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‘Minha mãe não se resume à casa onde ela mora, e o presente de Dia das Mães também não’

Neste domingo especial das mães, o Midiamax propõe uma reflexão sobre a relação entre maternidade e presentes
Idaicy Solano -
(Imagem gerada por I.A)

Sempre que penso no que dar de presente a minha mãe, penso nela, e não na casa onde ela mora. Para mim, essa lógica parecia óbvia, até me dar conta de que não era todo mundo que pensava assim. Já que o dia é sobre ela, ela sempre deixou claro que gosta de ganhar presentes que expressam sua individualidade. Perfumes, sapatos, roupas, itens de beleza.

Minha mãe sempre discursou sobre o quanto era chato ganhar coisas para a casa, e me fez perceber que ao considerar panos de pratos, panelas, aspirador de pó ou qualquer presente que ficaria guardado na despensa ou nos armários da cozinha, era o mesmo que reduzir o status de ‘mãe’ a uma pessoa cuidadora do lar, ignorando quem ela era, além de ser mãe.

Não que presentear com esses utensílios não seja legal. Pode até ser, se for um desejo expresso da mulher — entendo que existam mulheres que queiram ganhar esses produtos, seja para facilitar a limpeza da casa no dia a dia, ou para complementar a cozinha dos sonhos — mas associar automaticamente a imagem da mãe ao lar, não me parece justo com as múltiplas facetas da mulher que é mãe, e que não tem a vida resumida ao status materno e às quatro paredes de uma casa.

Minha mãe nunca foi só dona de casa, e não me criou para ser só isso na vida. Desde novinha colocou na minha cabeça a ideia de que eu tinha que ir à escola, fazer e ser independente para bancar minhas contas e minhas futilidades. Ensinou-me que serviços domésticos não eram ‘tarefa de mulher’, e sim uma obrigação mínima de quem mora na casa. Então meus irmãos homens também cresceram com a obrigação de ajudar a manter as coisas em ordem.

Minha mãe me ensinou que ela sente por mim e meus irmãos um amor incondicional, mas ela segue com sua individualidade, não a perdeu só por ter se tornado mãe. Ela ainda tem sonhos, vaidades, e precisa de um tempo sozinha. Ela me teve nova, e um dia me contou que aprendeu o que era o amor ao conviver comigo, e depois com meus irmãos mais novos. Também me contou que a gestação não foi fácil, porque ela não fazia ideia de como criar uma criança e tinha receios.

Ela nunca foi uma mãe perfeita, nem tentou ser, mas sempre me acolheu em cada falha ou dificuldade, e nas alegrias e conquistas também. E para mim, isso diz mais sobre ser mãe do que qualquer anúncio de margarina na , ou slogan insinuando que o que a minha mãe precisa no dia dedicado a ela é ganhar a última geração do aspirador de pó, ou um conjunto de panelas antiaderente.

A maternidade não é um ‘presente’

Calma! Se você é mãe — ou deseja ser — e acredita que a maternidade é um presente, está tudo bem. A questão é que, em um mundo tão plural e rico em diversidade, existem mulheres que não pensam assim. Então se para você a maternidade é um presente, saiba que nem todas as mulheres acham isso.

Para algumas mulheres — como a minha mãe — a maternidade é mais sobre estar presente na vida dos filhos, oferecer a mão quando necessário e dar força para continuarmos a nossas lutas particulares, em dias difíceis. Não somos um presente embrulhado com laço e estamos longe de ser. Afinal de contas, presentes não dão trabalho, não discutem, nem fazem a mãe ficar acordada madrugada afora preocupada.

Conforme explica a antropóloga e pesquisadora em temas de gênero, sexualidade, diversidade e educação, Anna Carolina Horstmann Amorim, as mulheres são condicionadas a enxergarem a maternidade como um presente porque vivemos em uma sociedade que associa o corpo feminino à reprodução, fazendo com que o ato de ser mãe seja visto como algo natural, obrigatório e destino inevitável de toda mulher. A reprodução é colocada em um patamar de realização pessoal e social da mulher.

