O à vista subiu pelo terceiro pregão consecutivo e voltou se aproximar de R$ 5,00 no mercado de câmbio doméstico, em dia marcado por tombo do petróleo e perdas da maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em especial latino-americanas, em relação à moeda americana. O real figurou no grupo das divisas com pior desempenho, ao lado do peso colombiano e do florim húngaro.

Segundo analistas, investidores seguem no processo de ajuste de posições cambiais diante da perspectiva de que o Federal Reserve comece a cortar os juros apenas em junho, como reforçado por declarações ontem à noite de dirigentes do BC americano. Há também receio em torno dos preços de commodities em razão de dúvidas sobre o fôlego da economia chinesa, dada a fraqueza do setor imobiliário. Preço médio de moradias na China caiu em ritmo mais forte em janeiro (na comparação anual) do que o visto em dezembro do ano passado.

Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar à vista esboçou correr até o nível psicológico de R$ 5,00 no fim da manhã, quando renovou máxima a R$ 4,9976. No fim do dia, a moeda avançava 0,81%, cotada a R$ 4,9930 – maior valor de fechamento desde o último dia 8 (R$ 4,9948). Com isso, a divisa terminou a semana com alta de 0,52%, o que levou a valorização em fevereiro a 1,33%. No ano, o dólar tem ganhos de 2,88%.

Houve boa liquidez no segmento futuro, o que sugere mudanças de posicionamento de investidores. Operadores afirmam que os fundos locais podem ter reduzido uma parcela de suas ainda expressivas posições “vendidas” em dólar (que ganham com a queda da moeda americana), o que pressionou a cotação no mercado spot.

O sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Monoli, chama a atenção para questões técnicas por trás do desempenho ruim do real neste início de ano. Ele lembra que os fundos locais viraram o ano com posições elevadas vendidas em dólar, na expectativa de uma nova rodada de apreciação do real neste primeiro trimestre com alívio monetário pelo Fed.

“Mas o Brasil segue desde o começo do ano com um vazio de fluxo, já que os volumes maiores de câmbio contratado da safra ainda não apareceram. Juntado isso com postergação do início do ciclo de cortes nos EUA e perspectiva de orçamento menor de redução neste ano, o comportamento do real fica comprometido”, afirma Monoli, para quem a entrada do fluxo proveniente da safra a partir de março pode amortizar as pressões sobre a moeda brasileira.

Na noite desta quinta, 22, o diretor do Fed Christopher Waller afirmou que indicadores recentes da economia dos reforçam a visão de que “não há pressa em começar a cortar os juros”. Ele disse que o BC americano vai considerar uma flexibilização da política monetária apenas quando houver sinais claros de que a economia estiver perto da recessão, algo que os indicadores correntes não sugere.

Para Monoli, da Azimut Brasil, o cenário-base ainda indica queda do dólar nos próximos meses. Para que haja uma mudança estrutural seria necessário que houvesse um abandono da expectativa de corte de juros pelo Fed neste ano – algo que, por ora, aparece de forma bem marginal nas apostas do mercado.

Ele alerta, contudo, que, apesar da tendência estrutural de queda, o dólar pode romper os R$ 5,00 no curto prazo, dada a ausência de fluxo relevante e a redução parcial de posições vendidas pelos fundos locais, que ainda são elevadas.

“Também existe um volume razoável de opções de dólar para a virada do mês com strike (preço de exercício) de R$ 5,00, o que amarra um pouco o mercado” diz o gestor. “Até lá, pode ser que ocorra o rompimento dos R$ 5,00 por efeito técnico, mas isso não significa que vai se sustentar acima disso”.