, através da Fundação Cultural Palmares e divulgado em Diário Oficial no início deste mês. A comunidade ribeirinha “Família Ozório” é a primeira de Corumbá a receber a certificação e agora terá atenção especial dos órgãos federais, estaduais e municipais.

O processo de registro vai garantir que recursos sejam destinados para essa população.  “Essa certificação garante possibilidade de inclusão em políticas sociais de vários Ministérios, através do Governo Federal, como educação, saúde, cultura. Na educação, por exemplo, garante merenda escolar diferenciada para crianças dessa comunidade, capacitação de professores e até construção de escolas. Na Saúde, permite a implantação de Centro de Saúde da Família, de acordo com as necessidades da comunidade. A Funasa pode fazer ações de saneamento básico na região. Já na Cultura podem ser instalados pelo Ministério os pontos que podem proporcionar acesso à inclusão digital”, explicou ao Diário, Maurício Reis, diretor do Departamento de Proteção do Patrimônio Afrobrasileiro da Fundação Cultural Palmares.

A comunidade, localizada na alameda Vulcano, no Centro de Corumbá, é formada por 400 pessoas, que são descendentes de quilombolas, por isso o título de “Remanescentes de Quilombo”. O certificado proporciona para esta população, através de trâmites legais, a garantia da posse da terra e o desenvolvimento sustentável das comunidades remanescentes dos quilombos. Neste caso, o cálculo, demarcação e titulação de posse, ficam a cargo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Para a presidente da Associação da Comunidade Quilombola Família Ozório, Angélica Rodrigues Ozório, este é mais um processo importante no resgate da cultura de seus antepassados. “Ficamos felizes com a certificação. Nós buscamos sempre conseguir a melhoria de nosso povo. Este título vai ajudar a gente ‘brigar’ pelos nossos direitos”, contou.

A presidente reforça que apesar do certificado, este título não deve ficar somente no papel. “Agora estamos fazendo com que a nossa cultura seja vista de forma diferente. Não é somente dizer que somos quilombolas, precisamos vivenciar a cultura  negra envolvida na questão”, ressaltou. Segundo ela, todos os moradores da comunidade são irmãos, primos, sobrinhos e participam das festas religiosas como São João, Santo Antônio, São Cosme e Damião e Nossa Senhora Aparecida. O título começou a tramitar após auxílio do Instituto da Mulher Negra do Pantanal (IMNEGRA).

Tudo em família

A comunidade está instalada na alameda Vulcano há mais de 25 anos. De acordo com a secretária da associação, Luzia Rodrigues Ozório, o ambiente que encontraram estava bem diferente do atual. “Não tinha rua e quando construímos nossas casas, tínhamos que levar os materiais de construção dentro de baldes, pois carro não entrava aqui. Desde 2004 estamos buscando melhorias para nossa gente, como água encanada, luz e uma quadra de esportes para as crianças”, contou.

O resgate da comunidade começou após a descoberta de que Miguél Ozório e Ercília Rodrigues Ozório, fundadores da região, e vindos do estado de Minas Gerais, são descendentes de quilombolas. O casal teve 17 filhos e Miguél teve mais 5, totalizando 22 novas famílias que perpetuam o sangue e a cultura deste povo. A diversão dos moradores agora se concentra na nova quadra de esporte.

“Tem dia para cada um, homens, mulheres e crianças. Nós fazemos até campeonato”, lembrou Luzia. Após a certificação, agora a Associação vai buscar auxílio para as hortas e também para a piscicultura, uma das fontes de renda da população quilombola.