Garra de lutador: Nem 5 sedativos conseguiram segurar a força de Léo para viver
Lutador enfrentou uma infecção que se espalhou para os órgãos e ficou famoso no hospital pela garra durante o tratamento
Fábio Oruê –
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Nas tatames desde os 3 anos, quando começou no Karatê, Leonardo Diniz, agora aos 19, enfrentou o combate mais difícil de sua carreira em 2023: a luta pela própria vida. Porém, com a garra de um atleta de excelência, Léo, como é conhecido, tirou de letra.
“Mesmo intubado com cinco sedativos com dosagens altíssimas, drenos, sondas, muita dor, ele ainda tentava se comunicar. Abria os olhos, apertava nossas mãos, respondia perguntas acenando a cabeça, indicava com os dedos; chorava. Durante as cirurgias, que foram cinco, ele acordava e conversava. Os anestésicos não o sedavam”, conta a mãe do lutador, Andréia Diniz, que viveu momentos de angústia no hospital.
Assim como Joyce Byers, de Stranger Things (Netflix), fez para se comunicar com Will no mundo invertido, Andréia não mediu esforços para que pudesse conversar com Léo, que lutava sem sair do lugar.
“Fizemos um alfabeto escrito no papel para nos comunicarmos com ele. A fama dele se espalhou no hospital; alguns o chamavam de lutador, outros de Sansão. Eu sabia que a força dele vinha de Deus. Meu filho sofreu muito, lutou pela vida, é um guerreiro”, diz a mãe, que agora respira aliviada.
Se Léo consegue contar a própria história hoje é por mérito de campeão. O prodígio começou aos 3 anos no Karatê por influência do pai e do irmão, que já treinava. Aos 10 migrou para o Muay thai e começou a competir.
Em 2020 foi para o Jiu-jitsu já pensando no MMA (Artes Marciais Mistas), no qual começou a migração neste ano. Na sua trajetória, foi por duas vezes campeão brasileiro de Muay thai, bicampeão estadual de Muay thai consecutivo e campeão brasileiro Centro-Oeste de Jiu-jitsu peso e absoluto, em 2022. A lista ainda contempla a conquista do mundial de Jiu-jitsu também no ano passado.
Início de um sonho
Para finalmente conquistar o sonho de entrar para o MMA, Léo saiu de Mato Grosso do Sul com destino a São Paulo. Dos testes na academia, o atleta conseguiu integrar o hall de lutadores profissionais da modalidade até se machucar.
“A origem do machucado no dedo a gente não sabe na verdade. Eu nem sei se machuquei treinando, às vezes posso ter batido o pé andando na rua. Só sei que teve um dia que eu cheguei em casa e meu dedo estava doendo muito. Uma dor insuportável”, relata Leonardo ao Jornal Midiamax.
Dentro de uma semana, a situação não mudava e o dedo continuava inchado, vermelho e doendo. Um raio-x descartou uma fratura, mas nem os remédios e as compressas receitadas pelo médico melhoravam a suposta inflamação.
“Até que chegou num dia que eu comecei a vomitar. Vomitava e me dava febre; até achei que estava com dengue. Fiquei tomando soro e começou a doer a coluna porque eu estava pisando torto. Meu pé também já estava ruim para pisar”, conta Léo.
Os remédios não funcionavam e mais nada parava no estômago quando o atleta. Muito mal, Léo precisou ser levado para um hospital pelo amigo também lutador, com quem divide uma casa em São Paulo. Sem ter fé no SUS (Sistema Único de Saúde), a saída foi procurar o hospital particular mais perto.
Já sem conseguir andar, o atleta fez exames e foi informado que deveria ser internado, pois o caso era grave. Nesta altura, o pai, que estava em Aquidauana, já se deslocava até São Paulo. Por conta da lesão no dedo, Léo contraiu uma infecção bacteriana, que atingiu a corrente sanguínea e se espalhou pelos órgãos.
“Tive que fazer um exame do coração para ver a bactéria não tinha se alojado. Viram que ela tinha passado, mas não estava alojada, e me internaram. Quando eu fui internado eu lembro bem pouco. Eu fiquei 14 dias entubado. Foi quando eu fiquei apagado”, lembra o atleta.
1º round
Andréia também foi para São Paulo para ficar ao lado do filho e prometeu que só voltaria para MS trazendo Léo recuperado. “O Léo foi intubado 2 vezes em coma induzido. A primeira foi para se submeter a 2 exames que iriam detectar a presença da bactéria ou não no coração. No mesmo dia ele foi extubado. Ao sair do centro cirúrgico após a primeira cirurgia ele retornou intubado e assim ficou por 14 dias”, relata a mãe ao Jornal Midiamax.
“Nessas horas você parece que leva um choque e se sente em um filme de terror. O coração parece que é dilacerado e a dor é tão real que parece q você não vai suportar”, conta Andréia. Segundo a equipe médica responsável pelo tratamento. Leonardo só sobreviveu porque é “jovem, atleta e muito forte”.
“Sempre acreditei no restabelecimento dele porque para quem tem fé, desistir nunca é uma opção, e eu nunca desistiria dele”, diz. Ela relembra que em alguns momentos o corpo respondia bem ao tratamento, mas em outros não respondia ou se alterava de maneira negativa.
“Os médicos faziam uma analogia ao tratamento com o jogo de xadrez. A medida que o corpo e os medicamentos iam apresentando ou não resultados, eles iam movimentando novas peças”, explica Andréia.
Rede de apoio
Toda essa história também foi cerca da de muita fé e solidariedade. Como num tatame, enquanto Leonardo lutava, amigos, familiares e até desconhecidos torciam por ele em oração e formando uma corrente de apoio, como numa plateia.
“Declaro com toda certeza que Deus direcionou o rumo do tratamento para que o Leo não se desgastasse mais e a recuperação fosse mais rápida. Eu digo isso porque eu tive um sinal de Deus. Fiquei emocionada ao ver a dimensão dessa corrente de fé clamando por um milagre”, relata Andréia.
Durante essa luta pela vida, o atleta precisou de doações de sangue e também dinheiro para arcar com alguns custos. “Pessoas de várias cidades ou denominações religiosas se uniram em um só propósito, isso é lindo de se ver. Conseguimos 21 doadores para uma tipagem de sangue A-“, diz a mãe.
O convênio não cobriu todo o tratamento e a família ficou com uma conta para pagar com o hospital particular. Amigos criaram uma vaquinha para ajudar os familiares com a dívida, com a meta de R$ 30 mil. O total arrecadado foi de R$ 30.336,44.
2º round
Depois de 14 dias, Léo finalmente acordou, mas ainda sem poder comer e respirando com ajuda de aparelhos. “Para mim foi muito rápido, esses 14 dias foi como piscar e acordar”, conta. Nas duas semanas seguintes o corpo ainda rejeitava comida, mas a melhora foi gradativa.
“Uma das partes que eu mais fiquei preocupado foi que eu acordei e não conseguia mexer a perna. Eu não tinha força nem para ficar sentado. Tinham que ficar me segurando. Como eu fiquei muito tempo deitado, eu perdi o movimento das pernas”, relembra o atleta, que precisou fazer fisioterapia e em duas semanas já estava andando novamente.
Agora na sua cidade natal se recuperando, Léo pretende voltar a treinar já em agosto, se os médicos permitirem. “Até o final do ano quero lutar num campeonato de Jiu-jitsu para ir voltando ao ritmo. Em novembro ou dezembro quero estar preparado para lutar um campeonato”, revela. Os planos também incluem retornar para São Paulo e retomar a vida e os treinos.
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