O comércio mundial aumentará 10% em 2010, depois de ter sofrido uma redução de 12% no ano passado, anunciou nesta sexta-feira (23), em Xangai, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, ao apresentar o relatório anual da instituição.

 “Nossa previsão para o comércio mundial este ano é de +10% em volume, depois dos -12% de 2009”, declarou Lamy. A expectativa para o indicador foi revista para cima, já que em março a OMC projetava um incremento de 9,5% do comércio entre as nações.

Durante a Expo Mundial de Xangai, o diretor-geral da OMC declarou que o forte crescimento chinês e sua demanda por importações são um fator importante na estabilização da economia global. Isso porque muitos países aumentaram suas exportações para a China durante a desaceleração da economia mundial, o que tornou o mercado chinês “crucial” para eles.

“O crescimento do comércio registra um rápido retorno, principalmente graças ao contínuo dinamismo da China e de outros países”, explicou Lamy, em um segundo discurso pronunciado no Instituto para o Comércio Internacional de Xangai. Neste sentido, Lamy estimou que, salvo surpresas ruins, a projeção de um crescimento de 10% “pode, inclusive, ser muito conservadora”.

No primeiro trimestre do ano, o comércio internacional acumula crescimento de 25% ante os três primeiros meses de 2009. No relatório divulgado em junho, a OMC destacou o papel da demanda na Ásia no incremento das exportações globais, que avançaram 27% no período. Na China, o comércio saltou 65% no trimestre.

Brasil

No Brasil, o comércio exterior também registra forte crescimento este ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento. No acumulado até 18 de julho, as exportações estão 26,9% maiores do que no mesmo intervalo de 2009, pela comparação de média diária. A variação das importações, porém, é muito maior, com crescimento de 45%. Isso explica por que, apesar de as exportações terem aumentado, o saldo comercial é menor do que o do ano passado.

A balança comercial acumula no ano, até o dia 18 de julho, superávit de US$ 9,216 bilhões, com média diária de US$ 68,3 milhões. Essa média é 42,6% inferior à verificada no mesmo período do ano passado, quando as vendas superaram as compras em US$ 16,058 bilhões.

No período, as exportações somam US$ 99,066 bilhões (média diária de US$ 733,8 milhões) e as importações, US$ 89,85 bilhões (média diária de US$ 665,6 milhões).

Recursos naturais

Em seu informe, a OMC incentiva os países a reforçarem sua cooperação na área do comércio internacional dos recursos naturais, advertindo sobre possíveis novas tensões em caso contrário.

“Acho não apenas que é possível encontrar, nas negociações, compromissos mutuamente benéficos, que abarquem o comércio dos recursos naturais, como também que o fato de não tratar dessas questões seria uma fonte de crescente tensão nas relações comerciais internacionais”, afirma Lamy no relatório.

Em 2008, o comércio de recursos naturais representava US$ 3,7 trilhões, ou seja, 24% do comércio mundial de mercadorias. Este valor sextuplicou entre 1998 e 2008.

A Rússia é o primeiro exportador mundial de recursos naturais, com uma fatia do mercado de 9,1% em 2008, em especial graças à forte alta dos preços dos combustíveis. A Arábia Saudita ocupa o segundo lugar com 7,6%. Do lado dos importadores, os Estados Unidos encabeçam a lista ao comprar 15,2% dos recursos naturais à venda em 2008, seguidos do Japão (9,1%) e da China (8,6%).

Mas frente ao caráter não renovável de certas matérias-primas, os países ricos em recursos naturais geralmente limitam as exportações através de tributação ou de restrições quantitativas, assinala a OMC.

Essas tarifas sobre as exportações dizem respeito a 11% do comércio de recursos naturais, contra 5% do de outros produtos, segundo o informe.

 Estas medidas têm efeitos prejudiciais para os outros países ao influenciar os preços mundiais e afetar os benefícios entre importadores e exportadores, lamenta a OMC, que recomenda tomar medidas que permitam favorecer a conservação dessas matérias-primas.