O chefe maior do futebol mundial foi eleito na última sexta-feira para um quinto mandato

Quase uma semana após as primeiras prisões na Suíça, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, renunciou ao cargo nesta terça-feira em pronunciamento na sede da entidade. Mandatário da entidade desde 1998, o chefe maior do futebol mundial foi eleito na última sexta-feira para um quinto mandato , mas, poucos dias depois, anunciou que convocará um novo congresso, que deve ser realizado entre dezembro e março, para eleger outra pessoa para o cargo.

“Esses anos foram muito ligados à Fifa. Eu aprecio e amo a Fifa mais que tudo, e só quero fazer o melhor para o futebol e para a Fifa como instituição. Fifa precisa de uma reestruturação profunda. Enquanto eu tenho o apoio dos membros da Fifa, sinto que não tenho do resto do mundo do futebol. É por isso que vou reunir um congresso extraordinário e colocar meu cargo à disposição, será decidido o novo presidente. Um congresso o mais rápido possível para eleger meu sucessor”, anunciou Blatter em entrevista convocada na sede da entidade.

A saída do presidente contrasta com a manifestação de força que Blatter exaltou após a eleição da última sexta-feira. À época, o mandatário afirmou que não tinha medo de ser preso e mostrou tranquilidade com as investigações feitas pela Justiça dos Estados Unidos. A entrevista desta terça foi marcada com a expectativa de que fosse uma declaração de defesa de Valcke após as últimas denúncias, mas culminou com a renúncia do suíço.

Na última quarta-feira, o escândalo de corrupção foi deflagrado com a prisão de sete membros do alto escalão da Fifa em um hotel de luxo na Suíça, inclusive José Maria Marin, ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). A Justiça americana ficou mais próxima de chegar a Blatter após a divulgação pelo New York Times na última segunda-feira de que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, estaria envolvido em um pagamento de propina. Valcke é o braço direito do mandatário na entidade.

“Não temos controle sobre os membros das confederações, mas suas ações são de responsabilidade da Fifa, Por isso precisamos de uma reestruturação, O tamanho do comitê executivo tem que ser revisto. Gostaria de agradecer todos que sempre me apoiaram em uma maneira leal e contrutiva e que fizeram muito pelo futebol. Eu repito: o que mais vale para mim é a instituição Fifa e o futebol ao redor do mundo”, discursou Blatter.

Ironicamente, o presidente ainda defendeu em seu pronunciamento que os mandatos, tanto do presidente quanto dos membros do congresso executivo, sejam restringidos na Fifa – isso dias após ganhar eleição para um quinto mandato.

A renúncia do presidente, contudo, não se aplicará imeditamente: Joseph Blatter ficará no poder até a passagem do bastão para o sucessor. De acordo com Domenico Scala, que será o responsável pelos trâmites das novas eleições, um congresso extraordinário será convocado para os próximos meses.

“A eleição do presidente e qualquer reforma fundamental precisa ser votada pelos membros do congresso da Fifa. O próximo congresso é em maio de 2016, na Cidade do México. Isso seria uma demora desnecessária. O presidente vai pedir ao comitê executivo um congresso extraordinário. O comitê executivo é que vai decidir, pode acontecer entre dezembro deste ano e março do próximo ano”, explicou Scala.

Blatter deixa o poder marcado pelo escândalo de corrupção, que envolve compra de votos e diversas irregularidades acusadas pela Justiça dos Estados Unidos. Nos últimos dias, a Uefa retirou o apoio ao mandatário e até ameaçou uma Copa do Mundo alternativa em 2018 como forma de pressão.

 

Entenda a pressão sobre Blatter

A quarta reeleição de Joseph Blatter aconteceu em um dos momentos mais cruciais da história do futebol. Desde 1998, quando assumiu a presidência da Fifa, o suíço nunca havia corrido tantos riscos de perder o cargo como agora. Isto porque a prisão de cinco executivos e sete dirigentes da entidade na última quarta-feira, em Zurique, ajudou a arranhar ainda mais a já desgastada imagem do mandatário de 79 anos.

A operação do FBI, feita em conjunto com a polícia suíça, expôs casos de corrupção, extorsão, escândalos de irregularidades em contratos de marketing e de direitos de televisão e pagamentos de propina no processo de escolha das sedes das Copa do Mundo de 2018 e de 2022. Blatter ainda não teve o seu nome envolvido nas denúncias, mas viu a pressão sobre si aumentar consideravelmente.

Tudo começou ainda antes de a investigação da Justiça americana ser revelada. Na semana retrasada, Luís Figo e Michael van Praag retiraram as suas candidaturas à presidência da Fifa . Os dois, opositores a Blatter, detonaram o processo eleitoral da entidade e optaram por desistir do pleito para não dividirem votos com Ali Bin Al-Hussein. “Este é um plebiscito de entrega do poder absoluto a um só homem”, atacou o português.

Depois, com as prisões de dirigentes da Fifa em pleno hotel Baur au Lac dois dias antes do pleito , Blatter passou a receber ainda mais pressão. Primeiro, Diego Armando Maradona o desafiou a conseguir a reeleição . Depois, a Uefa declarou apoio à oposição e pediu a saída do suíço . Por fim, o jornalista investigativo Andrew Jennings, que cedeu ao FBI os documentos cruciais para as detenções, revelou que o atual presidente da entidade era o próximo alvo .