Além disso, também existe um vínculo entre ser mulher, ter útero e maternar, que sustenta a ideia de que o desejo de ser mãe é instintivo, e que, mesmo quando a mulher deliberadamente assume que não tem vontade de ser mãe, é bombardeada com frases do tipo “você ainda é jovem para decidir”, ou “esse desejo ainda vai aflorar”. Dessa forma, a sociedade coloca a mulher em um local em que só serão valorizadas socialmente, se tiverem filhos.

“Muitas mulheres sentem-se como se estivessem cumprindo com o destino dos seus corpos. Ser mãe é o que nos legitima socialmente, visto que ser mulher, diferente de ser homem, não tem uma gama variada de atributos que validem positivamente a nossa existência. E a maternidade é um destes poucos lugares possíveis para a nossa realização, um lugar possível para as mulheres no geral”, comenta Anna.

O presente ‘ideal’

A reportagem do Midiamax foi até o Centro de perguntar para as mães o que elas gostariam de ganhar de presente neste domingo (11). Para a jornalista Karine Alencar, o importante é que a pessoa que vai presentear faça isso com carinho, e pense nela na hora de escolher o item. No entanto, não gostaria de ser lembrada por uma panela ou um fogão.

“Eu não vou gostar de ganhar coisas para a casa, coisas para a cozinha. Quando casei, eu até gostava, porque estava montando minha casa, então foi algo momentâneo. Hoje em dia, já não gosto, até porque é para dar alguma coisa para a mãe, dar algo que ela mereça, que vá levantar a autoestima, tipo uma roupa, um sapato, uma joia”.

A dona de casa Rosane Arantes, de 48 anos, comenta que só de poder passar a data em paz e com toda a família reunida já é o suficiente, e qualquer presente dado com amor e carinho basta. “Eu gosto muito de ganhar perfumes. Nem sempre as pessoas gostam de ficar ganhando pano de prato. Gostam de ganhar alguma coisa mais para si, uma roupa, um calçado, um acessório”, opina.

Rosane gosta de ganhar perfumes e de ter a família inteira reunida (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

A vendedora autônoma Rosangela da Silva Leão, de 54 anos, confessa que tudo que gostaria de ganhar este ano, é a presença dos filhos. “Eu gosto de respeito, gosto de presença. Porque o presente só vai te alegrar aquele momento, aí elas [filhas] vão embora, fica um tempo sem aparecer, sem falar, sem comunicação. Então eu prefiro ganhar a presença mesmo”.

A fotógrafa Giovanna Resende, de 27 anos, pediu descanso. “Eu acredito que o melhor presente seria, pelo menos, um dia de descanso para que eu não precisasse me preocupar com absolutamente nada, tanto com os cuidados da casa, quanto os cuidados com o meu filho, que tudo fosse resolvido sem eu precisar ser consultada”.

Rosângela fala sobre desejos de Dia das Mães (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

Por que mães pedem afeto e presença de presente no Dia das Mães?

De acordo com a antropóloga e pesquisadora em temas de gênero, sexualidade, diversidade e educação, Anna Carolina Horstmann Amorim, a resposta é mais simples do que parece. Mães pedem por descanso, tempo livre, carinho e atenção porque são coisas que costumam faltar no seu dia a dia. Anna explica que o valor de um presente está, muitas vezes, no quanto ele se diferencia da rotina, portanto, para essas mulheres, o extraordinário é justamente poder parar, ser cuidada e se sentir amada.

Apesar da romantização acerca desses pedidos, eles apenas revelam a sobrecarga física, emocional e mental que enfrentam no exercício diário da maternidade, em que o cuidar dos outros é constante, mas o cuidado com elas mesmas é escasso.

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