Com mínima a R$ 5,4485 nos minutos finais de negócios, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 13, em queda de 0,85%, cotado a R$ 5,4495 – menor valor de fechamento desde 16 de julho (R$ 5,4294). Foi o sexto pregão seguido de baixa da moeda americana, que já acumula desvalorização de 3,64% em agosto. Do nível de R$ 5,7414 no fechamento do último dia 5 para cá, o dólar já caiu 5,08%.

Mais uma vez, a moeda brasileira apresentou o melhor desempenho entre seus pares latino-americanos. Divisas emergentes ganharam força após a leitura benigna da inflação americana no atacado chancelar a expectativa de início de um processo de redução de juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) a partir de setembro.

Com a safra mais recente de indicadores, temores de uma recessão nos EUA, que levaram a picos de aversão ao risco no início do mês, deram lugar à perspectiva de uma desaceleração gradual da atividade combinada com um processo de desinflação. Tal quadro pode ser confirmado pela divulgação, amanhã, da inflação ao consumidor nos EUA em julho.

“Os preços ao produtor nos EUA mostram um cenário desinflacionário e mais benigno, o que reforça a ideia de que o Banco Central americano possa começar a reduzir juros na próxima reunião, em setembro. Com isso, o dólar estende hoje as perdas das últimas sessões”, afirma a economista chefe Latin América da Coface, Patrícia Krause.

Em baixa desde o início dos negócios, o dólar à vista chegou a esboçar uma reação no início da tarde, quando reduziu bastante as perdas e chegou a se aproximar da estabilidade, diante das tensões geopolítica no Oriente Médio. Mas houve alívio logo em seguida com a notícia de que o Irã deve postergar um eventual ataque a Israel, em retaliação a morte de líder do grupo palestino Hamas em solo iraniano.

Operadores afirmam que fatores técnicos, como uma pausa no desmonte de operações de carry trade, em razão da estabilização do iene, ajudam a explicar o fôlego extra do real nos últimos dias. A moeda brasileira foi a que mais sofreu durante o rali da divisa japonesa. Há também a percepção de retirada de prêmios de risco associados à condução da política monetária e relatos de entrada de capital estrangeiro para a bolsa doméstica.

Em audiência hoje na Câmara dos Deputados, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltou que os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) estão alinhados na busca pelo centro da meta da inflação. Em alusão à fala recente do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, Campos Neto disse que houve declarações de “diretores apontados por esse governo” reiterando que, se for necessário, o BC vai elevar os juros.

O economista André Galhardo, consultor da Remessa Online, observa que, além da interrupção do desmonte de carry trade com divisas de países de juros altos, o comportamento recente do real reflete tom mais duro adotado pelo Banco Central, em especial do diretor de Política Monetária.

“Galípolo reiterou que as decisões do Copom serão técnicas, independentemente de quem estiver no comando da instituição. Com um Copom técnico e unido, Selic alta e desvalorização do iene, o real teve uma oportunidade significativa de recuperar”, afirma Galhardo, para quem as expectativas de inflação ainda altas, “com deterioração dos núcleos”, tendem a manter “a Selic elevada por pelo menos mais sete meses”.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que há alguns dias a curva de juros no Brasil está reduzindo sua inclinação, com as taxas longas caindo, enquanto os juros futuros curtos avançam. “Isso mostra a credibilidade do Banco Central, mostrando que se for necessário vai subir os juros”, afirma.