Poucas coisas me deixam com tanta vergonha alheia na vida do que concursos de miss envolvendo crianças. Só de lembrar daquelas cenas que chamavam para o programa Pequena Misses, que passava na TV a cabo, me dava um desespero. Ficava louca atrás do controle remoto para mudar logo de canal, com medo de ver mais alguma cena grotesca.

E, pesquisando agora pra escrever esse post, vi várias. A pior foi um clip do programa Todlers & Tiaras, que mostra esses concursos nos EUA, onde eles são extremamente populares. A seleção de cenas tinha o tema “sessões de bronzeamento”. Mal pude acreditar. As menininhas – algumas com no máximo 3 ou 4 anos de idade – faziam cara de pânico enquanto a mãe ou o pai espirravam um spray para bronzear a pele delas. A sessão de maquiagem e cabelo vinha em seguida, mas não tive estômago.

Para mim, esse tipo de concurso, especialmente com meninas tão novas é um retrato fiel do que há de pior na sexualização de crianças, especialmente meninas. É o retrato de uma sociedade que valoriza, acima de tudo, a aparência. E, tão triste quanto, é ver como a primeira infância dessas meninas é roubada de maneira tão violenta.

Aliás, não só de meninas. Porque imagino que os pais que incentivam as filhas a participarem desses concursos também têm filhos. E que tipo de educação eles devem dar a esses meninos? A de que o valor da mulher está na beleza física e a de que homem que é homem assobia para mulher na rua e chama de nomes que prefiro não publicar aqui.

Diante desse cenário, é de se comemorar loucamente a notícia de que o senado da França votou na semana passada pela proibição de concursos de beleza para meninas de menos de 16 anos.

A política que fez a proposta, Chantal Jouanno, falou bonito ao defender a proibição, que faz parte de um projeto de lei para promover a igualdade entre os gêneros.

“Não permitamos que nossas meninas acreditem desde cedo que seu único valor está na aparência. Legisladores não têm a missão de moralizar, mas temos o dever de defender os interesses das crianças.”

Uma ala dos políticos reclamou, alegando que pena era alta demais: até dois anos de prisão e multa de 30 mil euros (mais de 90 mil reais) para quem organizar esses concursos. Para entrar em vigor, a lei ainda precisa ser aprovada pela Assembleia.

Mas, ainda assim, já deveria ser copiada imediatamente mundo afora. Incluindo o Brasil, onde acontecem diversos concursos de miss infantil, como descobri há pouco nas minhas pesquisas. Ao que parece, eles aceitam meninas a partir de 8 anos – um alento perto das garotinhas recém-saídas da fralda que vimos no programa americano (e nas fotos que ilustram esse texto).

Ainda assim, me pergunto se não seria mais útil deixar essas meninas aproveitarem a vida sem passarelas, vestidos, maquiagens pesadas…. Quem sabe elas não ganhariam mais auto-confiança e não começariam a gostar de verdade do próprio corpo. E quem sabe assim, mais pra frente, elas não se achariam bonitas naturalmente e não se valorizariam mais. Vaidosas,
sim, qual o problema? Mas sem precisar de loucuras como bronzeamento artificial, sem ligar tanto para um ou outro furinho de celulite.