O primeiro semestre de 2010 registrou recorde na quantidade de carros convocados para reparo, o recall, em todo o Brasil. Em seis meses, mais de um milhão de automóveis foram chamados pelas montadoras para efetuar algum conserto decorrente de falha de fabricação, o maior número para um primeiro semestre desde 1991, quando esse procedimento passou a ser obrigatório no Brasil. O antigo recorde de recalls num primeiro semestre havia ocorrido em 2008, quando 818.251 carros foram convocados.

De acordo com dados da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE), instituição que acompanha o assunto no Brasil, a indústria automobilística teve 31 recalls nos primeiros seis meses de 2010. Destes, 14 são de carros nacionais, 11 de importados e seis de motos. Em 2009, no ano inteiro, foram 45 convocações e em 2008, 39.

O conselheiro da SAE Francisco Satkunas atribui à crise financeira de 2008 uma parcela da responsabilidade pelo aumento no número de recalls. Naquele ano, o setor automobilístico foi afetado e obrigado a fazer cortes bruscos de mão-de-obra, que se refletiram nos meses seguintes. “A retomada da produção acelerada, admissão de novos funcionários e o ritmo da recuperação contribuíram para a queda de qualidade durante a produção”, afirmou Satkunas.

Para o pesquisador Rodolfo Rizzotto, autor do livro 4 milhões de carros com defeito de fábrica, que estuda recall há dez anos, o primeiro semestre de 2010 mostrou a tendência que se estenderá pelo ano todo. “2010 vai ultrapassar o total de carros convocados de todos os anos desde quando teve início o recall”, disse Rizzotto. O ano em que mais houve carros convocados foi 2000, com 1.713.712 veículos.

Mas mesmo com toda a exposição que o tema recall vem ganhando no Brasil, o porcentual de proprietários de veículos que atendem aos chamados ainda é pequeno. “Cerca de 60% das pessoas levam o carro para análise quando recebem o aviso”, disse Satkunas. E isso é ruim para o motorista que corre riscos e também para as montadoras. “Se um carro envolvido num recall não for consertado e se envolver num acidente, a culpa é do fabricante. O recall é como uma garantia de segurança da montadora”, afirmou ele.

O fato de um carro ser incluído num recall não significa que ele terá problemas, mas indica que está numa espécie de “grupo de risco”. Mas como o automóvel é uma máquina complexa e riscos aos seus ocupantes não são algo com que se deva arriscar, a indicação é a de sempre atender à convocação para reparo.

Segundo Satkunas, das origens dos problemas, 20% vêm de montagem, 10% de engenharia de projetos e 70% de peças vindas de fornecedores. O recall é uma prática que chegou ao Brasil após a aprovação do Código de Defesa do Consumidor, de 11 de setembro de 1990, cerca de 30 anos após entrar em funcionamento no mais tradicional mercado de carros do mundo, o dos Estados Unidos.

Procurada pela reportagem do Terra, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), informou que não faz comentários sobre o assunto recall.

Confira o número de carros convocados a cada ano:

1991 – 4

1992 – 1

1993 – 2

1994 – 4.000

1995 – 100.000

1996 – 1.031.000

1997 – 259.212

1998 – 227.679

1999 – 12.813

2000 – 1.713.712

2001 – 136.556

2002 – 693.864

2003 – 161.276

2004 – 186.684

2005 – 265.508

2006 – 369.021

2007 – 256.394

2008 – 1.260.767

2009 – 723.817

2010 – 1.038.558 (até junho)