Fortalecido pela vitória na eleição majoritária estadual, capitaneada pelo ex-governador e senador eleito, Aécio Neves, o PSDB mineiro aposta que a prática irá evidenciar o fim da hegemonia paulista no partido. Aécio já articula apoios visando estabelecer uma agenda própria do Congresso, para tirar o Parlamento do que considera um papel de submissão em relação ao Executivo. A intenção é fazer com que o Legislativo tome a iniciativa de discutir reformas estruturantes para o País.

O secretário-geral do PSDB, deputado federal Rodrigo de Castro (MG), admite que a perda de espaço no Congresso “é um dificultador a mais para a oposição”, especialmente em relação ao Senado, mas diz que o objetivo é fazer uma “oposição de qualidade”.

“Vai ser sempre uma oposição firme, uma oposição serena, é claro, sempre visando o bem do Brasil, dialogando quando tem de dialogar, mas também mostrando os pontos fracos e mostrando os caminhos. Com certeza será uma oposição de qualidade”, afirmou Castro, ao comentar o resultado da eleição presidencial, no fim da noite de domingo, 31.

Um dos mais importantes aliados de Aécio, o secretário-geral considera agora fundamental a união do partido. “Não se faz um projeto presidencial pensando numa hegemonia de quem quer que seja, ou de um estado em relação ao outro”, disse, garantindo que não há “cisão” entre Minas e São Paulo. “O PSDB tem de ter, por exemplo, uma presença maior no nordeste, o PSDB tem que ter uma articulação melhor com outros partidos da oposição. Então, são vários desafios que temos que atravessar, sempre almejando a unidade do partido e não a cisão.”

“Arrogância”. Os tucanos mineiros já esperavam reações como a de Xico Graziano, coordenador do programa de governo de José Serra, no Twitter. O presidente do PSDB-MG, deputado federal Narcio Rodrigues, rebateu em nota a afirmação de Graziano que, por meio do microblog, foi irônico: “Perdemos feio em Minas Gerais. Por que será?!”, postou o coordenador após a confirmação da vitória de Dilma. “Por vários motivos. Entre eles, talvez, o fato de muitos mineiros não terem esquecido a arrogância de posturas como a dele (Graziano) que, felizmente, são manifestações isoladas no conjunto das forças do nosso partido”, respondeu Narcio em nota.

Em Minas, a petista obteve 58,45% dos votos válidos, contra 41,45% do candidato tucano. Uma diferença de quase 1,8 milhão de votos, um pouco acima da registrada no primeiro turno. “Se 100% dos eleitores mineiros tivessem votado em Serra ainda assim teríamos perdido as eleições por milhões de votos”, completou o presidente do PSDB-MG.

Mesmo antes do resultado das urnas, os líderes já vinham se adiantando a eventuais cobranças pela derrota do presidenciável no Estado. Para o governador reeleito, Antonio Anastasia (PSDB), a derrota de Serra em Minas deve ser atribuída à tendência do eleitorado nacional e mineiro pela continuidade.

“Não acho que houve lavada. Na realidade, manteve-se o mesmo porcentual do primeiro turno, o empenho foi visto”, afirmou. “Como se antevia, nós tivemos uma decisão dos brasileiros e dos mineiros também pela continuidade. Isso já era discutido há mais tempo.”

Empenho reconhecido. Segundo Castro, o próprio Serra reconheceu publicamente o empenho de Aécio e Anastasia em seu favor. O fato de o candidato derrotado do PSDB ter feito um discurso de líder da oposição, e ignorado Aécio, foi minimizado nesta segunda-feira, 1º, por um influente tucano mineiro. “É algo lógico. O Serra não podia falar que ia para casa, colocar um pijama. É óbvio que essa hegemonia (paulista no PSDB) acabou.”

Em São Paulo, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), esteve na residência do candidato derrotado José Serra. Ao chegar, o senador afirmou a repórteres que, ao contrário de 2006, o PSDB esteve unido durante a campanha. Por isso, condenou o comentário que Xico Graziano, coordenador do programa de governo de Serra, fez no Twitter. O ex-secretário do governo paulista e coordenador do programa de governo de Serra questionou a surpreendente derrota do tucano em Minas Gerais, um ataque indireto ao senador eleito Aécio Neves.

“O Xico é um companheiro nosso, um grande quadro, mas está completamente equivocado. Não falei com ele, mas ele está errado. Todos trabalhamos pela eleição do Serra, inclusive o governador Aécio Neves, e com muita força e muita determinação. Acho que ele cometeu uma injustiça”, disse.

Balanço. O senador afirmou também que um balanço sobre o resultado do pleito deverá ser feito apenas no fim da próxima semana, em uma reunião da diretoria executiva do partido. Guerra, porém, adiantou que o PSDB considerou a disputa “desequilibrada”, visto que, na sua opinião, Serra precisou enfrentar não só a adversária, mas também a máquina pública.

“Nossa estrutura era infinitamente menor que a do PT e a da candidata deles. Só um cego não viu (o uso da máquina administrativa). Mesmo assim, tivemos 45% dos votos, elegemos oito governadores, além de dois do DEM, e elegemos deputados e senadores consistentes. Crescemos como partido.”