Caminhão-casa homenageia a Seleção Brasileira e parte com destino a Venezuela
Cansado de levar uma vida solitária e com parcas emoções João se lembrou do seu antigo sonho e resolveu viajar pelo mundo com o seu velho caminhão Mercedes fabricado em 1957 na Alemanha.
Cansado de levar uma vida solitária e com parcas emoções João se lembrou do seu antigo sonho e resolveu viajar pelo mundo com o seu velho caminhão Mercedes fabricado em 1957 na Alemanha.
Futebol é uma paixão nacional. Isso é um fato. Mas a paixão do caminhoneiro João Aram Torrente pelas estradas, caminhões e futebol é inimaginável, insondável, inatingível.
Nascido em 1945 dentro de uma cabine de caminhão ele sempre sonhou em viajar mundo afora sem se preocupar com nada. Livre de tudo.
Os seis filhos cresceram. Há cinco anos ficou viúvo.
Cansado de levar uma vida solitária e com parcas emoções João se lembrou do seu antigo sonho e resolveu viajar pelo mundo com o seu velho caminhão Mercedes fabricado em 1957 na Alemanha.
A Copa do Mundo da África do Sul inspirou o caminhoneiro a pintar de verde, amarelo, azul e branco, o velho Mercedão. O caminhão da Copa desfila pelas ruas e chama a atenção das pessoas pela enorme parafernália em homenagem a Seleção de Dunga.
João acredita que o Brasil será campeão e antes mesmo do fim da Copa pretende zarpar para a Venezuela onde mora uma de suas filhas.
Nessa odisseia pelas estradas sul-americanas, o caminhoneiro que mora há muitos anos em Nioaque, pegou pregos, tábuas e serrote e transformou a carroceria do Mercedes num “baú” com direito a portas, janelas, escada, cozinha, sala e quarto de dormir. Uma verdadeira casa ambulante sobre rodas.
Filho de pai e mãe espanhóis, João teima em pegar a estrada. Vai sair de Dourados, passar em Nioaque para ver como estão os seus negócios e depois seguir a meta de chegar a Valência, uma cidade de pouco mais de um milhão de habitantes, 150 quilômetros depois de Caracas, onde a Venezuela abraça o Pacífico.
Esta viagem já foi feita duas vezes por João Torrente neste mesmo caminhão-guerreiro, mas desta vez será diferente. As cores do Brasil estarão estampadas em todos os lados do Mercedão que está com o motor tinindo de bom, pneus cabeludos e mecânica em dia.
João já encheu as folhas de dois passaportes e no terceiro pretende apor os carimbos de praticamente todos os países da América do Sul, já que o roteiro de volta não será o mesmo. Na ida João vai parar uns dias numa cidade boliviana onde mora um de seus filhos. Depois segue para o encontro da filha valenciana.
O caminhoneiro conta que nos quase cinquenta anos de frete e estrada conheceu o Brasil e ganhou muito dinheiro. Teve muitas mulheres, milhares de aventuras e desventuras.
Há quinze anos conheceu o Mercedão 1957. Pagou o valor de um carro novo para ficar com o bichão. João aprendeu a dirigir num caminhão desses quando tinha uns quinze anos de idade.
Depois que a esposa morreu mudou a rota de sua vida. Passou a viver do, para e no caminhão que agora é do futebol. Ainda faz alguns pequenos fretes para não perder o costume. Outras vezes como um bom senhorio vai buscar os aluguéis de suas casas em Nioaque.
– Ia reformar meu caminhão. Aproveitei e fiz esta palhaçada! Disse o caminhoneiro para justificar a loucura pela copa e por acreditar no Hexa do Brasil.
Agora vai deixar tudo para trás. Tudo mesmo. Os amigos, os quatro filhos que ainda moram no Mato Grosso do Sul, os 21 netos e cinco bisnetos e todos os possíveis e impossíveis amores das estradas e até mesmo os seus dois caminhões Alfa-Romeo que estão nas mãos de seus funcionários transportando grãos de um lado para outro.
Assim como o próprio nome diz João Aram como uma torrente desgovernada vai engolir aos borbotões linhas pontilhadas no asfalto, lépido como um Leopardo nos limites da velocidade do seu Mercedão vai em busca de outros sonhos, de outros ventos na cara, outros sorrisos de Nuestros Hermanos Bolivarianos e até mesmo um encontro com Hugo Chaves. Quem sabe? Pode estar no seu destino!!!
Mas enquanto ainda não pega a estrada o caminhão de João Torrente ainda pode ser visto pelas ruas de Dourados, Itaporã, Maracaju, Jardim, Bonito, Bela Vista, Nioaque, Bodoquena, Miranda, Corumbá…. sempre na boleia do Mercedão entusiasmado com o Futebol da turma de Dunga.
Daqui um ano quando voltar de sua redescoberta da América, João pretende ir para a Espanha de seus pais. Descobriu que a constituição espanhola lhe garante aposentadoria já que lá diz que “filho de espanhol, espanhol é”.
Depois de um suspiro profundo João Torrente lamenta não conseguir uma aposentadoria no Brasil depois de tantos anos de trabalho.
Enquanto isso não acontece o velho Mercedão com placas HQU05772 de Anastácio, some no meio da fumaça do seu escapamento para outros acampamentos onde o lamento único é de alegria pelo exercício pleno da liberdade e da vida.
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