Gislaine foi para o hospital com a intenção de ter a filha em parto normal. Com a briga dos médicos, ela foi submetida a uma cesariana e a criança nasceu morta

Exame de biópsia preparado por uma universidade paulista indica que a criança nascida morta no polêmico parto em que dois médicos trocaram socos antes do procedimento, em fevereiro deste ano, no hospital municipal de Ivinhema, a 297 km de Campo Grande, morreu por sofrimento agudo antes de tirada do útero da mãe numa cirurgia cesariana, informou o delegado que cuida do caso, Lupérsio Degerone Lúcio, por meio da escrivã da delegacia de Ivinhema. A gestante teria a filha em parto normal, mas com a briga dos clínicos, foi submetida a uma cesariana.

O desfecho do exame pode complicar a situação dos dois médicos, que devem ser indiciados por aborto doloso, um crime que pode motivar pena que varia de três a dez anos de prisão.

O laudo feito por amostra da placenta tirada da mulher no dia do parto, na madrugada do dia 22 de fevereiro passado, indica também que o coração da criança ainda batia uma hora antes do parto.

Ao menos dez pessoas já prestaram depoimento, entre as quais os médicos, que confirmaram a briga. O delegado pediu hoje prazo de mais um mês para concluir o inquérito.

O histórico

O pai do bebê, o soldado do Corpo de Bombeiros Gilberto de Melo Cabreira, 32, disse ao Midiamax, por telefone, três dias após o episódio, que sua mulher Gislaine de Matos Rodrigues, também de 32 anos, foi internada por volta das 17 horas no Hospital Municipal de Ivinhema. O casal, segundo Cabreira, havia combinado com o médico Orozimbo Neto que o parto seria normal.

O médico, narrou Cabreira, disse que ia sair do plantão e retornaria no dia seguinte, o que aconteceu. Gislaine, segundo o marido, fora levada até uma sala do hospital, onde teria o bebê. Isso aconteceu por volta das 23h30, disse o bombeiro, que aguardava o nascimento da filha na recepção do hospital.

Quinze minutos após ter sido avisado pelo médico Orozimbo que o parto ia começar, Cabreira viu alguns atendentes correndo em direção à sala onde Gislaine era atendida. Ele foi ao local e soube pela mulher que o médico Orozimbo e outro plantonista, Sinomar Ricardo, haviam se enfrentado numa briga corporal.

O médico Sinomar, segundo versão da mulher, teria expulsado Orozimbo da sala e dito que quem iria cuidar do parto de Gislaine era ele. De acordo com a mulher, quando os médicos começaram a briga, ela já estava sem roupa, pronta para o parto.

Policiais foram ao hospital, conversaram com os médicos e Gislaine foi levada para outra sala. “A barriga de minha mulher já estava enrijecida e os médicos naquela monstruosidade. Minha mulher sem roupas e um monte de gente entrando e saindo da sala; foi horrível. Minha mulher suplicava para os médicos pararem e atenderam a ela, mas não foi atendida”, disse.

Depois de levada para outra sala, a direção do hospital teria acionado um médico que não estava de plantão para cuidar de Gislaine. Meia hora depois apareceu o médico. “Preste atenção numa coisa: minha mulher entrou na sala de parto às 23h30 e a cesariana só foi acabar uma hora e meia. Minha filhinha nasceu toda roxa e minha mulher sofreu muito, ela só dizia que tinha acabado suas forças, eu vi tudo isso”, disse o militar.

Cabreira saiu do hospital e registrou o caso na polícia e ainda prestou depoimento no Ministério Público Estadual. “Não quero acusar ninguém agora, mas se houver culpados, que sejam punidos”, disse.

Cabreira e Gislaine já tinham comprado o enxoval do bebê. “Minha filha estava bem, já tínhamos ouvido o coração dela nos exames feitos durante a gravidez. E ela morreu por anoxia, está registrado isso”, protestou o militar.

A criança morta no parto se chamaria “Mibsan Rodrigues Cabreira”, segundo o bombeiro, que havia escolhido o nome por influência da igreja que frequenta com a mulher, evangélica. Mibsan significa “doce aroma”, na linguagem hebraica.