Após trocas de sinal ao longo do dia, o dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 23, em queda de 0,05%, cotado a R$ 5,1540. Mais uma vez, as oscilações foram bem contidas, com variação de pouco menos de quatro centavos entre a mínima (R$ 5,1263), pela manhã, e a máxima (R$ 5,1603), à tarde. Na semana, o dólar acumula valorização de 1,02%.

No exterior, a moeda norte-americana ganhou força em relação ao euro e à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em meio ao avanço das taxas dos Treasuries. Leituras preliminares de índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) acima do esperado em maio nos EUA esfriaram parte das apostas em corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em setembro.

O real, que costuma apanhar mais em movimentos de fortalecimento global do dólar, nesta quinta se safou da maré negativa. Ajustes de posições e movimentos de realização de lucros deram suporte à moeda brasileira, que tem, contudo, desempenho inferior a de seus pares tanto no mês quanto no ano.

“Temos um ajuste hoje, mas o clima ainda é de tensão, o que mantém o dólar acima de R$ 5,15. A percepção é de que o risco fiscal está se ampliando, o que aumenta o prêmio de risco”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

Houve também um movimento de correção da alta de 0,77% ontem com diminuição dos ruídos sobre eventual mudança da meta de inflação Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, causou desconforto ao dizer em audiência no Congresso que a atual meta é “exigentíssima”.

Como ainda não foi publicado decreto regulamentado da meta contínua de inflação (3% ao ano), voltaram à baila temores de um BC mais leniente na gestão da política monetária a partir do ano que vem, quando o atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, será substituído por nome indicado pelo presidente Lula.

Fonte graúda da equipe econômica ouvida nesta quinta pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) afirmou que se o governo “quisesse alterar a meta de inflação, teria feito no ano passado”. Em junho, o Conselho Monetário Nacional precisará confirmar a meta de 2025 e 2026, além de fixar a de 2027, caso o decreto com a alteração do regime não seja publicado.

Em evento pela manhã, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, reforçou o compromisso com a busca pela meta de inflação. Ele ressaltou que, apesar das divergências no último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), os diretores concordaram que a política “deveria ser mais contracionista”.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, ressalta que o real tem um desempenho recente bem inferior a de seus pares, que apresentaram uma recuperação últimas semanas das perdas apresentadas em abril. A taxa de câmbio, diz Lima, já sofre o efeito de “questões idiossincráticas” do país.

“Não dá para culpar muito o ciclo de commodities ou dizer que o comportamento do dólar aqui é apenas reflexo de um fenômeno global. Há um aumento da percepção de risco local que mudou o nível da taxa de câmbio”, afirma Lima, citando a troca no comando da Petrobras, o dissenso na última reunião do Copom e aumento da preocupação com a questão fiscal.

Apesar dos problemas locais, o economista ainda prevê taxa de câmbio mais perto de R$ 5,00 no fim do ano, com eventual corte de juros pelo Fed no segundo semestre abrindo espaço para um desempenho melhor das divisas emergentes. “O risco idiossincrático está cada vez mais claro, mas os fundamentos ainda seguram a taxa de câmbio. Não vejo uma disparada do dólar, a não ser que haja alguma mudança abrupta do cenário”, afirma Lima.