Banho de São João: ritual de fé e devoção dos festeiros em Corumbá

O São João de Corumbá manteve, com a descida dos andores para o banho do santo nas águas do rio Paraguai, o caráter peculiar que o consagrou ao logo de mais de 100 anos: ser uma manifestação nascida genuinamente da devoção popular. Mais de 100 festeiros mantiveram a tradição herdada de pais e avós e […]

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O São João de Corumbá manteve, com a descida dos andores para o banho do santo nas águas do rio Paraguai, o caráter peculiar que o consagrou ao logo de mais de 100 anos: ser uma manifestação nascida genuinamente da devoção popular. Mais de 100 festeiros mantiveram a tradição herdada de pais e avós e desceram com o cortejo ao Porto Geral para homenagear o santo que batizou Jesus Cristo no rio Jordão, como conta a Bíblia Sagrada.

O ritual – que busca registro nacional como Bem Cultural de Natureza Imaterial, já o tem em âmbito estadual – preserva, praticamente intactos, todos seus elementos. Na descida dos andores algumas regras de costume são seguidas. Uma delas, e talvez a mais bonita, é a de respeito entre os cortejos. Na verdade é a saudação quando as procissões se encontram na ladeira Cunha e Cruz.

No cumprimento entre os andores, quando uma imagem encontra a outra fazendo o caminho inverso, os festeiros fazem a reverência balançando os andores para cima e para baixo. Outro costume, também preservado, prega que a moça que pretende se casar, precisa passar por baixo de sete andores, se quiser ter o objetivo acelerado por São João.

“Passo embaixo dos andores, só por diversão, já sou casada”, disse Ana Paula Ferreira, complementando já ter ouvido histórias de pessoas que teriam casado alguns meses depois de ter participado da festa e cumprido o ritual dos andores. Mais contida, Suzimari Rocha, preferiu apenas assistir, da calçada, os festejos. “Acho curiosa e interessante a festa. Essa ideia de casamento é fascinante. Para mim é o charme de toda essa comemoração”, disse ela sem responder se passaria por baixo de algum andor.

A celebração inteira incorpora figuras da crendice popular, passando pela promessa ao santo; a graça alcançada e a necessidade sagrada de cumprir com o prometido. Há ainda os fogos de artifício que trazem no barulho o poder de espantar maus espíritos e acordar São João para a festa. O levantamento do mastro simboliza o desejo de fertilidade da terra, de boa colheita.

O próprio banho do Santo é carregado de simbolismo e lembra o batismo de Cristo. No momento em que a imagem é banhada, a água do rio passa a ter poderes curativos e, por essa razão, os participantes molham os pés, o rosto e outras partes do corpo. Os fiéis e devotos, já carregando o andor, dão três voltas em torno da fogueira e do mastro erguido na frente da casa e seguem para o Porto Geral. Devoção; fé e empirismo popular – que se manifesta nas crendices – são as marcas do Arraial do Banho de São João em Corumbá.

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