Com cartazes pedindo a soltura de Valdir Cipriano, acampados protestaram em frente à delegacia da Polícia Federal em Campo Grande. Para eles, o ex-superintendente agilizava os processo de liberação de terras para a reforma agrária em MS.

Indignação e revolta. Esse era o sentimento de manifestantes que protestaram na manhã de hoje (31) em frente à Delegacia da Polícia Federal, em Campo Grande, contra a prisão do ex-superintendente regional do Incra para Mato Grosso do Sul, Valdir Cipriano Nascimento.

Um grupo de aproximadamente 50 simpatizantes, amigos e familiares fez apitaço e levou cartazes pedindo a soltura do suspeito. Eles acreditam que os acampados saem prejudicados com a prisão, já que o Incra nacional suspendeu temporariamente o pagamento dos créditos aos assentados e todos os processos de obtenção de imóveis rurais.

Nascimento foi preso temporariamente por cinco dias nesta segunda-feira (30) pela Polícia Federal, no desdobramento da Operação Tellus. De acordo com a polícia, ele é suspeito de participar de um esquema de fraude na divisão de lotes que deveriam ser destinados ao programa da reforma agrária em Mato Grosso do Sul. A prisão foi concedida pelo juiz federal Joaquim Eurípedes Alves Pinto, titular da 1ª Vara Federal de Naviraí, para que o investigado preste depoimento à polícia.

Após as denúncias virem a público, o comando nacional do órgão demitiu o superintendente regional para o Estado. Além de servidores do Incra, também estão envolvidos empresários da região, líderes de assentamentos e dois vereadores do município de Itaquiraí.

Fernando Bezerra Campos, líder do acampamento Grupo Pantanal e que conta com 278 famílias, protestou contra a prisão temporária de Nascimento. Para ele, o ex-superintendente agilizava os processos de liberação de terras para a reforma agrária. “Há quatro anos a gente esperou, inclusive já tinha saído o decreto para a fazenda Mundo Novo, mas agora parou de novo”, afirmou.

Outro líder de acampamento, Oséas Gomes, afirma que muitos outros acampados tiveram medo de retaliação por parte do Incra,  se comparecessem ao local do protesto: “mais de 100 pessoas deviam estar aqui hoje, mas têm medo de perder o lote”, afirmou.

Parentes do ex-superintendente também participaram da manifestação. A sobrinha Paula Nascimento diz que não há provas para justificar a detenção do tio, e que as denúncias apresentadas pela Polícia Federal são referentes ao período em que ele não estava à frente do Incra. “É uma prisão imoral”, disse Paula.

Defesa

O advogado do ex-superintendente, João Nascimento, informou que recebeu os arquivos do processo na manhã de hoje (31), mas ele avalia que a decisão do juiz é uma afronta aos direitos constitucionais. “No próprio mandado de prisão temporária ele reconhece que não há provas, mas mesmo assim manda prender. Isso não faz parte do sistema democrático de direito”, declarou o advogado.

A defesa de Nascimento deve pedir habeas corpus na justiça federal ainda hoje. “Valdir nunca se negou a conversar com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, para atender seus requerimentos”, disse João Nascimento.

Para o advogado, a prisão temporária do ex-superintendente do Incra teria conotações políticas. As denúncias apresentadas pela Polícia Federal dizem respeito a fatos ocorridos em 2007 e 2008, período em que Nascimento não comandava o órgão. “Se a prisão for limitada a esses fatos, reforça a tese de perseguição política”, concluiu.