Foram 23 anos de suor, em campo para os jogadores e fora para Mário Angelo Ajala, que encerrou as atividades do Campeonato Terrinha. A competição de futebol amador é a maior de Campo Grande.
“Ali é minha paixão, estou muito triste, já chorei bastante. Mas eu tive que tomar uma decisão, está virando uma bola de neve na minha vida”, disse Mário. Enquanto estava em ‘campo’, o organizador vivia alegrias ao ver a bola rolar.
Nos bastidores, encontrava a situação do campeonato decaindo. Ao Jornal Midiamax, ele admitiu que um conjunto de fatores culminaram no encerramento da competição. “Infelizmente, muitas coisas, problemas pessoais, saúde, financeiro”.
Para Mario, a maior dificuldade é financeira. “O último campeonato tive prejuízo de R$ 8 mil e nos últimos anos tem R$ 42 mil que tenho que receber”, comentou sobre os valores de inscrição que não recebeu.
Pagamento parcelado
O organizador contou que parcelava em até 10 vezes a inscrição de R$ 1 mil para equipes. “Eu parcelo em 10 vezes e mesmo assim as pessoas deixaram de me pagar”, lamentou.
Segundo ele, o valor foi cobrado nas últimas edições. Na competição, eram de 20 a 24 equipes participando e a premiação total era de aproximadamente R$ 16 mil.
Então, num cenário com 24 equipes competindo, o valor arrecadado seria de R$ 24 mil. Descontados os R$ 16 mil em premiações, restavam R$ 8 mil. “O restante era para comprar bolas, troféus e materiais”, explicou.
Mario disse que chegou a parcelar em até oito vezes as bolas para os campeonatos, que custavam cerca de R$ 270 cada uma. “Houve descumprimento das equipes com o meu campeonato, eles valorizaram outros campeonatos”, apontou.
Churrasco e cerveja
Nem sempre o Campeonato Terrinha entregou premiações em dinheiro. Antigamente, as equipes vencedoras ganhavam carne para churrasco e cerveja.
Ele relatou que novos campeonatos surgiram e premiavam com dinheiro. Assim, explicou que precisou se atualizar para manter as equipes interessadas. “O futebol amador tinha que acabar um pouco com o dinheiro”, criticou.
Mario afirmou que antes, as equipes queriam “jogar o ano inteiro, sem ficar de olho só no dinheiro”. “Eu dava carne e cerveja do primeiro ao quarto lugar, eram 30 kg de carne e 15 caixas de cerveja para o primeiro colocado”, disse.
No entanto, se atualizou e começou a premiar com dinheiro. “Nos últimos 5 anos, o pessoal começou a entrar com dinheiro. Começou uma rivalidade, começaram a não querer participar porque eu dava só cerveja e carne. Tive que equilibrar”.
Saudade do Campeonato
Assim, um ciclo encerra para Mario e as equipes que participavam. “Saudade, saudade e saudade. Eu tenho minha paixão, é o futebol amador”, destacou.
“Esses 23 anos eu sempre tive ali a frente, sempre gostei de organizar e agora vai ficar só a saudade e acabou”, lembrou. Mario afirmou que todas as edições do campeonato foram livres de patrocínio e apoio de entidades. “Sempre eu que mantive meu campeonato”, pontuou.
Além dos problemas financeiros, Mario optou por priorizar a saúde. “Eu tive problema, minha diabetes aumentou muito, venho sofrendo muitas dores nas pernas, sofri um acidente gravíssimo no ano passado. Desse acidente me causou fratura na perna e fissura na coluna, quase fiquei paraplégico”, disse.
No entanto, Mario disse que "é um fim temporário, não é um adeus para sempre". "Acho que levo de um a um ano e meio para me organizar", justificou. Na próxima vez em que abrir o campeonato, o organizador garante que cobrará as inscrições antes do início da competição. "Voltarei mais organizado", afirmou.
Começo de tudo
O Campeonato 'do Terrinha' é conhecido por ser a maior competição de futebol amador de Campo Grande, porém, o que muitos não sabem, é que a história que reúne os amantes de society começou há 23 anos após grande confusão.
Na verdade, competições no campo chamado Terrinha, de 42x54 metros, que está localizado na Rua Yokohama, na Vila Almeida, acontecem há mais de 50 anos, entretanto, há 22 anos o campeonato começou a ser organizado por Mário ngelo Ajala. "Eu era dono de time e participava de campeonatos [no Terrinha]. Saímos fora nas oitavas de final, mas continuei assistindo à competição”, lembrou.
Então, afirmou que uma discussão marcou o início do compeonato. “Houve discussão com o responsável pelo torneio, pois ele não tinha premiação para pagar aos vencedores. Então, eu decidi que iria dar os troféus, medalhas e pagar em carne e cerveja. A partir daquele momento, eu assumi", disse ele, que reviveu ao contar a história.
Com o passar dos anos, o campeonato foi ganhando corpo e passou de 8 equipes para as 24 que disputavam o torneio, que já chegou a ter quase 30 times. Mario preferiu reduzir o número de participantes para que a competição não se prolongasse por muito tempo.
Por fim, a competição tinha duas modalidades: amadores e veteranos [com participantes a partir de 40 anos, com exceção do goleiro que pode ser a partir de 35 anos e de dois jogadores com 38 anos].