Cartunista Glauco salvou a vida de ex-menino de rua
“Eu era muito, muito mau”, afirma Clint Bernardes, 30 anos, batizado em homenagem ao ator e diretor Clint Eastwood, adorado por seu pai. “E se não fosse pelo Glauco, a esta altura estaria morto e enterrado.” Clint se refere ao cartunista Glauco Villas Boas, 53 anos, morto a tiros na madrugada desta sexta-feira (12) em […]
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“Eu era muito, muito mau”, afirma Clint Bernardes, 30 anos, batizado em homenagem ao ator e diretor Clint Eastwood, adorado por seu pai. “E se não fosse pelo Glauco, a esta altura estaria morto e enterrado.”
Clint se refere ao cartunista Glauco Villas Boas, 53 anos, morto a tiros na madrugada desta sexta-feira (12) em sua casa em Osasco, na Grande São Paulo. Raoni Villas Boas, de 25 anos, filho de Glauco, também foi assassinado.
“Clintinho”, como era chamado pelo cartunista, o conheceu em 1993, aos 14 anos, quando vivia nas ruas de São Paulo e era usuário de crack. “Eu ia sempre numa casa pegar droga, e o Glauco alugou essa casa. Ele me viu e veio falar comigo, perguntou se eu queria me curar”, lembra. Clint e mais três amigos passaram, então, a frequentar a igreja fundada por Glauco, que segue a doutrina do Santo Daime. Nenhum dos amigos ficou.
“Eu voltei para a casa da minha mãe, de onde eu tinha fugido. Aprendi a acreditar e agir de acordo com o que é certo. A andar direito, a trabalhar, a não roubar e a não querer o que é do outro.”
Logo começou a trabalhar com Glauco e virou seu office boy. Naquela época, ele conta, quando não existia computador, o cartunista fazia suas tiras a mão e era ele quem levava até o jornal que as publicava, no Centro de São Paulo. “Depois disso fui trabalhar com outras coisas, mas nunca perdemos contato. E voltei a trabalhar com ele como motorista, quando tirei minha carteira de habilitação.”
Era Clint quem levava Raoni, o filho de Glauco, à escola. “Ele era cinco anos mais novo que eu, mas crescemos juntos e éramos como irmãos. Eu que ensinei ele a dirigir. Era um cara muito brincalhão, alegre, não tinha quem não gostasse dele.”
Com o amigo, tinha o sonho de comprar um carro. “Nós sempre dizíamos que compraríamos um Golf. O meu seria preto, o dele, vermelho.” Entre as memórias que guarda de Glauco, Clint se lembra de quando ele criou Faquinha, um de seus personagens. “Ele me chamou para ver e me disse que era um menino de rua. Na hora me identifiquei, acho que ele pode ter feito baseado em mim.”
Família abalada
Clint atendeu a reportagem do G1 durante o velório de Glauco e Raoni, próximo à casa do cartunista e da igreja que ele fundou. Contou que soube da notícia da morte de pai e filho ainda na madrugada, e que mal podia acreditar. “Achei que fosse algum tipo de brincadeira.”
Desde então, está junto da família e dos amigos, mas diz que não sabe exatamente o que aconteceu no momento em que os dois foram mortos. “Não falei com a esposa do Glauco ainda, ela está muito abalada, não conseguiu nem ver os corpos.”
Clint não acredita que Raoni possa ter reagido a uma suposta tentativa de roubo ou sequestro. “Com violência, não. Mas acho que pode ter tentando intervir em defesa do pai dele.” Agora, diz ele, a vida segue. “Acho que eles gostariam apenas que continuássemos com a história deles, que era o Daime. É um filosofia simples, ligada à natureza. É aprender a ser gente.”
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