Com o início oficial da campanha eleitoral, os principais candidatos à Presidência foram às ruas nesta terça-feira para seu primeiro “corpo a corpo”, mas ainda sem apresentar o detalhamento de suas propostas de governo.

De acordo com a lei eleitoral brasileira, os candidatos não têm a obrigação de apresentar, formalmente, um documento com suas sugestões para cada área, mas apenas suas diretrizes ou um resumo do programa.

Os comitês de campanha dos três principais candidatos – José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) – dizem que ainda estão “fechando” o documento final com seus partidos aliados, mas que ainda não há previsão para sua divulgação.

Para o cientista político da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Geraldo Tadeu Monteiro, a demora na divulgação de propostas ainda é uma “velha prática” da cultura política brasileira.

“Os candidatos contratam marqueteiros, discutem alianças, formam suas equipes, para só então começarem a pensar no detalhamento de suas propostas, quando isso deveria vir em primeiro lugar”, diz.

Para Monteiro, a ausência de propostas também é reflexo de uma característica forte da política brasileira: o personalismo.

“O candidato não apresenta suas ideias e o eleitor tradicionalmente também coloca o programa em segundo lugar, privilegiando o candidato em si”, diz.

“Minha avaliação, porém, é de que os candidatos devem ficar atentos, porque isso está mudando. O eleitor cada vez mais quer saber das ideias”, acrescenta o cientista político.

Demanda

Ainda segundo o professor da UERJ, as propostas acabam aparecendo “sob demanda”, ou seja, à medida que os candidatos são questionados em eventos e sabatinas.

“Esse papel (de questionar) acaba recaindo sobre a sociedade civil mais organizada, como sindicatos, confederações e a imprensa, que podem pressioná-los em questões específicas”, diz.

Já o cientista político da MCM Consultores, Amaury de Souza, diz que a divulgação dos programas finais de governo, na prática, acaba coincidindo com o início da propaganda eleitoral gratuita, que neste ano começa no dia 17 de agosto.

Para ele, os espaços no rádio e na TV são o “grande instrumento” para o detalhamento dos programas de governo, pois permitem que cada candidato explique suas ideias de forma mais didática.

“Precisamos lembrar que o grosso do eleitorado tem notória dificuldade de escolarização. Não adianta colocar na mão dele um calhamaço com centenas de sugestões para o próximo governo”, diz.

Ainda de acordo com Souza, a exigência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que os candidatos apresentem programas preliminares de governo no momento do registro da candidatura, ainda em julho, “acaba sendo meramente burocrática”.

“Vimos que eles acabam entregando qualquer coisa”, diz.

Para atender à exigência do TSE, a equipe de Serra entregou ao órgão nesta segunda-feira dois discursos do candidato, enquanto os petistas chegaram a protocolar um documento defasado, datado de fevereiro, e acabaram tendo de substituí-lo por outro documento no final da tarde.

‘Pistas’

Na avaliação de especialistas, nessa fase, a saída para saber mais sobre as propostas é observar os “discursos” dos candidatos, sobretudo em entrevistas e durante a participação em eventos públicos.

A explicação é de que, apesar de os programas finais de governo ainda estarem na gaveta, os postulantes ao Palácio do Planalto já deram algumas “pistas” do que pretendem fazer se eleitos.

O candidato José Serra, por exemplo, tem feito duras críticas ao que classifica como “inchaço” da administração federal, mas já garantiu que pretende “ampliar” o Bolsa Família, principal programa social do governo Lula.

A educação também tem aparecido com frequência no discurso tucano. Durante a convenção do PSDB, em junho, Serra disse que pretende colocar dois professores por sala de aula na primeira série do ensino fundamental, além de criar mais de um milhão de novas vagas em escolas técnicas.

A candidata do PT, Dilma Rousseff, defende os principais projetos desenvolvidos durante o governo Lula, mas evita falar simplesmente em continuidade. Na convenção do partido, há cerca de dois meses, uma das frases mais usadas foi a de que “o Brasil precisa seguir mudando”.

Além de se apresentar como a candidata “legítima” do Bolsa Família, Dilma Rousseff também defende uma maior participação estatal em setores da economia, como por exemplo no subsídio para aquisição da casa própria.

Já a candidata verde, Marina Silva, faz questão de associar-se à questão ambiental, sempre usando o conceito de crescimento sustentável. Ao mesmo tempo, Marina vem se mostrando em outras arenas.

No campo econômico, por exemplo, já afirmou que defende a continuidade do tripé macroeconômico atual, baseado em câmbio flutuante, metas de inflação e responsabilidade fiscal. Uma das ideias é conter o crescimento dos gastos públicos correntes à metade do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).